Meu pai, Gilberto Delmar Jasper, elegeu-se vereador de Arroio do Meio, pequeno município encravado no Vale do Taquari, em 1968. As diferenças do jeito de fazer campanha eleitoral, desde então, são oceânicas. Uma coisa, porém, não mudou: a importância da empatia na hora da abordagem, no momento de pedir o voto cara a cara com o eleitor, o trato pessoal.
Os comícios foram extintos. Cá entre nós: antes da mudança, o que menos importava nessas concentrações políticas eram os discursos dos pretendentes à Câmara Municipal e para a Prefeitura. A participação de artistas e cantores – principalmente duplas sertanejas – era primordial
para chamar público.
Hoje se vislumbra uma campanha eleitoral asséptica, sem cartazes nos tapumes, cavaletes nos canteiros, bonecos gigantes, bonés ou camisetas. Passouse de um extremo – da ostentação do poder econômico – para outro, do pleito “secreto”, onde todos os dias somos surpreendidos com a notícia de que fulano ou beltrano concorrem.
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Os candidatos a vereadores que não detêm mandato enfrentam enormes dificuldades. Sair do anonimato e romper a barreira da desilusão com a política com pouco dinheiro é um desafio à criatividade. Ser anônimo com pretensões eleitorais requer a mobilização de amigos e familiares para participarem apenas com “amor à camiseta”.
Evaporaram os recursos para a contratação de cabos eleitorais, locação de veículos e imóveis para comitês e até para a compra de material básico (papel, caneta, computadores, impressoras, celulares, etc.). Jantares e encontros “adesão” (isto é, compra de convites que exigem nome e CPF) desafiam a criatividade para convencer simpatizantes de que se trata de algo legal.
A Operação Lava Jato levou pânico a potenciais colaboradores, mesmo os legais, diante da contaminação geral de doações fraudulentas que a Polícia Federal desnuda a cada semana.
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Nos idos de 1968, quando meu falecido pai concorreu, as visitas domiciliares eram fundamentais, como são até hoje. O olho no olho é decisivo na hora de pedir o voto. Panfletos coloridos, bolados por brilhantes marqueteiros, são raras publicações em reduzidas tiragens para evitar desperdício.
Custo a acreditar que as regras atuais se mantenham na eleição para deputados estaduais, federais e senadores, além de Presidente da República daqui a dois anos. A maioria dos parlamentares detentores de mandato têm interesse na reeleição. E serão eles que poderão alterar as regras. Talvez, novamente, se passe de um extremo ao outro.
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