É um velho refrão: de médicos e loucos, todos temos um pouco.
Salvo porém com coisas muito simples não deveríamos bancar os médicos, baseados por exemplo no Google. Concordo que essa ferramenta é muito útil para nossa informação. Mas daí a nos automedicarmos vai um perigo real. Também tenho certeza de que é um erro grave desobedecer às instruções dos profissionais da saúde. Em fevereiro deste ano publiquei uma crônica na qual narrava uma bobagem que cometi, aos 47 anos, após me operar de um esporão do calcâneo. O médico mandou que ficasse de repouso vários dias, com a perna para cima. Não dei muita bola, não sentia dores, saí de muleta para lá e para cá, deu uma deiscência de sutura, tive que me submeter a debridamento e esperar por longo tempo pela cicatrização por segunda intenção.
Certo dia cheguei à fazenda após uma semana de ausência. Após os relinchos de praxe, perguntei pelo filho de um dos peões. Me disseram que estava de cama. Tinha caído de moto e “lastimado” a perna, mas estaria tudo bem porque um “arrumador” de osso já tinha dado jeito. Entrei no quarto do rapaz. Estava de calção e com uma tala de lascas de taquara envolta numa fita de pano, do meio da coxa até o meio da canela. Claro que se tratava de uma fratura grave. Chamei o pai do guri e disse que ia levar o filho imediatamente ao hospital. “Mas doutor, não ‘percisa’, o osso vai ficar bom!”. Insisti que não tinha conversa e que ia já chamar a ambulância. E o pai renitente. Fui claro: “Então vou chamar agora a polícia!!”. A ambulância veio logo, o rapaz foi internado, é claro que a perna estava fraturada. O moço se salvou. Graças aos médicos do Hospital de Santiago.
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Certa madrugada, na estrada, vi uns carros estacionados no acostamento. Tinha havido uma colisão frontal entre dois caminhões. Um dos motoristas dava a impressão de já estar morto. Nisso chegou a polícia. Ainda deu tempo de eu conseguir subir na cabine do outro caminhão, que estava com o vidro da janela semiaberto e o motorista estava lúcido. A deformação com o choque não permitia abrir nenhuma das portas e ele estava com as pernas presas. Alguns homens arrancaram os cabos da bateria para evitar um incêndio. Os policiais pediram que nos afastássemos, que a ambulância já fora chamada. Subi na boleia do que estava vivo e lhe perguntei como estava. Ele respondeu: “Atendam o outro, vejam se está vivo e fiquem frios, que estou bem”. Segui meu caminho e de noite o rádio deu a notícia: os dois motoristas tinham morrido. A falta de um médico… que pena.
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