De poesias a romances, conheça todos os livros publicados por Lya Luft

A escritora santa-cruzense Lya Fett Luft morreu na manhã desta quinta-feira, 30. A brilhante carreira literária dela, porém, ficará eternizada nos 31 livros publicados entre 1964 e 2020. Os textos de Lya sempre foram conhecidos por descrever as origens e vivências do dia a dia. Não por acaso, era considerada uma das maiores autoras brasileiras e, recentemente, foi homenageada pela Academia Rio-Grandense de Letras, com o troféu “Escritora do Ano”.

Com sua vasta obra, formada por poesia, romances e livros de cunho memorial e filosófico sobre a condição feminina e humana, Lya teve os primeiros textos – poemas escritos ainda na infância – publicados na Gazeta do Sul. Para prestar uma homenagem e eternizar ainda mais os escritos da santa-cruzense, o Portal Gaz reuniu, em ordem cronológica, todos os títulos publicados por Lya Luft. Confira a lista completa:

Canções de Limiar, 1964

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Livro que reúne 30 poesias e marcou a estreia da escritora.

Flauta Doce, 1972

Matéria do Cotidiano, 1978

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Primeira coletânea de contos da escritora.

As Parceiras, 1980

Primeiro romance da carreira da escritora, também representou a estreia de Lya Luft na ficção. O texto maduro conta uma trama densa e tensa, pois mergulha na alma feminina e nas angústias da mulher mais velha. O livro questiona os valores da vida e a proximidade com a morte sob o ponto de vista feminino.

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A Asa Esquerda do Anjo, 1981

Gisela Wolf narra opressões vividas dentro da família, que tem origem alemã, em uma pequena cidade do sul do Brasil. Filha de um alemão e de uma brasileira, ela cresce sentindo medo da avó paterna, a autoridade máxima da família, que impõe rigidamente aos parentes os valores germânicos e censura outros. Na escola, Gisela é chamada de nazista pelos colegas. Em casa, ela se sente inferior à prima Anemarie, a neta preferida. Relata então profundas reflexões a cerca da condição humana. Ao se tornar adulta, Gisela decide buscar a própria identidade.


Reunião de Família, 1982

Criados de forma severa por um pai repressor e violento, Alice, Evelyn e Renato cresceram marcados pela insegurança, submissão, desconfiança, desunião e, acima de tudo, pela falta de amor. Quando o filho de Evelyn morre em um trágico acidente e ela passa a se comportar de forma estranha, acreditando que o menino ainda está vivo, a família decide se reunir para ajudar a irmã caçula. Mas nada acontece como esperado: o fim de semana que deveria servir para unir se transforma numa catarse de culpas e segredos, um terrível jogo da verdade no qual os papéis de vítima e algoz se invertem. Com uma linguagem sóbria e refinada, há conflitos familiares dramáticos em situações extremas.

O Quarto Fechado, 1984

Um romance surpreendente, com uma trama de cenário sombrio. Um casal separado volta a se reunir dos dois lados do caixão do filho morto, revendo cada um a vida e o que os conduziu àquela trágica situação. Em meio a forças demoníacas e cenas com delicadeza comovente, o leitor assiste em flashback o sofrimento de um adolescente suicida, da irmã gêmea, um ser repulsivo trancado num quarto, uma mulher mais velha e outros personagens que retratam as inquietudes do ser humano. É comovente e faz o leitor refletir.


Mulher no Palco, 1984

Exílio, 1987

Narra a saga de uma mulher que tenta resgatar a imagem da mãe suicida. Partindo desse doloroso universo, é construída uma história repleta de conflitos e ensinamentos. Nesta tragédia contemporânea, a autora desnuda os mais profundos sentimentos humanos: a solidão, a morte, o amor, o vício, o assombramento e o desencontro.

O Lado Fatal, 1989

É uma catarse poética, com luto descrito em metáforas que enchem os leitores de lágrimas e empatia. São poemas onde o encantamento das palavras transpira a virulência da dor, da inconformidade com o próprio destino. Um ponto zero numa vida refeita na morte: passo a passo, com pequenos atos do cotidiano que trazem alívio e conforto na previsibilidade e constância. Pela linguagem simples, pela recuperação lírica das vivências de um amor interrompido, pela percepção das relações estabelecidas entre vivos e mortos, pela narração fragmentária e ao mesmo tempo concatenada, este livro é uma delicada ode ao amor. Os poemas reunidos neste livro constituem um fundamental estudo da alma humana diante da fragilidade e da força do coração.


