Fora de Pauta

Dejair Machado: “Quando será a próxima?”

Até a semana passada, a enchente de 1941 era tida como um marco histórico e trágico para o Rio Grande do Sul. No curso dos anos, outros episódios provocaram consequências por vezes devastadoras. Em setembro, cidades inteiras foram dizimadas pelas enchentes no Vale do Taquari. Agora, as famílias e comerciantes de Sinimbu pediram socorro ao ver a água invadindo tudo e arrastando histórias. Em Rio Pardinho, a paisagem verde e os casarões dos tempos dos primeiros imigrantes ficaram submersos. O Bairro Várzea, sempre ele, viu a água atingir marcas sem precedentes. Vera Cruz, Candelária, Vale do Sol, Venâncio Aires, Pantano Grande, Encruzilhada do Sul, Sobradinho e outras tantas cidades passaram por situações semelhantes.

Porto Alegre vive dias de caos com a água do Guaíba avançando para locais inimagináveis. O aeroporto Salgado Filho segue fechado, começou a faltar comida nas prateleiras e o combustível teve a venda controlada. O asfalto de algumas das principais rodovias gaúchas virou lembrança e sabe-se lá quando voltará a ser como antes. Se é que isso vai acontecer!

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Entre 1941 e 2024 são 83 anos de diferença. Quantas gerações se passaram desde então? Mas o que torna estes episódios tão diferentes?

Naquele ano, eram 3,3 milhões de gaúchos. Hoje, são cerca de 11 milhões, segundo o IBGE. As cidades que conhecemos agora nem de perto eram como são. Vamos tentar imaginar como seria Santa Cruz naquela época, ainda com o Cinturão Verde inteiro? O asfalto que impermeabiliza ruas e quase derrete no verão era um sonho, sinônimo de progresso. Havia menos casas e prédios, menos lixo, menos gente, menos poluição… Os grandes impérios mundiais estavam se consolidando.

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Evoluímos, não restam dúvidas. Mas qual o preço dessa evolução? Não faltaram alertas quanto à importância de se pensar e adotar efetivamente medidas de caráter ambiental. Especialistas no assunto foram tachados de ecochatos – e biodesagradáveis – ao falar da necessidade de investimentos públicos e privados. Recursos foram aplicados, mas em proporções infinitamente menores. Preferiu-se correr o risco e as consequências vieram. A conta será paga pelas próximas gerações.

As mudanças climáticas, antes questionadas e até ironizadas, agora mostram que não eram apenas fruto de divagações acadêmicas. São situações que vão continuar se repetindo e com uma frequência cada vez maior, ceifando vidas e agravando crises econômicas, sociais e sanitárias. A pergunta que fica é quando será a próxima enchente com tamanhas proporções. E qual a lição que vai ficar de tudo isso? Teremos orgulho em dizer que fizemos algo para reverter esse quadro, ou vamos lamentar a inércia?

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Dejair Machado de Oliveira é natural de Cachoeira do Sul (RS), onde iniciou a carreira jornalística em 2000, no Jornal O Correio, atuando nas editorias de geral, rural e política. Entre 2003 e 2005 respondeu pela edição geral do Jornal de Candelária, em Candelária, até transferir-se para a Gazeta do Sul onde teve passagem pelas editorias de geral, agronegócio, economia e política. Por cerca de uma década dedicou-se à produção e edição de conteúdo para os cadernos especiais da Gazeta do Sul atendendo clientes de segmentos como comércio, indústria e prestação de serviços. Atualmente, é editor-executivo da Gazeta do Sul, encarregado de projetos estratégicos na empresa, gestão de equipes e edição do jornal impresso diário. Além da carreira jornalística, é advogado inscrito na OAB/RS sob o número 127.203 e exerce a profissão em escritório atendendo casos na área Cível, Família, Imobiliária e Empresarial. É membro da Comissão Especial de Proteção de Dados e Privacidade da subseção da OAB de Santa Cruz do Sul, com trabalhos relacionados à Lei Geral de Proteção de Dados.

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