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Demarcação do Cinturão Verde representou marco para o ecossistema

Neste domingo, às 10 horas, o Parque da Gruta será palco de um ato reflexivo sobre a proteção do Cinturão Verde de Santa Cruz do Sul. Em 1994, na mesma data, foi regulamentado o decreto da demarcação do manto verde, assinado pelo então prefeito Edmar Hermany. Durante a atividade, a prefeita Helena Hermany e o ecologista José Alberto Wenzel, coordenador do Movimento pelo Cinturão Verde, vão apresentar uma carta convocatória.

Nela, convidam a comunidade santa-cruzense a se dedicar à recuperação e preservação do corredor ecológico. “Assim, quando nossos filhos e netos nos questionarem sobre o tempo atual, poderemos responder que, zelando pela casa comum a todos nós, atendemos ao convite para um futuro promissor”, consta no documento.

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A mobilização se justifica. Mesmo após a delimitação, o Cinturão tem passado por intervenções humanas nas últimas três décadas. Elas geram um impacto não apenas para a biodiversidade que habita a área, mas para a população do município.

Na análise de Wenzel, o grande legado da demarcação foi manter o que ainda resta do ecossistema. “Não fosse ela, não restaria mais Cinturão Verde. Assim, ao menos, ainda temos frações importantes que podem ser preservadas. E eu credito isso à demarcação e ao zelo dos proprietários”, afirma.

Delimitação foi planejada na década de 1970

A história da delimitação começa 17 anos antes do então prefeito, Edmar Hermany, assinar o decreto de regulamentação. Em 1977, com a apresentação da Lei de Loteamento, foram anunciadas as normas determinantes para intervenção e preservação do Cinturão Verde. Ela viria a ser efetivada pela demarcação anos depois.  

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Na década de 1990, o Brasil vivia um contexto favorável à preservação ecológica. A ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, contribuiu no amadurecimento acerca do cuidado com a natureza. Assim, em 26 de maio de 1994, o prefeito Hermany assinou a lei que considera o Cinturão Verde uma área de interesse ambiental. 

Foram implantados 145 marcos de concreto em uma área de 463,786 hectares. O primeiro foi colocado no Bairro Renascença, junto à RSC-287. Os trabalhos foram concluídos no início de 1995. A delimitação física incluiu a cadeia de morros e florestas. Também foram incorporadas áreas de interesse paisagístico que, segundo o documento, são consideradas necessárias para o equilíbrio ecológico e a convivência entre a natureza e a intervenção humana. 

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A demarcação, de acordo com Wenzel, foi um marco. E serviu de ponto de partida para as alterações nos planos diretores que se sucederam.

Expansão urbana estrangula a natureza

Corredor ecológico contribui para a redução da poluição ambiental e sonora, além de influenciar no equilíbrio climático | Foto: Alencar da Rosa

Mesmo após a demarcação, o Cinturão Verde e seu entorno sofreram uma pressão urbanizadora nos anos seguintes. Ela iniciou-se a leste e seguiu em direção ao manto, abrangendo todo o seu contorno e, posteriormente, dentro.

Segundo Wenzel, esse processo resultou no estrangulamento do corredor ecológico, fragmentando e descontinuando seu ecossistema. “Está tudo fracionado. Como é que a fauna e a flora vão se locomover aqui? Aqueles que voam têm mais facilidade, mas os que precisam do solo e da estrutura arbórea vão ter uma dificuldade enorme”, explica.

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Além disso, a intervenção urbana no Cinturão Verde acentuou o risco de alagamentos e deslizamentos de terra no município. “No momento em que fracionamos e pavimentamos os terrenos, estamos impermeabilizando”, frisa o ecologista. 

E ao se comprometer a capacidade de absorção de água pelo solo no manto verde, as enxurradas acabam afetando a Várzea. Além disso, estudos feitos desde a década de 1970 revelam que a ausência de vegetação também facilita o desequilíbrio do Cinturão.

