Para quem possui vínculo com a antiga Colônia Santa Cruz (hoje Santa Cruz do Sul e região próxima), o mês de dezembro traz, além do Natal, pelo menos mais uma data do maior sentido: o dia 19, que marca a chegada local dos primeiros imigrantes alemães em 1849, há 172 anos. Destaquei esse tema e fatos curiosos dos primeiros colonizadores e seus descendentes em meu mais recente livro, Carl & Ciss – Crônicas da Colônia Alemã, que sempre rende novas e interessantes abordagens, como a que me veio à memória nesta semana, sobre a relevância dos antigos salões presentes nas comunidades de toda esta área.
A exemplo do primeiro capítulo do livro (De picada em picada), que faz uma maratona pelas linhas com esta identificação também em alemão, adequadamente eternizada em lei e placas no município, percorro mentalmente aqueles locais, de salão em salão, para rememorar sua real grandeza e louvar quem os preserva. A começar pelo conhecido Acesso Grasel (ou Kässchmier Pikade, como era conhecido e foi oficializado), onde o belo Salão Grasel servia no passado também de pousada e recebia transportadores de tabaco em carroça (como foi o caso de Carl, do livro), prédio este hoje em reforma, mantendo características.
Seguindo pela Linha Santa Cruz (Alte Pikade, berço da imigração), um belo exemplo de preservação se ergue próximo à Granja Santa Cruz, para onde está prevista não menos louvável proposta da comunidade para futuro Parque da Imigração. Trata-se do antigo Salão Frantz, muito bem restaurado e demarcado já como referência local da imigração, tendo marca que continua a identificar outro salão reconstruído em direção a Monte Alverne, na Linha Antão. Este sucedeu a Sulzbacher, sobrenome que também estava na propriedade de salões na próxima Linha Monte Alverne (hoje Salão Heck), Linha Araçá e Linha Chaves (mantido em madeira, agora com proprietário Mohr). Ainda o nome Frantz (agora Müller) estava outrora em bailanta conservada ali perto, na Linha Andrade Neves (Schwerin), onde nasceu em 1922 o nosso querido ex-prefeito Arno João Frantz, de tão boas lembranças (inclusive em meu livro sobre ele).
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Os salões, em geral vinculados a casas comerciais e que serviam aos mais variados fins, desde festas familiares e comunitárias, quermesses, bailes, reuniões, até posto de compra de tabaco e outros produtos, eram tão relevantes nas localidades que muitas delas receberam o nome de seus donos, como ocorre no distrito de São Martinho. Ali, pequenos povoados são conhecidos por São Martinho Butzge (de longo tempo), Wehner (antes Stein) e Kelzenberg (após Heck), e ainda, no Alto São Martinho e início do Paredão, Paredão Porath Staub (com salão assim denominado).
Quem tem raízes no interior da região (e não é pouca gente), por certo traz consigo alguma lembrança carinhosa desses salões. Quantas recordações saudosas não perduram nos corações de tantos que ali encontraram seu par na vida, que, como cavalheiro e dama, ali se encorajaram para a primeira dança, os primeiros toques nervosos e tímidos, acompanhados de tremores incontidos das pontas dos pés às dos cabelos, só acalmados pelo convite dele para sentar nos longos bancos das grandes mesas para oferecer uma gasosa refrescante e um doce chocolate?
São espaços marcados por turbilhões de emoções, vivências e significados, cujas portas e janelas precisam continuar abertas para adentrarmos na visão de outros tempos. Eles não podem ficar dissociados de nossas vidas, mas, a exemplo do que se vê com edificações na Europa, precisam ser revividos e reverenciados, como valorizados pontos turísticos e por respeito à nossa ainda tão jovem história.
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