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Deflação: é bom ou ruim?

Nos últimos dois anos, inflação foi assunto muito explorado pelos noticiários de pautas econômicas, em televisões, rádios e jornais. Já no dia a dia dos consumidores que sentiam a inflação no bolso, a preocupação era “virar-se nos trinta” para enfrentar o reajuste constante de preços, alguns deles, principalmente de itens de alimentação, em índices absurdos de 30% a 60%, quando não mais. Em consequência, nos últimos meses, cresceu o número de brasileiros que, quando o valor da conta passa do previsto, abandonam, na boca do caixa, itens supérfluos, como refrigerantes, e até básicos, como óleo de cozinha.  

De repente, as várias mídias começaram a falar num termo que não é tão comum entre nós: deflação. Em julho, o IBGE registrou uma redução de preços de 0,68%, a maior desde o início da série histórica, em 1980, e chamada indevidamente de deflação. Apoiadores do governo Bolsonaro trataram de explorar a “deflação” pontual, dizendo ser o único país a registrar esse dado positivo e mencionando que “nos momentos mais difíceis de crise, são revelados os grandes gestores públicos”. 

Aliás, não é verdade que, de 194 países, o Brasil seria o único que registrou deflação de preços, conforme mensagem fake divulgada pela internet, vez que outros países também o conseguiram, com o detalhe que o Brasil apresenta a quarta maior taxa de inflação entre as 20 maiores economias do mundo, o G20. 

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Inflação todo mundo já conhece e vivencia diuturnamente, pelo aumento generalizado de preços das mercadorias e dos serviços. Já o oposto é chamado de deflação e ocorre quando há queda generalizada dos preços durante um determinado período de tempo. Em geral, isso acontece quando há uma oferta de bens e serviços maior do que a procura ou porque os consumidores ficaram mais retraídos em relação aos gastos.

Essa redução de preços de 0,68% verificada em julho é importante, mas ainda é pouco e não se trata de deflação. Segundo especialistas, é de poucos motivos para comemoração, principalmente por causa dos preços da comida, com aumentos de 1,30% no mês e 14,72% em 12 meses.

Dos nove grupos de bens e serviços que compõem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – alimentação, habitação, vestuário, transportes, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação -, na pesquisa só transportes e habitação, dois grupos com grande peso no cálculo do IPCA, tiveram variação negativa, baixados pelos preços dos combustíveis (-14,15%) e da energia elétrica (-5,78%).

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A diminuição de preços foi provocada de forma artificial, resultado de manobras político-eleitorais para baratear combustíveis e eletricidade, com a redução de impostos e revisões extraordinárias de tarifas. Não há uma queda generalizada de preços, o que caracterizaria uma deflação “clássica”. Derrubaram-se alguns preços, mas nenhuma causa de inflação foi atacada. Pelo contrário.

Cortes de impostos, aumento do Auxílio Brasil, benefícios a caminhoneiros e taxistas, outras bondades fiscais e as incertezas sobre o futuro das contas públicas tendem a causar instabilidade de preço, ainda neste final de ano ou, certamente, no próximo, independente de quem for o presidente do Brasil.

Num primeiro momento, preços em baixa e, se for mais tempo, a própria deflação pode parecer uma coisa boa.  Quem não quer pagar menos por alguma coisa, diminuindo gastos e ficando com mais dinheiro no bolso? Entretanto, uma queda generalizada de preços por tempo indeterminado é ruim para a economia. Significa que o poder de compra das pessoas está reduzido e os comerciantes e prestadores de serviços diminuem os ganhos para tentar despertar a demanda. Inicia-se um ciclo vicioso.

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Com a tendência de queda, as pessoas adiam compras na esperança de conseguir preços ainda mais baixos no futuro. O comércio se vê obrigado a reduzir ainda mais os preços, chegando a vender as mercadorias por preço de custo ou até menor que o de compra, tendo prejuízo. Com isso, reduz ou suspende as encomendas. Consequentemente, a indústria corta ou paralisa a produção, além de suspender ou cancelar investimentos. Esse cenário resulta em demissões e quebra de negócios.

Portanto, a redução pontual de preços de alguns produtos, motivada, por exemplo, pela entrada no mercado de uma nova safra, aumentando a oferta, ou, então, por redução de impostos e concessão de incentivos fiscais, é sempre bem vinda.

Mas, quando ocorre uma diminuição generalizada de preços, por longo tempo, caracterizando uma deflação, é sinal de economia estagnada ou em recessão, o que resulta em fechamento de empresas, aumento do desemprego, diminuição da renda da população e ampliação da desigualdade. O melhor é a estabilidade de preço, permitida uma inflação baixa para ajustes, o que pode indicar crescimento econômico e elevado nível de emprego.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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