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LISSI BENDER

Descanso eterno em meio à floresta – Waldfriedhof

„Die Beschäftigung mit dem Tode ist die Wurzel der Kultur“ – “A preocupação com a morte é a raiz da cultura.”

De Friedrich Dürrenmatt, conhecido escritor e dramaturgo suíço, autor de obras famosas, como Der Besuch der alten Dame e Die Physiker.

A semana que ora finda marcou dois eventos significativos: 31 de outubro – Reformationstag – Dia da Reforma da Igreja, promovida a partir de constatações, estudos e ideias do teólogo Martin Luther; e, no início de novembro – Alleheiligen und Alleseelen – Dia de Todos os Santos e Finados. Entre as inúmeras contribuições de Luther, destaco a tradução da Bíblia. Lendo a Sagrada Escritura, encontrou nela um Deus bondoso, justo e misericordioso: “Gott ist Liebe”. Talvez, por isso, em alemão se fala “der liebe Gott” – o bom Deus. A Bíblia lhe apresentou Deus diferente daquele que a Igreja daquele tempo apresentava aos cristãos, a de um Deus severo, que castiga.

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Finados nos conduz ao lugar sagrado de nossos falecidos – ao Cemitério. O termo vem do Latim Coemeterium, do grego Koimeterion, lugar de repouso. Em alemão: Friedhof – Hof des Friedens – jardim da paz. O termo tem sua origem no antigo alemão (“Frithof”) e se referia ao espaço ao derredor da igreja. O cristianismo implantou as igrejas e, em seu entorno, o enterro de cristãos. Uma forma de última morada em proximidade com o Altíssimo. Ao longo do tempo, sedimentou-se uma mudança na denominação: “Frithof” passou a ser Friedhof.

Para os antigos povos germânicos, a floresta era templo sagrado. Em sua crença, as boas almas habitam árvores longevas. Em diversos contos populares antigos, a floresta é um espaço mágico. Florestas continuam muito presentes e valorizadas pelos alemães. Basta considerar que um terço de sua pequena área geográfica está coberta por florestas; por elas se pode caminhar, tomar um banho de floresta – Waldbaden. Mergulhar e sentir a energia que emana das árvores é terapia cultivada por lá.
Mais do que isso, na Alemanha existem “Waldfriedhof”’ – cemitério em meio à floresta. Eis uma alternativa ao cemitério clássico, como o conhecemos aqui, crescentemente com muros altos, nos quais os falecidos são literalmente emparedados, e chamamos a isso de lugar de paz eterna. Não seria, antes, paz enquanto o muro não desmorona?

Num Waldfriedhof, a paz eterna se dá junto a árvores, muitas vezes escolhidas pelas pessoas em vida – “Zu wissen, irgendwann einmal unter einer Eiche zu ruhen, erleichtert meine Seele” – “Saber que poderei, um dia, descansar sob um Carvalho é um alívio para minha alma” (depoimento de uma pessoa enquanto escolhia a árvore para seu descanso eterno num documentário a que assisti a esse respeito).

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Em minha recente estada em terra alemã, decidi conhecer de perto um Waldfriedhof. A visita despertou em mim o desejo de termos esta possibilidade em nosso meio – paz eterna em meio a árvores centenárias, ao farfalhar de suas folhas, aos aromas da natureza, ao canto de pássaros; enfim, morte cercada por vida. Nessa modalidade se pode escolher a árvore em cujas raízes as cinzas, em urna biodegradável, podem ser enterradas. Ou em área de clareira florestal, onde o corpo pode ser enterrado diretamente na terra. O que vocês pensam a esse respeito?

Observação: a tradução da frase que aparece na foto acima, que tirei em minha visita ao cemitério florestal na Alemanha: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele”. Johannes/João 4.16

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