Eleito em primeiro turno com 302 votos, o deputado do PP de Alagoas, Arthur Lira, é o novo presidente da Câmara dos Deputados pelos próximos dois anos. Ele foi escolhido para o lugar de Rodrigo Maia (DEMRJ) em votação na noite da última segunda-feira.
A eleição do parlamentar, que representa o chamado “Centrão”, foi considerada uma vitória do governo do presidente Jair Bolsonaro, atualmente sem partido. Lira é bacharel em Direito, empresário e agropecuarista. Tem 51 anos e está em seu terceiro mandato como deputado federal.
Apoiado por 11 partidos (PSL, PP, PSD, PL, Republicanos, Podemos, PTB, Patriota, PSC, Pros e Avante), ele venceu seu principal opositor no pleito, o candidato Baleia Rossi, do MDB-SP, que recebeu apoio de deputados de oposição ao governo federal, somando 145 votos.
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Concorreram ainda Fábio Ramalho, do MDB-MG, que obteve 21 votos; Luiza Erundina, do Psol, com 16 votos; o gaúcho Marcel Van Hattem, do Novo, que recebeu 13 votos; André Janones, do Avante-MG, com três votos; Kim Kataguiri, DEM-SP, com dois votos; e General Peternelli, do PSL-SP, que obteve um voto. A eleição ocorreu de forma presencial e sigilosa, sem a divulgação das preferências de cada parlamentar.
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COMO VOTARAM
Covid impediu Schuch de participar da sessão
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O deputado do PSB, Heitor Schuch, lamentou que a votação para presidente da Câmara dos Deputados tenha sido de forma presencial, diferente de todas as votações de 2020, que puderam ser realizadas pela internet. Recuperando-se da Covid-19 em Santa Cruz do Sul, onde reside, Schuch afirmou que, caso pudesse votar, respeitaria a decisão de seu partido de apoiar o candidato da oposição, Baleia Rossi, do MDB.
Para o parlamentar, a eleição de um deputado aliado aos interesses do governo federal era algo esperado. “Para mim não foi nenhuma surpresa. Quando você tem um candidato com apoio do governo, é um dos líderes do ‘Centrão’ e comunga com o governo, é muito mais fácil. O Planalto é um aliado importantíssimo.”
O deputado não acredita que a eleição de Lira possa resultar em agilidade nas votações da Câmara em projetos que melhorem a vida da população brasileira. Ao invés disso, questões ideológicas, como o armamento da população e a proibição ao aborto, devem ganhar evidência.
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“O que o governo queria fazer de mudança ele já fez com a reforma da Previdência, atrasando as aposentadorias, fazendo com que as pessoas trabalhem mais tempo e recebam um valor menor. Agora vão as pautas dos costumes que o governo quer votar, que o governo tem uma certa cisma quanto a isso.” Para Schuch, a atuação do novo presidente da Câmara pode deixar de lado temas mais importantes, como a discussão da reforma tributária.
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Moraes: “É uma candidatura distante da esquerda”
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Para o deputado do PTB, Marcelo Moraes, o apoio da bancada de seu partido a Arthur Lira ocorreu pelo distanciamento do parlamentar de políticos de esquerda. Ele considera que a oposição ao presidente Jair Bolsonaro atrapalha o avanço do governo com a falta de agilidade nas votações da Casa.
“Acredito que teremos neste ano uma agenda muito ligada às reformas e também ao enfrentamento da Covid, não só na questão sanitária, mas na socioeconômica. E nós entendemos que a candidatura do Lira é que poderia oportunizar mais eficácia no trabalho da Câmara.” Entre as primeiras proposições que deverão ir à pauta, o parlamentar prevê que esteja a votação do orçamento para 2021, que deveria ter ocorrido em dezembro do ano passado.
Moraes ressalta que ainda falta eleger os representantes da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, responsável pela direção dos trabalhos. O PTB pode ganhar um representante, e o nome do deputado do Vale do Rio Pardo não está descartado. Em seu primeiro ato como presidente da Câmara, logo após a eleição, Arthur Lira determinou a suspensão da votação da Mesa Diretora, que estava marcada para as 19 horas dessa terça-feira, 2, e passou para as 10 horas da manhã desta quarta, 3.
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Em reunião na segunda-feira, os blocos concorrentes acertaram a divisão dos nove cargos de direção – quatro secretários e quatro suplentes, além do vice-presidente. Cinco dos cargos ficariam com o bloco vencedor de Lira, enquanto outros quatro iriam para o bloco de oposição, encabeçado por Baleia Rossi, composto por PT, MDB, PSDB, PSB, PDT, Solidariedade, PCdoB, Cidadania, PV e Rede.
Porém, o prazo para a inscrição dos parlamentares indicados para a Mesa Diretora da Câmara foi encerrado ao meio-dia, e a documentação por parte do PT teria sido entregue apenas às 12h06, gerando um impasse. O ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aceitou a inclusão do bloco de oposição, mas Lira anulou a decisão e os votos para a Mesa Diretora não foram lidos no plenário, como normalmente ocorre após a eleição do novo presidente.
Réu no Supremo Tribunal Federal
Assim como o agora ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), acusado pela Polícia Federal pelo crime de corrupção e lavagem de dinheiro em 2017, Arthur Lira (PP) inicia sua presidência envolto em polêmicas. O deputado é réu em duas ações no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a Procuradoria-Geral da República, Lira recebeu R$ 106 mil em propina do então presidente da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), Francisco Colombo, em 2012. Na época, um assessor de Lira foi preso no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tentando embarcar para Brasília com o dinheiro escondido nas roupas.
Em outra ação no STF, Arthur Lira é acusado de participar do esquema conhecido como “quadrilhão do PP”, responsável pelo desvio de mais de R$ 29 bilhões da Petrobras entre 2006 e 2015. Já como deputado estadual de Alagoas, Lira foi acusado de chefiar um esquema de “rachadinha”, retendo parte dos salários de funcionários de deputados ou pessoas indicadas pelos parlamentares. Segundo a acusação, entre 2001 e 2007, ele movimentou R$ 9,5 milhões em sua conta bancária.
Lira ainda acumula uma acusação de violência doméstica contra sua ex-esposa, com quem conviveu por dez anos. Atualmente, o presidente da Câmara dos Deputados recorre de uma condenação da Justiça de Alagoas, que o considerou culpado de retirar R$ 43 mil dos cofres públicos. O dinheiro teria sido destinado para a compra de um automóvel para a filha de um colega de Assembleia Legislativa.
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