Do homem que herdou histórias àquele que construiu a própria trajetória com esforço e dedicação. As figuras paternas que preencheram vazios inexplicáveis ou até mesmo aqueles durões que se transformaram em bailarinas em um dia de beleza com os filhos. Pais da terra, com a safra e o campo à vista; pais de periferia; pais que precisaram lutar contra preconceitos, que puderam abraçar alegrias, que se tornaram mães.
De lembrança em lembrança, o Dia dos Pais tem significado especial, seja da forma que for, para qualquer tipo de pai. Uma data para comemorar, para chorar de saudade, para abraçar, ou até mesmo para imaginar como teria sido com ele. Mas, em cada tribo, em cada lugar, qual poderia ser a melhor recordação de um Dia dos Pais? A Gazeta foi conferir.
O nome do filho tatuado no braço
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Do alto da Rua Petrópolis, no Bairro Pedreira, Alisson Fernando de Jesus enxerga uma Santa Cruz que poucos veem. Entre ruas, casas e luzes, em frente ao terreno onde construiu seu lar, o Lago Dourado reflete os dias. Águas que brilham no olhar do jovem de 27 anos, pai de dois meninos. Um homem que poucos parecem enxergar, mesmo que esteja presente diariamente na vida dos santa-cruzenses. Alisson é motorista. É um agente da reciclagem, membro da Cooperativa de Catadores de Santa Cruz (Coomcat).
Com uma renda familiar mensal de cerca de três salários mínimos, ele divide a rotina de trabalho com o tempo em casa, dedicado aos filhos. Um deles, o Pedro Henrique, acompanha o pai todos os dias, por onde quer que ele vá. É que no braço, o direito, Alisson estampa, orgulhoso, uma tatuagem com o nome do pequeno. No futuro, aliás, o de Arthur Gabriel, o caçula de sete meses, também deve surgir por ali para marcar, além do coração, a pele.
Este, aliás, vai ser o primeiro Dia dos Pais comemorado em dose dupla, com a família completa. Ele, os dois filhos e a mulher, Valéria Zvoboda, 29. É da figura materna, inclusive, que o catador guarda as lembranças das datas comemoradas enquanto criança. “Minha mãe era o meu pai”, diz sobre a safreira Rosane da Araújo, 51, vizinha de morada. “Nós éramos sete irmãos. Todo mundo era um pouco pai do outro”, recorda.
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Foi assim, também, que Alisson aprendeu a cuidar. Hoje, enquanto a mulher trabalha, à noite, é ele que fica responsável pelas crianças. Nesse tempo, Alisson e Pedro também aproveitam para jogar partidas no videogame. Por falar nisso, nos próximos dias, a dupla ainda vai ter mais tempo livre. Desde a última sexta-feira, Alisson ingressou em férias, o que já poderia ser um grande presente.
Mas, conforme ele, que ficou um ano desempregado antes de entrar para a Coomcat, onde já trabalha há três anos, apenas uma coisa pode fazê-lo feliz neste domingo e em todos os demais dias do ano. “Tempos atrás, eu chegava em casa e não tinha dinheiro. O Pedro pedia coisas e eu não tinha o que dar. Por isso, para mim, o mais importante é que eles sempre tenham o que comer e o que vestir”, diz.
E ele espera, também, que o futuro seja promissor. “Tenho o fundamental incompleto, mas quero voltar a estudar e ter minha casa própria. Também quero muito que os dois, no futuro, possam cursar uma faculdade”. São desejos que a vida ensina.
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Ele escuta com o coração
O doutorando Nelson Goettert, de 47 anos, não mora mais tão perto assim, mas está sempre próximo do filho, Peter. Professor de Libras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), deixou Santa Cruz em 2011, após vinte anos na cidade. Hoje, costuma vir aos fins de semana para visitar o filho único, nascido em julho de 2005. Deficiente auditivo, é dono de um coração orgulhoso. “Meu filho é muito importante e especial”, enfatiza.
Esse, aliás, é o mesmo sentimento que o adolescente Peter Müller Goettert, de 14 anos, nutre pelo pai. “Nossa relação sempre foi muito boa. Quando eu era menor, nossa comunicação enfrentou algumas dificuldades porque eu não sabia totalmente a língua de sinais. Quando eu era bebê, eles (a mãe também não pode ouvir) não conseguiam me escutar. Por isso, minha avó paterna ajudou, mas depois eles me ensinaram a entender tudo”. Inclusive a compreender que no Dia dos Pais, assim como em todos os outros, o que vale mesmo é compartilhar bons momentos, e ouvir com o coração.
