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“Deriva” é o novo romance da patrona da 33° Feira do Livro de Santa Cruz

Dentro de um mês, a consagrada escritora porto-alegrense Letícia Wierzchowski estará em Santa Cruz do Sul, na condição de patrona da 33° Feira do Livro, nessa edição de retomada do evento, após a não realização durante a pandemia. Entre os dias 1° e 7 de setembro, leitores e autores voltam a interagir, tendo os livros como motivador central, na Praça Getúlio Vargas. Mas quem quiser entrar no clima dessa festa das letras e já preparar ânimo e emoção para recepcionar a patrona conta com um bom estímulo. É Deriva, o novo romance de Letícia, que chega às livrarias brasileiras neste início de agosto, sob o selo da Planeta.

Deriva, de Letícia Wierzchowski. São Paulo: Planeta, 2022. 288 páginas. R$ 56,90.

Deriva é editado exatos 20 anos depois do lançamento do livro mais conhecido da autora, e de maior vendagem, A casa das sete mulheres, adaptado para a TV pela Rede Globo em uma minissérie que fez enorme sucesso em 2003, reexibida em 2006. Essa circunstância projetou o nome da autora em todo o País, chamando ampla atenção também para o restante da produção ficcional dela. Ela estreara com O anjo e o resto de nós, em 1998. E na sequência ao livro mais célebre, conformou uma literatura que foi se fortalecendo mais e mais, com romances como Cristal polonês, Um farol no Pampa, Uma ponte para Terebin, Os aparados e Os Getka, entre outros.

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Agora, aos 50 anos, lança mão de uma narrativa marcada pela poesia, em uma homenagem que promove à poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen. Mais do que esse intertexto, há uma relação com o romance Sal, de 2013, uma vez que revisita o universo ficcional daquela obra.

Em Deriva, o cenário é uma pequena ilha fictícia, La Duiva, que a autora situa no litoral do Uruguai. Ela será palco de paixões arrebatadoras. A pacata rotina do lugar muda com a aparição, algo fantástica, de Coral, uma mulher misteriosa que surge das ondas em uma noite de lua cheia. Em linguagem repleta de poesia, o surgimento é assim anunciado: “Santiago viu as pedras pontiagudas do molhe, o azul, o sopro morno do sol que o secava e aquecia a ilha inteira, e então quase pôde vê-la… Quase. Era como se a intuísse. Ela saindo das ondas soprada por alguma força invisível, materializada em plena tarde como uma flor que subitamente desabrocha.”

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O Santiago em questão é um menino de 6 anos, da família Godoy, que vive há mais de dois séculos na ilha e em torno da qual o enredo se concentra. Coral inspirará paixões intensas em dois personagens do clã, Tiberius, o pai de Santiago, e o jovem Tomás. No cerne de toda a história, o amor que arrebata, um amor que mexe com famílias, amizades e, por vezes, com uma aldeia ou uma ilha inteira.

Na produção, composta por mais de três dezenas de romances, Deriva promete ser o mais novo sucesso de vendagem, e certamente não será diferente na 33ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, na qual deve merecer muitos autógrafos. A obra de Letícia atualmente está traduzida em vários países, entre eles Itália, Grécia, Espanha, Croácia, França e Alemanha. Além da adaptação de A casa das sete mulheres para a TV, a autora colaborou com o escritor e cineasta Tabajara Ruas no roteiro elaborado a partir de O Continente, de Erico Verissimo, que originou o filme e a minissérie O tempo e o vento, sob direção de Jayme Monjardim.

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No esforço de divulgação do novo romance, em Porto Alegre, Letícia vai receber os leitores da capital para uma sessão de autógrafos na próxima quarta-feira, 10, a partir das 19 horas, na Livraria Taverna. Já no próximo sábado, 13, lerá trechos do livro em público, ao lado do ator Murilo Rosa, no Festival de Cinema de Gramado, atividade que também será seguida de sessão de autógrafos no Hotel Vita Boulevard, às 17 horas. Já na Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, que adota o slogan “Como é grande o meu amor pela leitura”, Letícia estará presente nos dias 1º e 2, prestigiando a abertura e ainda se encontrando com estudantes na praça. Para o público, claro, as datas já devem ser reservadas na agenda.

