É impossível escapar das reflexões acerca da enchente. Em um mês, deixamos de conhecer o Rio Grande do Sul que sempre tivemos como um exemplo de força econômica, social e de qualidade de vida. No lugar de tudo o que existia até então, restaram escombros. Lavouras devastadas, vidas ceifadas, inundações, e o que era verde agora está tomado por um tom triste de cor de lama. Na contramão da tragédia, mãos anônimas e outras nem tanto auxiliam, cada qual a seu modo, na reconstrução. Correntes de solidariedade, independente das intenções, ajudam a aliviar o sofrimento daquelas pessoas que perderam quase tudo. Governos anunciam medidas de apoio, pacotes de crédito e oferecem suporte para reconstruir o que se foi.
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Em meio a tudo isso, como não poderia deixar de ser, o time do quanto pior melhor entra em ação para disseminar desinformação por meio de grupos de WhatsApp e suas redes sociais. Cidadãos que se dizem pessoas de bem e defendem a liberdade de expressão não sentem vergonha ao enviar vídeos gravados por sabe-se lá quem para atrapalhar o que já está ruim. Entre os tantos que vi, um sujeito dizia que bastava meia dúzia de retroescavadeiras para abrir um canal na Lagoa dos Patos e escoar para o oceano toda a água que descia do Guaíba e assim resolver os alagamentos de Porto Alegre. A solução mágica dizia ainda que ele entendia do assunto e que se devia esquecer o que os ambientalistas recomendam.
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Por que ninguém pensou nisso antes?! Talvez porque nem tudo seja tão simples quanto este tipo de criatura supõe. E também não é tão simples sair espalhando fake news (até porque, se são fake, não são news). Ah, claro, pessoas assim consideram bobagem todo o conhecimento acumulado ao longo de décadas de estudo e de pesquisa!
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E combater esta prática é um desafio nas redações onde profissionais passam dias e noites produzindo textos, áudios e vídeos com notícias de verdade, muitas vezes correndo riscos que poucos imaginam. Há alguns dias, um colega atendeu uma leitora indignada porque as doações não estavam sendo entregues a quem precisava. Explicou-se a ela que era realizada uma triagem de tudo o que chegava por uma equipe que estava instalada no Parque da Oktoberfest. Obviamente não foi o suficiente, pois àquela altura ela já estava convicta com a mensagem que recebera no celular sobre um eventual desvio de agasalhos. “Está no WhatsApp!”, retrucou, antes de desligar o telefone.
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Situações como estas quase tiram a esperança e por vezes derrubam por terra aquele argumento de que “após a pandemia seríamos pessoas melhores”. Não fomos! Será que a enchente vai mudar alguma coisa? O bom seria que as águas levassem este tipo de comportamento também.
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