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Qual é a sua melhor lembrança de Dia dos Pais?
Heitor Petry
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“Ter todos os filhos presentes e receber um abraço carinhoso! Um dos meus filhos (hoje com 30 anos) fez um cartãozinho em papel, quando tinha uns cinco anos, no formato de duas mãos em prece. Dentro havia uma prece intercedendo por minha proteção. É muito simples, mas guardo no meu livreto de meditação diária e o revejo seguidamente!”
Rafael Frederico Henn
“Ser pai é uma bênção e eu agradeço todos os dias pelos filhos que tenho, a Mariana, de 14 anos, e o Miguel, de 10. Para mim, Dia dos Pais é todo dia. Chegar em casa após um dia de trabalho e receber o carinho dos filhos é o melhor presente que uma pessoa pode receber. Eu acredito que a família é a base de qualquer pessoa e os filhos são a essência da família. Lembro do nascimento da Mariana, dia 9 de agosto de 2005, uma terça-feira. Foi uma gravidez de risco, tanto para a mãe quanto para a filha. Ela nasceu um mês antes do previsto, mas tudo correu muito bem. No domingo seguinte ao nascimento, foi o meu primeiro Dia dos Pais. Hoje, tenho a felicidade de ter um Dia dos Pais todos os dias.”
Ênio Ernesto Wermuth
“Perdi o meu pai, Ernesto Wermuth, muito cedo, mas, das minhas lembranças como pai, a melhor é a do nascimento de nosso filho, Ênio Junior, em 6 de setembro de 1976, e depois o nascimento do neto, Otávio Agnes Wermuth, no dia 16 de setembro de 1998. Foi uma alegria muito grande ser pai. Um dia lindo no Hospital Santa Cruz.”
Giovane Weber
“A minha lembrança é de antigamente, quando eu tinha uns oito, nove anos de idade e meu pai levava verduras na cidade, com a Rural Willys. Eu podia ir junto aos sábados. Durante a semana, a gente tinha de ir na aula. Pelo meio da manhã, nós fazíamos uma parada em uma das bodegas e comprávamos um sanduíche de pão de penca. Pedíamos para cortar o pão inteiro, colocávamos salame dentro, embrulhávamos num papel e comíamos dentro da velha Rural, no trajeto. É uma lembrança que fica para mim. Hoje eu mesmo sou pai. Tenho uma filha de 12 anos.”
Giovane Wickert
“Entre as lembranças, posso destacar o ano de 2012, quando nasceu meu primeiro filho, o Augusto. Mas aquela que eu acho mais diferenciada é do ano passado, quando ele fez todo um mistério para me convidar para ir até a escola. Naquele dia, havia uma atividade especial para os pais, com brincadeiras, gincana, jogos. Ele dizia: ‘Pai, naquele dia, não dá para faltar, tens de ir comigo’. Isso foi muito marcante, estar lá com ele, sentir que estava feliz e orgulhoso. E neste ano também vou curtir meu primeiro Dia dos Pais com a Rafaela, nascida no dia 1º de julho.”
Benício Albano Werner
“As emoções e os momentos marcantes e inesquecíveis são tantos, que fica difícil selecionar. Começa com a gravidez, as primeiras batidas do coração. Na época do primeiro filho, não sabíamos o que era, se menino ou menina. Quando chegou o momento do parto, fui atrás de táxi para levar a Elfôni ao hospital. Foi muito emocionante quando trouxeram o Marco. O batizado, quando engatinhou, os primeiros passos, as primeiras palavras. As primeiras férias na praia, ele com dois anos e meio e não tinha medo de entrar na água. Diferente do Marcelo, o segundo filho, que já respeitava mais a água. Para acompanhar melhor a educação, a Elfôni pediu demissão do seu emprego no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), pois queríamos dar mais atenção e carinho aos dois. Foi a melhor decisão que tomamos, pois hoje estamos felizes por tudo isso.”
Telmo José Kirst
“As melhores lembranças de Dia dos Pais são das primeiras apresentações da Maria, do João Paulo, do Luciano e do Fernando na escola. Era muito bom ver aquelas carinhas tímidas, meio sem jeito. Mostraram do jeito deles o amor que sentiam por mim. Quando a criança demonstra, é ainda mais especial, porque é puro, é um sentimento genuíno. Sempre que lembro dessas apresentações, me emociono. Passa um filme na cabeça, é como se estivesse revivendo tudo novamente.”
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