A Sentinela, 1994

Uma casa é o cenário; uma casa-labirinto, na qual uma mulher procura a saída, mas também tenta se decifrar ao longo do caminho e acaba se encontrando. Sempre elaborando uma visão da existência humana como um drama, uma escalada, uma sucessão de conquistas e fracassos, a personagem principal deste romance, Nora, é rejeitada pela mãe, vivendo a infância entre poucos momentos de afeto do pai e pequenas maldades da irmã, Lilith, a queridinha da casa. Ao desamor e abandono, que deixariam uma cicatriz profunda na alma, somam-se duas tragédias: o suicídio da irmã e a violenta morte do pai. A vida de Nora é uma sucessão de esperas e buscas: de que algum dia a mãe começaria a amá-la; de preservar uma paixão que escorre entre os dedos; de ter o apoio incondicional da meia-irmã; de fugir do casamento sem amor que lhe daria o bem mais precioso: o filho Henrique. Este parece um doce menino, mas aos poucos revela que é sufocado sob os cuidados e paranoias da mãe. Emaranhada nesta rede, Nora balança entre angústias e vazio. Até que decide tomar nas mãos as rédeas da própria vida e ser a senhora das próprias escolhas.

O Rio do Meio, 1996

Esse foi um dos pioneiros em um gênero indefinido e inusitado na literatura brasileira: nem ficção, nem relato jornalístico. A autora entremeia, com maestria e sensibilidade, lembranças, ora em primeira pessoa — sem que isso signifique estar fazendo autobiografia —, ora em terceira — sem que isso represente estar sendo objetiva. Com a prosa delicada, num tom quase íntimo, sussurrando verdades no ouvido do leitor, ela versa sobre as descobertas de uma criança intrigada com a vida e outros mistérios, sobre o amadurecimento do ser humano, com conflitos e alegrias, coragem e fracassos. Ela convida o leitor para um jogo, aliando histórias vividas e imaginadas, brincando, encantando e, principalmente, fazendo pensar. Aos poucos, o leitor torna-se cúmplice, ombro amigo, ouvidos atentos, coração ora apertado, ora entregue.

Secreta Mirada,1997

Livro de poemas que tratam, sobretudo, do amor. Mas fala também de família, da arte e das coisas simples da vida, temas característicos da obra da autora.

O Ponto Cego, 1999

É a história de uma família narrada a partir do ponto de vista de uma criança, um menino-narrador que inventa e desinventa histórias, constrói tramas e põe em foco, de maneira muito particular, os dramas vividos pelos adultos ao redor dele. Convivendo com o pai repressor, dentro de uma família marcada pela tragédia de ter perdido o primogênito, o Menino (assim mesmo, com M maiúsculo, simplesmente Menino, sem identidade) se vê esquecido e desenvolve um medo extremo de crescer e passar a ser como aqueles que tanto o aterrorizam. A autora surpreende ao buscar, em livros anteriores, alguns personagens que neste ilustram epígrafes. É um romance sobre o crescer, o viver e, sobretudo, o sobreviver em meio a tantos medos, dúvidas e desencontros.

Histórias do Tempo, 2000

A autora traça um paralelo entre reflexões diárias e ficção. Assim, os leitores se deparam com a narração de coisas inventadas, observadas e ouvidas. Há duas personagens: Medésima, que cumpre deveres, paga contas, tenta administrar a vida; e Altéria, a louca, alada, que se desprendeu da treva.

Mar de Dentro, 2000

É leve, mas irônico; delicado, mas intenso; dono de uma criatividade que pode até incomodar. Mais do que relembrar as próprias histórias, a autora desperta no leitor memórias sensoriais, como o cheiro da chuva na terra quente, o vento nas folhas, o perfume da mãe, o som do mar, o silêncio das dunas de areia. Um texto repleto de delicadeza, mas de uma forte humanidade.

Perdas e Ganhos, 2003

Um misto de ensaio e memórias. Entre alegrias, descobertas, decepções e buscas, a autora busca dar um testemunho pessoal sobre a experiência do amadurecimento. Convoca o leitor para ser um amigo imaginário: cúmplice e companheiro de reflexões que vão da infância à solidão e à morte, ao valor da vida e à transcendência de tudo. A autora divaga, discute e versa, com ímpeto, compaixão, e muitas vezes bom humor, sobre velhice, amor, infância, educação, família, liberdade, homens e mulheres, gente de verdade.

