Pode parecer jurássico, mas fico impressionado com a quantidade de pessoas que está ocupada com seus telefones celulares. Também me surpreendo com o abandono da privacidade alheia, aliás, tornada pública em detalhes e altas vozes.
Quanto assunto pendente, quanta urgência, quanta novidade para contar. O que pode ser tão importante que demande estardalhaço em público, ou que não possa esperar pelo ambiente pessoal e reservado?
Para refutar minhas suposições sociológicas, “espicho” os ouvidos para encontrar nas conversas alheias uma razão principal e urgente. Em vão. Regra geral, se confirmam a futilidade, a irrelevância e a inconsequência.
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Porém, compreensível, ouso afirmar. Parece reinar uma carência de ser lembrado, de conversar, ainda que à toa, e de ser ouvido. Ser amado, provavelmente.
Mais: como se fosse para dar vazão e razão a alguma controvérsia íntima, inadiável, um sentimento retraído. Acerca da própria existência, talvez, desconfiado de que a vida é sem sentido.
E nem falamos das redes sociais, eficazes no autoescancaramento da privacidade por meio de fotos e vídeos, recheados de hábitos íntimos e relacionamentos pessoais.
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Mas se cotidiano e generalizado, praticado e aceito com naturalidade e sem arrependimentos, sobretudo entre os jovens, qual é a razão dessas observações?
Ocorre que há uma demasiada descaracterização da essência do relacionamento interpessoal, um esvaziamento de valiosos sentidos humanos.
A propósito, vale recordar uma manifestação famosa, creio que em 2009, na Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos). O então presidente do Google, Eric Schmidt, na ocasião palestrante, disse aos graduandos:
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– Que as pessoas de sua geração passavam a vida tentando esconder seus momentos embaraçosos, enquanto que a geração atual grava e publica esses momentos no YouTube. Disse mais:
– Desliguem os seus computadores. Vocês precisam mesmo desligar seus telefones e descobrir tudo que há de humano à sua volta.
Em resumo, parece que a sugestão do senhor Eric perdeu-se ao vento. Ou ainda haverá tempo para recriarmos as relações humanas, de modo que sejam mais reais e menos virtuais?
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