O Serviço Social da Indústria (Sesi/RS) divulgou na manhã dessa terça-feira, 10, uma estimativa de que o Rio Grande do Sul terá um déficit de 10 mil professores na Educação Básica até 2040. A constatação é resultado de um estudo feito pelo Observatório Sesi da Educação, com base em dados educacionais, relação aluno-professor e projeções demográficas, o que permite estimar a demanda futura de docentes com base nas matrículas previstas.
Durante entrevista coletiva, Juliano Colombo, superintendente do Sesi/RS e Ecleia Conforto, economista e gerente de Operações do instituto, abordaram alguns pontos que precisam ser tratados pelos governos e sociedade para alterar o futuro previsto pelo estudo. Entre eles, investimento na formação continuada dos docentes; renovação da metodologia e práticas nos cursos de licenciatura e pedagogia; qualificação da matriz curricular; criação de programas de iniciação à docência; valorização da carreira do magistério; consolidação dos planos de carreira; influenciar jovens a optarem pela docência e realização de pesquisas sistemáticas com professores, entre outros.
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Muitas das perguntas feitas ficaram em torno do avanço tecnológico e os impactos da inteligência artificial nas salas de aula. Para Colombo, o que essas novidades fazem é acelerar a obsolescência do modelo educacional vigente, baseado em um professor transmitindo o conteúdo, os alunos decorando e, posteriormente, os conhecimentos sendo avaliados em uma prova. “Não precisa mais passar o conteúdo, ele já está ali, mas é preciso saber fazer as perguntas certas. Se não fizer as perguntas certas, a inteligência artificial vai dar as respostas erradas, e não há aprendizado.”
Com tecnologias surgindo e sendo aprimoradas a cada dia, o envelhecimento dos docentes e a falta de formação continuada se tornam ainda mais problemáticos. “Um dado da nossa pesquisa mostra que muitos professores não tiveram contato com tecnologia durante a formação, então eles só conseguem deixar de passar no quadro e usar uma apresentação de slides”, enfatiza Ecleia. Acerca disso, ela afirma que não basta discutir a matriz curricular, é preciso renovar os métodos de ensino e as abordagens para colocar o aluno no centro de tudo.
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Uma das ações do governo do Estado para solucionar o problema da falta de profissionais é o programa Professor do Amanhã, que vai custear mil vagas para cursos de licenciatura em universidades comunitárias, além de uma bolsa para os estudantes durante toda a formação. Para Juliano Colombo, a iniciativa é um grande acerto, mas há um problema de escala. “Tem que considerar a evasão. Se queremos evitar esse déficit de 10 mil lá na ponta, provavelmente precisaremos de uns 25 mil ingressantes para que tenhamos 10 mil formados lá no fim.” Segundo ele, os municípios precisam participar e oferecer benefícios dentro de suas possibilidades.
Segundo Ecleia, os pesquisadores encontraram algumas possíveis razões para a redução de profissionais no Estado. Entre elas está o crescente desinteresse pela carreira. “Entre 2010 e 2021, podemos perceber uma redução de 59% no número de concluintes em cursos de licenciatura”, observa a especialista. Além disso, há o envelhecimento da categoria, com aumento no contingente acima dos 40 anos e redução naqueles da faixa de 25 a 29 anos.
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A taxa de evasão dos cursos de licenciatura igualmente gera apreensão. Em média, somente 40% dos ingressantes concluem a formação, mas em alguns cursos, como Física, Matemática e Química, a desistência fica em torno dos 70%. Ou seja, de cada dez estudantes que começam, apenas três terminam a graduação e se tornam aptos a dar aulas.
Também presente no debate, a gerente de Educação do Sesi, Sônia Bier, ressalta que esse abandono é mais comum nos cursos a distância do que nos presenciais, mas também tem a ver com as dificuldades que os graduandos já trazem da Educação Básica. “Se formos pensar que em Matemática há um aproveitamento baixíssimo, envolve raciocínio lógico, e a graduação em Física vai exigir isso. Veremos muitos licenciandos com pouca preparação conceitual para isso.” Assim, diz Sônia, conforme a formação vai avançando e se tornando mais complexa, o acadêmico não consegue mais acompanhar e acaba desistindo.
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Outro fator já muito conhecido por todos é a remuneração. Os indicadores de 2021 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) mostram que os professores gaúchos ganham, em média, um salário de R$ 4.024,00 para uma carga horária média de 30 horas semanais. A comparação com profissionais de áreas semelhantes, mas que não atuam no ensino, deixa clara a diferença. Nas exatas (físicos, químicos e matemáticos), a média salarial é 67% maior que a dos docentes.
Apesar de já preocupante, o cenário pode ser ainda pior, visto que a pesquisa descartou algumas situações que ocorrem na prática, como a inadequação docente por disciplina na rede pública. Isso significa que os professores muitas vezes ministram conteúdos para os quais não possuem formação. “Consideramos que o docente é formado em Física, mas vai dar aula de tudo, então esse número é, de certa forma, subestimado.”
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Em algumas matérias, como Geografia, por exemplo, somente 55,5% dos profissionais que estão ministrando aulas são licenciados. Os outros 44,5% possuem bacharelado e complementação pedagógica ou são formados em outras áreas da base comum curricular.
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