Em uma conversa informal na parada de ônibus, alguém comenta que um menino de apenas 5 anos de idade estaria impedido de ir à escola. Diagnosticado com câncer, soube-se que, além de não poder sair de casa, sua mãe teve que abandonar o emprego para cuidá-lo. Com poucos recursos e com dificuldades em dar sequência ao tratamento, a família nem sabia que tinha alguns direitos em função da enfermidade do garoto. Até conhecer… Bia Lima.
Em outra ocasião, outra moradora, desesperada por receber mensagens no celular devido a uma cobrança por um empréstimo realizado, ao buscar orientação na residência de número 60 da Rua Alfazema, do Residencial Viver Bem, ali encontrou a solução para seu problema. É nesse endereço que mora… Bia. “Liguei para o banco e renegociei a dívida dessa senhora, porque os juros eram abusivos.”
Aos 53 anos, a “Bia das Cuias”, como é conhecida, por confeccionar cuias artesanais, tornou-se referência quando o assunto é a luta por direitos. “Eu não me reconheço como uma líder, eu só não admito injustiças”, diz a faxineira.
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Uma de suas últimas descobertas também a deixou um tanto indignada. Ao conhecer uma senhora, com pouco mais de 30 anos, que chegou para ela e disse: “Tu ‘pode’ me ensinar a escrever?”, já que passava por constrangimentos toda vez que tinha que assinar seu nome, Bia tomou uma atitude. Fez um levantamento sobre quantos moradores não sabem ler nem escrever. “Aqui temos 922 moradias. E cerca de cem pessoas são analfabetas”, constatou ela. “O poder público deveria dar condições para que essas pessoas possam ter a oportunidade de estudar. Mas que as aulas sejam dadas aqui, e não que precisem atravessar a cidade para isso.” Ela disse que não tem vínculo com nenhum partido político. “Meu partido é o que é melhor para todo mundo. Neste momento, o que precisamos é de uma atenção especial à saúde.”
COLETIVIDADE
Natural de Cachoeira do Sul e oriunda de uma família pobre, Bia mudou-se para Santa Cruz do Sul aos 20 anos. Mas foi lá, na convivência com a mãe, Maria Naura, já falecida, que aprendeu a defender a dignidade das pessoas. “Minha mãe era artesã e, apesar de não ter muita instrução, sempre batalhou para oferecer uma vida melhor a quem precisasse.” E cita um trecho de uma música do Raul Seixas como inspiração. “Ele diz que somos carpinteiros do universo.”
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Apesar de ter frequentado o estudo formal só até a quinta série, ela se considera uma autodidata e busca se manter atualizada. “Eu sempre leio muito, busco informações na internet, sempre fui muito curiosa.” Bia tem forças para seguir com seus objetivos porque não está sozinha. “São moradores que também lutam por todos daqui, tem a Tânia Barros, a Denise Ferreira, a Angela Iser e a ONG Voluntários da Paz.”
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