O relógio marcava 5 horas da madrugada dessa terça-feira, 4, quando a equipe da Defesa Civil de Santa Cruz do Sul já estava atenta, monitorando o nível do Rio Pardinho. As incessantes chuvas dos últimos dias em boa parte do Rio Grande do Sul deixam em alerta diversos órgãos do Estado e principalmente de municípios que possuem áreas alagadiças.
Em Santa Cruz, o trabalho, especialmente de prevenção, é feito o ano todo, mas se intensifica em dias de temporais e fortes ventos ou de índices elevados de precipitação. A região do Bairro Várzea é um dos principais focos da Defesa Civil, pois está situada às margens do Rio Pardinho e é um dos primeiros locais a apresentar pontos de inundação.
A Gazeta do Sul acompanhou algumas horas da atuação dessa equipe, que está sempre monitorando a cota do rio e o volume de chuvas na parte da serra – que influencia no nível do rio em Santa Cruz –, além de realizar o atendimento de chamados e o acompanhamento de famílias que estão em áreas de risco.
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O dia amanheceu com a necessidade de atenção total aos rios e arroios em diversos municípios da região dos Vales. Em Santa Cruz do Sul, não foi diferente. Durante a madrugada, o Rio Pardinho atingiu a marca de 7,25 metros. Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, Anderson Matos Teixeira, aos 7,30 metros de cota, a água já começa a chegar nas casas. A régua que realiza o controle fica no fim da Rua Irmão Emílio, no Várzea, local conhecido como Praia dos Folgados.
Durante o dia, o nível começou a baixar, mas a equipe continuou em alerta e em prontidão para o acionamento do plano de resposta a inundações em Santa Cruz. Teixeira salienta que o trabalho é baseado na avaliação do tempo. “É nosso pilar, os problemas só se dão em função do tempo. Se chove ou se não chove, granizo, vento atípico… Nos baseamos pela Defesa Civil do Estado e algumas plataformas online, e temos uma plataforma que coleta informações sobre o nível do rio.”
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A rotina da equipe acontece não apenas nas ruas, mas também no interior da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana, onde a Defesa Civil está situada. “São trâmites administrativos também, despacho de vistorias, porque 80% do nosso tempo é fazendo vistoria. São árvores, casas caindo; enfim, situações de risco”, completa o coordenador.
Para evitar que o pior aconteça, o trabalho é muito focado na prevenção, como limpeza do rio e arroios, com a retirada de galhos e lixo. “Se acontecer, temos um plano de resposta que aplicamos”, acrescenta. A ação se intensificou nos últimos dias para os agentes, que desde o fim de semana estão atentos para situações de inundação.
“Dependendo do volume da chuva, começamos a ativar os mecanismos, se necessário. Só que aqui a chuva não é tão prejudicial, o problema é se chove mais na Serra. Ali em Serafina Corrêa temos um divisor de águas – uma parte cai para nós e outra para o Taquari. É um grande volume que vem descendo aos poucos. Começamos a monitorar segunda-feira e só na madrugada de terça (3) chegou aqui. Cada chuva é um comportamento diferente do rio”, observa.
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Uma das mais bem estruturadas do Estado, a Defesa Civil de Santa Cruz tem o status de coordenadoria. Assim, há um planejamento estratégico organizado para situações em que é preciso colocá-lo em prática. No momento em que o rio sobe, um caminhão entra em operação para fazer o transbordo dos moradores. “Às 5 da manhã desta terça já deixamos o veículo em alerta. Nosso motorista já estava de prontidão, caso fosse necessário”, diz o coordenador Anderson Matos Teixeira.
A função desta quarta-feira, 4, e quinta-feira, 5, segundo o coordenador, será monitorar o nível do Rio Pardinho, além de ter contato com equipes de Sinimbu e de Serafina Corrêa e a Defesa Civil do Estado, para saber como está a situação das chuvas nessas regiões. “Para, caso seja necessário, empregarmos o caminhão e removermos a população”, explica.
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Além de Anderson Teixeira, a equipe conta com o chefe de operações Guilherme Kaempf, com o agente Rodrigo Koefender e com o chefe de divisão administrativa Jéferson Doerr. “Uma vez que estamos na rua, o Jéferson nos passa as situações por telefone ou WhatsApp, com localização e demais informações”, completa Teixeira.
As duas áreas mais ativas de Santa Cruz são os bairros Várzea e Belvedere – neste, por risco de deslizamento. Ao todo, segundo o coordenador da Defesa Civil, são aproximadamente 400 famílias atingidas no Várzea, caso o rio extravase, e 13 diretamente no Belvedere, caso as chuvas ocasionem desmoronamento de terra.
