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Declarações de ministro da Educação desagradam até o governo

Parlamentares e especialistas reagiram nesta semana à entrevista do ministro da Educação, Milton Ribeiro, ao Estadão, na qual ele exime a pasta de responsabilidades sobre a volta às aulas no País e atribui a homossexualidade de jovens a “famílias desajustadas”. As declarações repercutiram mal dentro do próprio governo.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) pretende ir ao Supremo Tribunal Federal para que o ministro seja investigado por homofobia. E o deputado David Miranda (PSOL-RJ) pretende acionar o Ministério Público Federal pelas mesmas razões. “É requisito nesse governo de ‘desajustados’ ser um criminoso homofóbico!”, publicou Miranda no Twitter.

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Na entrevista, o ministro afirmou que deve revisitar o currículo do ensino básico e promover mudanças em relação à educação sexual. Segundo ele, a disciplina é usada muitas vezes para incentivar discussões de gênero. “E não é normal. A opção que você tem, como adulto, de ser um homossexual eu respeito, mas não concordo”, afirmou ele, acrescentando ainda que tem “certas reservas” quanto à presença de professores transgêneros nas salas de aula.

Presidente da Comissão de Educação da Câmara em 2019, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) disse que as declarações mostram “preconceito inconcebível”. “Mentalidade atrasada e triste de se ver em uma posição tão relevante”, acrescentou. Ele também ressalta que o MEC deve atuar em cooperação com Estados e municípios para encontrar soluções sobre a pandemia. “Um problema do Brasil na educação, necessariamente, é um problema do MEC também”, completou.

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Para o coordenador da comissão externa da Câmara que acompanha o MEC, Felipe Rigoni (PSB-ES), a pasta tem responsabilidade de orientar o retorno às aulas e viabilizar o acesso à internet para atividades remotas, ainda que caiba a gestores locais decidir calendário. “A função do MEC é coordenar esforços. A educação acontece no Estado e no município, mas ele é o grande maestro”, enfatizou.

Rigoni avalia que o ministro, na entrevista, manteve o tom já observado no MEC de usar “alguma coisa ideológica, sem evidência” como “cortina de fumaça” para esconder falhas em execuções de políticas públicas. “É irrelevante se o aluno ou professor é homossexual. O MEC não tem de se meter nisso.”

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Presidente executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz afirma que Ribeiro erra “no campo jurídico e ético” ao retirar do MEC responsabilidades sobre organizar o retorno das aulas presenciais. “Não dá para dizer que não é problema dele. A coordenação nacional é ainda mais importante num ano pandêmico. Mesmo que não estivesse tão claro na legislação, onde está a preocupação que a gente espera das lideranças públicas?”

Cruz também aponta “desvio grave de função” quando o ministro usa o cargo para defender pontos de vista pessoais. Para ela, este tipo de manifestação pode estimular a cultura da intolerância. “Autoriza o aluno a questionar se quer ter professor transgênero ou não, como se não fosse algo legítimo.”

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Vitor de Angelo, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e chefe da pasta no Espírito Santo, afirma que o MEC pode ampliar o protagonismo na crise, “assumindo papel importante no enfrentamento das desigualdades sociais”. Para ele, o ministro “desvia o foco” ao falar da orientação sexual de alunos e professores.

Para a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) falta “responsabilidade” a Ribeiro, que carece de “gana” para lutar pelo orçamento da pasta e de “empatia” ao “propagar preconceito à comunidade LGBTQIA+”.

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Planalto

Dentro do governo, a avaliação é de que Milton Ribeiro se sentiu pressionado pelas cobranças nas redes após encontro com deputados da oposição, Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES), e tentou fazer um aceno à base mais radical de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

A base bolsonarista também se incomodou com visita do ministro à Fundação Lemann, que incentiva projetos na educação pública. De acordo com um auxiliar do Planalto, o presidente avaliou que Ribeiro tem sido “ingênuo” e pediu para dar mais atenção às questões políticas.

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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