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Desafios pós-Covid

Apesar de estarmos distantes da resolução da atual pandemia no Hemisfério Sul, que acontecerá daqui a alguns meses, já ficou claro que a vida não será mais a mesma. Sem imunidade de rebanho adquirida pela população mais jovem e sem fatores de risco, as restrições devem ser mantidas ou até aumentadas com a chegada do outono/inverno, se a gestão pública for coerente com as medidas precoces já tomadas no RS e SCS.

Os impactos econômicos serão bruscos na renda e emprego dos trabalhadores autônomos, formais e informais. Por mais que os governos auxiliem, sendo que o dinheiro do governo vem da arrecadação, muitas pessoas devem ficar desassistidas. Com o fortalecimento das atividades digitais, bancários, vendedores, representantes, professores e tantas outras profissões poderão ter cortes intensos nos seus quadros, para sempre. Qualquer curso superior sem atividade prática tem pouca justificativa de se manter presencial, como veremos no atendimento bancário. Com e-commerce, lojas físicas serão cada vez mais diminutas ou desaparecerão, assim como agências bancárias. É um desafio pensar o que farão essas pessoas.

Na educação de crianças não houve treinamento prévio nem experiência por parte dos professores, pais e alunos para lidar com ensino em casa, gerando insegurança em todos envolvidos. Sem previsão de retorno, a cada semana que passa, o déficit no aprendizado poderá afetar o ano escolar. Todos os cursos superiores que exigem atividades práticas poderão ser comprometidos, com formaturas canceladas e atrasos na formação de profissionais essenciais, como os da saúde, com seus respectivos prejuízos financeiros.

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A melhora da qualidade do ar e a redução das mortes de acidentes de trânsito podem indicar que é melhor evitar o ir e vir desnecessário. Reuniões presenciais, algumas consultas médicas e atividades laborais podem facilmente ser substituídos por webmeeting, telemedicina e home office. Perdemos tempo demais nos deslocando para coisas que podemos fazer de casa. Porém, para tal, devemos desenvolver habilidades e ambientes específicos para tais finalidades.

O aumento da violência doméstica mostra que lidar com o isolamento não é tarefa fácil. Principalmente para comunidades mais pobres sem infraestrutura básica para viver com dignidade. Muito cômodo recomendar isolamento quando não se enfrenta condições subumanas de moradia e excesso de gente. Se não investirmos em infraestrutura básica e habitações salubres, em breve teremos outros desastres.

Como médico psiquiatra, minha principal preocupação é com saúde mental. Minhas críticas às medidas tomadas advêm do pensamento simplista e linear de dissociar saúde e economia. Economia é saúde. Sem dinheiro não há saúde. E com a derrocada da economia local, poderá haver aumento de mortes por depressão, violência e suicídio, com piora expressiva nos casos de TOC, TEPT, fobias e pânico. Torço para estar errado, mas em todas as tragédias anteriores (provocadas ou não) foi assim. Infelizmente.

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