O plano de contingência da Defesa Civil de Santa Cruz descreve todas as áreas vulneráveis. “Temos as áreas identificadas e a localização dos abrigos. Dependendo de onde for, já contamos com o abrigo definido e quem é a pessoa responsável por ele”, ressalta. “Temos tudo mapeado para, quando chegar a hora, somente acionarmos. No Várzea, o abrigo geralmente é a escola Guido Herberts. Nesta terça-feira mesmo, já fizemos contato com o responsável da Secretaria de Educação para saber que, em caso de emergência, vamos acionar.”
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Somente nessa terça, o veículo da Defesa Civil de Santa Cruz percorreu cerca de 100 quilômetros entre áreas de risco. São idas e vindas nesse trabalho de monitoramento que é necessário fazer. Antes de ir, mais uma vez, até a régua situada no Várzea, Anderson Teixeira mostra a situação dos piscinões – obra inaugurada em 2008 que ajuda a conter o avanço das águas. Por volta das 14 horas dessa terça, um dos piscinões já se encontrava com parte coberta por água.
Na tarde de ontem, o nível do rio começou a baixar. Por volta das 15 horas, a cota estava em 6,68 metros. O trabalho preventivo de limpeza feito antes das chuvas auxiliou para que a Rua Irmão Emílio não estivesse debaixo d’água antes mesmo que o rio chegasse ao nível necessário para começar a atingir residências.
Mesmo com a limpeza, a população ainda deposita resíduos incorretamente na margem do rio, o que piora a situação, dificultando o escoamento das águas. “É enxugar gelo, a gente tira e colocam de novo. Até geladeira e fogão já encontramos aqui”, relembra Guilherme Kaempf, chefe de operações. Além disso, acostumados a conviver com as águas, os moradores ribeirinhos estão sempre em contato com a Defesa Civil. “Eles monitoram, conhecem mais do que nós e vão nos informando sobre a situação”, complementa Kaempf.
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O motorista do veículo da Defesa Civil costuma ser o agente Rodrigo Koefender. Ele relata que, em dias mais movimentados, a equipe chega a circular cerca de 120 quilômetros dentro do município de Santa Cruz. A zona urbana é grande e alguns dos bairros monitorados ficam distantes uns dos outros. Ontem, por exemplo, ao sair do Várzea, a equipe precisou se deslocar até o Dona Carlota – são aproximadamente 9 quilômetros de um bairro a outro.
No Dona Carlota, ontem, o trabalho foi entregar lonas para famílias que residem em área invadida bem perto de um arroio que já estava quase transbordando. “É um atendimento emergencial, nos acionam e dizem que está chovendo dentro de casa. A gente de imediato entrega lona”, explica Anderson Teixeira.
Segundo ele, se não é um evento de desastre, com vento forte, não há justificativa para repassar telhas. No caso desse tipo de material, é necessário encaminhar à Habitação, que avalia o que é necessário e depois faz a entrega ou colocação. Mesmo assim, como a lona é um material adquirido com recursos públicos, o morador que ganha o item precisa assinar um recibo.
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A Defesa Civil de Santa Cruz é uma das poucas que possuem uma base móvel. O ônibus é utilizado para palestras a estudantes, atendimento da população e também como uma opção de local para a equipe. “Damos palestras aqui dentro. Quando estamos em atividade com crianças, temos um roteiro para fazer educação ambiental. Usamos o veículo para levá-las para conhecer pontos de Santa Cruz e falamos sobre a questão do lixo e da preservação das encostas. Às vezes, também usamos a móvel para atendimento social e psicológico e cadastros”, comenta Teixeira.
Também faz parte da equipe uma engenheira civil servidora da Prefeitura de Santa Cruz. Roseli Kist é responsável por realizar análises de risco de estruturas. “Quando tem alguma questão de prédios, pontes, casas, eu faço uma análise para verificar se precisa interditar ou não”, explica a profissional. Durante a forte chuva que atingiu a cidade no dia 28 de janeiro de 2021, Roseli desempenhou um trabalho fundamental, em razão de prédios que foram danificados. “É preciso ter uma análise muito minuciosa para ver se realmente há necessidade de desocupar uma casa ou não, pois acaba sendo um impacto muito grande para a família”, ressalta o coordenador da Defesa Civil.
À frente da Defesa Civil Municipal, Anderson Matos Teixeira começou a atuar em Santa Cruz em janeiro de 2021. Logo se deparou com a chuva atípica que resultou em vários pontos de inundações, principalmente na área central. Teixeira é conselheiro da Cruz Vermelha e já atuou em situações de desastres em municípios como Caxias do Sul. Para ele, Santa Cruz tem a característica de ser muito colaborativa. “É uma população engajada, que doa quando precisa e também cobra ser atendida, que quer ação.”
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