Entrevista – Letícia Wierzchowski, escritora e patrona da 33ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul

  • Gazeta do Sul Chega às livrarias, neste início de agosto, seu novo romance, Deriva. Como a senhora situa essa obra em relação a suas narrativas anteriores? Ela chega a agregar novidades inclusive em termos de proposta autoral?
    Letícia Wierzchowski Deriva tem um link forte com meu romance Sal, de 2013. Eles dialogam fortemente, pois volto à ilha ficcional de La Duiva (que criei em Sal) para contar uma nova história envolvendo os personagens que apresentei naquele livro. Não é uma continuação, são livros independentes, mas existe um universo inteiro que os une. Sou uma narradora por excelência. Penso menos em formato e mais na narrativa, na história que quero levar aos leitores. Deriva fala de paixões, mas costura todo um universo de invenção a partir de alicerces reais – a poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, o Uruguai.
  • Esse romance tem sido apresentado como um texto que explora as nuanças do realismo fantástico, uma das vertentes da literatura sul-americana. É uma espécie de homenagem a algum autor ou autora, ou experiência pessoal de escrita?
    Não é homenagem a nenhum autor de realismo fantástico, mas à poeta Sophia, uma das grandes vozes femininas que escreveu em língua portuguesa. Há o toque do fantástico no romance, também porque brinco muito com os mitos gregos, e toda a mitologia se costura de situações fantásticas. É um livro sobre as paixões arrebatadoras – e uma paixão pode ser quase revolucionária, transformando vidas. É também um romance de delicadezas, imagético – o que cada um de nós vê? Qual o limite entre o real e o imaginado? Ao cortejar a fábula, também toco no mágico, no divino… Mas, como escreveu a própria Sophia, “como o mar dentro de um búzio, o divino sussurra no universo”.
  • Entre as referências a que o novo livro alude está a poesia de Sophia de Mello. Como é sua relação pessoal, de leitora e de escritora, com a poesia, e o que motiva a associação com Sophia neste livro?
    Bem, eu tenho alguns poetas que me iluminam – antes de começar a escrever minha ficção, tenho o hábito de ler um ou dois poemas, como uma porta que me leva do cotidiano ao místico, ao belo, ao além. A Sophia é uma dessas poetas – uma mulher admirável, dona de profundo talento, cuja história, forte, corajosa, me encantou. Acho incrível, ou melhor, acho triste que sua obra seja tão pouco conhecida aqui no Brasil. Assim como Sal, Deriva nasce um pouco das imagens poéticas de Sophia.
  • O que o realismo fantástico permitiu agregar, em termos de recursos ou elementos? E por que lançar mão dele neste momento histórico?
    Eu não estou nem aí para rótulos ou momentos históricos – eu nem mesmo penso que meu livro corteja o realismo fantástico. Coisas curiosas acontecem na Ilha de La Duiva depois da chegada de uma personagem, Coral. Talvez ela seja uma sereia. Mas as sereias, as nereidas, os deuses assolados por humanos desejos, tudo isso nos acompanha desde muitos séculos. Eu contei a história que me habitava, apenas isso. A poesia de Sophia é cheia de deuses que caminham por praias desertas ao cair da tarde. Enfim, apresento aos meus leitores um romance. Em A casa das sete mulheres, havia um fantasma. Em Deriva, temos Coral, ela transforma um pouco o lugar e as gentes do livro quando ela entra na história.
  • A história de Deriva está ambientada em uma ilha fictícia no litoral do Uruguai. O que a conduz a esse ambiente? E em que medida esse ambiente permite dialogar, por sua vez, com Sophia de Mello e Portugal?
    Sophia fala dos mares, dos navegadores, dos homens que cruzaram oceanos em busca de novos mundos. O avô de Sophia foi um navegador, seu mausoléu teve a forma de um barco.
    O Uruguai é um país pequeno com uma larga costa, campeã de naufrágios através dos séculos, cheia de faróis e perigos que podem causar grandes tragédias a navegantes menos experientes, desavisados. Esta é a costura entre os dois universos – o mar e seus mistérios, seus perigos e belezas. O mar como caminho, como salvação e como túmulo também. E a família da minha história é de gentes do mar, antigos navegadores que cuidam de um farol e fazem salvamentos marítimos.
  • Como está o processo de lançamento do novo livro dois anos depois de Estrelas fritas com açúcar, e do distanciamento motivado pela pandemia? E a senhora também está em vias de vir a Santa Cruz do Sul, na condição de patrona da Feira do Livro…
    Está sendo como sempre tinha sido antes do distanciamento social – uma alegria. Escrever é um processo longo e solitário – quando o livro fica pronto, quando chega aos leitores, ele passa realmente a existir, pois um livro sem leitores não é, não se realiza. Estar de novo com os leitores é uma festa. A falar sobre histórias pessoalmente. Eu gosto de gente, gosto de olhar no olho, de conversar. Depois dos dois anos que vivemos, isso ganha um verniz ainda mais especial.

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