Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

OBJETIVA MENTE

Demandas reprimidas

Inegavelmente o medo está no ar. Do final de março para cá, nada ficou como era antes. E isso inclui a assistência em saúde de Santa Cruz do Sul, tanto pública quanto privada. Seja por decreto, medo ou falta de profissionais, as inúmeras outras demandas em saúde, além da Covid-19, continuam existindo.

Pelo decreto municipal 10.565 artigo 35 item III, foram suspensas consultas eletivas nas unidades básicas de saúde. Além disso, foram fechados postos de saúde, suspensão de cirurgias eletivas nos hospitais, cancelamentos de consultas médicas não emergenciais em geral, mudanças nas rotinas da pediatria e obstetrícia, além de contingenciamento de exames clínicos que incluem diagnóstico de várias doenças.

Neste texto vou me ater às questões relacionadas a saúde mental, que acompanho de forma mais próxima. Nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) também houve a orientação de cancelar consultas não emergenciais. Mesmo em cidades que não tiveram estas medidas restritivas, ocorreu uma redução expressiva na busca por atendimentos em psiquiatria. Medo de sair de casa, dificuldades de deslocamento, restrição financeira e redução no número de profissionais por pertencerem a grupo de risco para Covid estão entre as causas mais prováveis para tal situação.

Publicidade

A questão principal é que há uma demanda reprimida enorme que em breve chegará para atendimento em todas as áreas da medicina. Mas é na saúde mental que paira uma ideia de “tempestade perfeita”, levando a um aumento expressivo de depressão, alcoolismo e ansiedade, bem como nos índices de suicídio. Não é segredo que nossa cidade e região têm números muito acima da média nacional.

Há então a recomendação que se faça investimentos nesta área para dar conta deste cenário. No início de abril foram publicadas no Jornal da Associação Médica Americana algumas estratégias que poderiam ser implementadas. Designar para cada paciente um nível de gravidade (usando cores, por exemplo); e, para os mais graves, que haja uma monitorização mais ativa, com programas específicos que englobam várias abordagens biopsicossociais. Melhorias e ampliação dos CAPS, com investimentos em estrutura e equipamentos. Reforço de políticas que garantam educação, moradia, assistência social e atividades ocupacionais para portadores de transtornos mentais graves.

De nada adiantarão esses investimentos sem o mais importante: equipes multiprofissionais treinadas e em número adequado para dar conta de uma demanda crescente. Com redução ou não aumento de profissionais, tende a haver sobrecarga e adoecimento destes trabalhadores, resultando em desassistência para população.

Publicidade

Neste ano em Santa Cruz do Sul morreram até agora 349 pessoas, segundo dados oficiais do Registro Civil. Talvez um por Covid. Talvez. Porém, já tivemos 10 óbitos por suicídio. Isso mostra que os quase R$ 17 milhões recebidos por Santa Cruz do Sul devem ser usados para toda saúde e não para uma única doença. De preferência em estruturas definitivas e não de campanha.

LEIA COLUNAS ANTERIORES DE VINÍCIUS MORAES

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.