Histórias de Bruxa Boa, 2004

Com este livro, a autora começa a explorar outro universo: o fantástico mundo do imaginário infantil. Inspirada em histórias que contou para a neta Isabela, a escritora criou personagens que vão encantar e divertir crianças e adultos. São cinco histórias que incluem inusitadas e divertidas sugestões de Isabela, portanto saídas diretamente da fantasia de uma criança.

Pensar é Transgredir, 2004

Vai da preocupação com o social à inquietação pelo mistério da vida. Mas também há um pouco do cotidiano da casa, coisas da infância e bom-humor. A autora fala do desafio que é podermos escrever uma parte da nossa história pessoal, e da dificuldade de sermos responsáveis por nossas escolhas; mas também escreve sobre ternura, alegria e perplexidade.

Para não Dizer Adeus, 2005

Um livro de poesia sensível e arrebatador. A autora desnuda — desta vez em versos — os mais profundos sentimentos humanos: a solidão, a morte, o amor, o vício, o assombramento e o desencontro. São várias faces da autora, além do resgate, com extrema delicadeza, de alguns dos principais temas da prosa dela.

Em outras Palavras, 2006

A autora conduz o leitor a refletir sobre o cotidiano, a política, a vida e o amadurecimento. São 54 textos selecionados, que resumem uma obra sensível, de linguagem suave — mesmo quando trata de assuntos mais difíceis.

A Volta da Bruxa Boa, 2007

Depois de Histórias de bruxa boa, Lilibeth e a netinha dela voltam para encantar e divertir crianças e adultos. Em uma espécie de fábula da família, a autora narra as novidades na vida de Lilibeth, da neta e as irmãzinhas gêmeas, as bruxas más Cara-de-Panela e Cara-de-Janela e outros personagens adoráveis. As aventuras são de gente que muda de casa, namora, vê a família aumentando, sente, ri e também chora. Tudo com muita imaginação e sensibilidade característica da autora.

O Silêncio dos Amantes, 2008

É um livro de contos. O tema é a dor gerada pela ausência de comunicação entre pessoas em relacionamentos amorosos e familiares.

Criança Pensa, 2009

Pensar com os outros, com os amigos, com os pais, professores e, principalmente, consigo mesmo. É maravilhoso crescer questionando o mundo, fazendo perguntas essenciais, mesmo que nem sempre haja uma resposta. Nesta busca, filósofos e crianças não poderiam ser mais próximos. Com sensibilidade e bom humor, Lya Luft e Eduardo Luft, que é filósofo, abrem um espaço para a filosofia e mostram que criança pensa, sim!

Múltipla Escolha, 2010

Um ensaio que reflete sobre os caminhos do tempo. Caminhos e direções que, em sua multiplicidade, indicam não apenas paisagens distintas, mas, sobretudo, escolhas. A autora debate e transgride com o fervor de alguém que refuta a mediocridade e escolhe a vida. Como se sobre um palco, cercada de portas simbólicas, o complexo mundo contemporâneo à frente, convoca sua “tribo” para o necessário ritual de pensar. Em foco, questões fundamentais, como a velhice e a juventude, os novos dilemas e tabus da sexualidade, a comunicação virtual, as fronteiras entre o privado e o público, drogas, violência, bondade e perversidade, o mal-estar social: elementos-chave da nossa rotina diária. Fala sobre esses “mitos modernos” criados para se tornarem senhores das vontades e sobre os quais pondera num diálogo aberto com o leitor.

A Riqueza do Mundo, 2011

Esta obra apresenta uma coletânea de ensaios breves, como crônicas ou artigos, em que a autora se dirige ao leitor de maneira mais direta e coloquial. Este é um livro áspero e poético, mas questionador. Ela aborda o drama existencial humano, perplexidades comuns, educação, família, autoridade, moralidade versus moralismo, e alguns dos problemas mais pungentes da sociedade, como guerras, miséria, política e outros. Fala também sobre o uso e a criação da riqueza do mundo, seja natural, intelectual ou artística, afetiva, econômica. Mas ela também escreve sobre aquilo que é desperdiçado, sobre a pobreza advinda do desinteresse, a dor nascida da traição, as crenças que se digladiam. Com críticas, dúvidas, momentos de fria lucidez e outros de grande delicadeza, este livro coloca o leitor diante de alguns fantasmas, para que, ao encará-los, se tornem menos assustadores.