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Isso porque, segundo Wenzel, o corredor ecológico está em uma zona de fragilidade geotécnica. Nela percorrem fraturas e falhas geológicas, suscetíveis a deslizamentos. Ele cita como exemplo a situação vivida pelos moradores dos bairros Belvedere e Margarida. “É um equilíbrio frágil que não pode ser rompido. No momento em que se desfloresta e se promovem as intervenções, puxa-se o tapete do Cinturão. Isso facilita a saturação de água, podendo provocar deslizamentos e outros problemas”, ressalta.

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Diante desse cenário, Wenzel enfatiza a necessidade de preservar o corredor ecológico. “O que está acontecendo neste momento é um alerta da natureza. E ninguém quer que essa desgraça continue ou volte a acontecer”, observa.

Movimento sugere mudanças no Plano Diretor

No dia 19 de janeiro, o município lançou o Movimento pelo Cinturão Verde, com o intuito de preservar e recuperar o ecossistema. Coordenada por Wenzel, a ação mobiliza equipes técnicas de diversas pastas para elaborar atividades e estudos, identificando impactos ambientais e buscando soluções.

Em seu primeiro mês, o movimento reuniu diferentes setores da sociedade – educacional, industrial, empresarial e imobiliário, por exemplo – para escutar as demandas e propor atividades. Segundo o ambientalista, a necessidade de preservação foi unânime. 

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A partir dos encontros, iniciou-se o levantamento de informações para a criação do banco de dados. Feito o diagnóstico, diferentes propostas começam a ser trabalhadas.

O Movimento defende, por exemplo, a compensação aos proprietários e o estudo de uma zona fiscal diferenciada para os lotes dentro do corredor ecológico. “É uma medida com a qual todos concordam. Precisamos valorizar os proprietários que preservam em suas áreas. Porque eles beneficiam todo mundo. E quanto mais preservado, mais valor o imóvel tem”, salienta Wenzel.

Outra providência sugerida são mudanças no Plano Diretor de Santa Cruz. Na avaliação do coordenador do Movimento, o mecanismo que rege a urbanização e controla e aprova empreendimentos dentro do Cinturão precisa estar de acordo com o contexto ambiental atual. “Não podemos culpar aqueles que compraram e licenciaram os terrenos, porque eles seguiram o Plano Diretor. O momento é agora, não podemos perder esta oportunidade.”

Benefício para todos

Para além da paisagem, o Cinturão Verde oferece uma série de privilégios à população de Santa Cruz. A influência positiva no clima é um deles. Sua vegetação contribui para o equilíbrio da temperatura, especialmente durante o verão e o inverno. Além disso, tem um papel fundamental no combate à poluição atmosférica, ao purificar ar poluído e substituí-lo por oxigênio. 

Ecologista José Alberto Wenzel coordena o Movimento pelo Cinturão

Estudos também apontam que o corredor ecológico absorve ruídos emitidos na cidade, reduzindo a poluição sonora. O coordenador do Movimento destacou ainda que o espaço contribui para a saúde mental e o bem-estar da população.

Diante desses benefícios, José Wenzel enfatiza a necessidade de a população ajudar na preservação do manto verde. “Precisamos nos unir nessa causa. Chega de apontar dedos e buscar culpados. Todo mundo ganha com o Cinturão intacto”, conclui.

Biodiversidade imponente

Por mais de quatro décadas, estudos demonstraram o quão significativa é a biodiversidade presente no Cinturão Verde. Esses levantamentos foram essenciais para os planejamentos municipais.

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Nas palavras do biólogo Jair Putzke, um dos estudiosos do corredor ecológico, trata-se de um ambiente “super biodiverso”. É também uma fonte de alimento e área de reprodução para a fauna e a flora.
Em termos de espécies vegetais, dados reunidos em uma década demonstraram a importância do manto verde, com a ocorrência de uma diversidade significativa. As pesquisas também revelaram a grandeza da fauna. Há espécies raras de animais refugiados no ambiente.

Conforme Wenzel, foram analisadas pelo menos 290 espécies de vertebrados – incluindo peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Um deles é o veado-bororó-do-sul, considerado em estado crítico de extinção. Já o número de insetos é de aproximadamente 1,5 mil.

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Julian Kober

É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.

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