O Tigre Na Sombra, 2012

Um universo de mistério, magia e dramas humanos muito reais que, de uma forma ou de outra, atingem a todos. Os difíceis relacionamentos amorosos e familiares são o chão sobre o qual as personagens caminham. O duelo entre vida e morte subjaz a todos os outros temas. O elemento enigmático permanece em muitas figuras, como a singular Vovinha, que ninguém sabe de onde veio e teria sido antes uma sereia, trazida à terra pelo amor do avô marinheiro; o bebê ciclope; o pai de família atormentado que dorme com revólver debaixo do travesseiro; a filha preferida, Dália, que mergulha em desespero; o tigre que, na sombra de um pequeno bosque inexistente, espreita tudo; ou os afogados da casa da praia chamada Casa do Mar, que à noite vêm para a beira das águas e falam com a personagem principal, Dôda. Dôda é uma menina diferente. Nasceu com uma perna mais curta, mas, embora deficiente, é a dona de todos os mistérios: trilha caminhos que os outros não alcançam, como o mundo dentro dos espelhos – que, segundo ela, têm vida própria. Dôda registra a trama de todos, fala, sente e sofre por todos. Brinca com a criança imaginária de uma mulher sem filhos; é acompanhada, na dança por esse mundo onírico, pelos passos de veludo de um dócil tigre de olhos azuis; e dialoga com o alter ego, ou a gêmea dentro dos espelhos, Dolores, que em muitos aspectos é como ela gostaria de ser. O mundo do espelho é lugar da liberdade e da poesia. O avesso real é decepção, tragédia, ruptura, caminho inevitável na busca de identidade de Dôda, a menina que se faz mulher. Tudo é surpreendente, mas o final surpreende ainda mais.

O Tempo é um Rio que Corre, 2013

Faz o leitor refletir sobre o mais precioso bem: o tempo. Logo no título, a força e a beleza do texto se anunciam. Sempre caudaloso, torrencial, porém jamais imóvel. Se só o título já suscita tanta reflexão, é certo que essa leitura tem capacidade de mudar a vida e o pensamento de muita gente. Ao mesclar memória e reflexões sobre a passagem do tempo, esse pungente ensaio sobre as relações humanas, a infância, a juventude, o amadurecimento e a morte, e o valor da vida, temas e inquietações marcam a era da suposta falta de tempo.

Paisagem Brasileira, 2015

O Brasil está em crise. A cada dia os noticiários trazem um novo escândalo na política, na economia, na educação, na segurança, na saúde. E o povo brasileiro espera por mudanças. É necessário acreditar num amanhã melhor. Esse é o mote deste ensaio literário-político, em que a autora explora os fundamentos da democracia para expor a perplexidade ante o panorama do país. É um comentário despretensioso de uma brasileira que não é perita no assunto, mas tece um olhar sobre o que acontece. Dividido em quatro partes – Amor e dor, Os fundamentos, A paisagem e Sem ilusões –, o livro é composto pelo encadeamento de pequenas reflexões intercaladas pelo desejo otimista de uma solução. De linguagem simples e coloquial, é uma conversa direta com o leitor e apresenta o olhar de quem se perde nessa paisagem confusa e instável, cheia de contradições e com destino incerto. Lê-lo é encontrar certa poesia na esperança de um país melhor.

A Casa Inventada, 2017

Com um gênero híbrido – mistura de romance, ensaio e autoficção –, a autora traça o roteiro para a casa, projetando, um a um, os cômodos, elementos e detalhes necessários a esta construção: a porta de espiar, o espelho de Pandora, a sala da família, o quarto das crianças, o porão das aflições, o pátio cotidiano, o jardim dos (a)deuses. A casa é, em um primeiro entendimento, o espaço físico, expressão dos moradores. Mas também uma metáfora da existência: morada da família e dos afetos, da amizade e dos amores, mas também da dor, das frustações, dos traumas e até da morte, num entendimento de que tudo deve estar, harmoniosamente, ao abrigo desta casa inventada. Metade formada de escolhas; a outra metade, milagres.

As coisas Humanas, 2020

Por meio da prosa poética única que caracteriza toda a obra da autora, ela reflete sobre o lado belo e feio da existência, as coisas leves e pesadas, aquilo com que se lida de modo simples e o que é difícil suportar. O leitor é convocado a desvelar significados: infância e velhice, alegria e terrores, família, solidão e amor, trabalhos e luta, beleza, mistério e morte – tudo o que os torna seres humanos.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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Heloísa Corrêa

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