Empoderamento, ícone, quebra de paradigma, atitude republicana, pessoa humana, estado democrático de direito. São algumas expressões que de tão surradas torturam o ouvido do vivente. Ouço discursos desde os 8 anos de idade. Em 1968, meu pai elegeu-se vereador, época em que os edis não tinham salário.
Trabalho como assessor de políticos há décadas. Somando o tempo empregado com a oitiva de manifestações, somo mais tempo que horas de sono. Durmo cinco horas por noite. A falta de criatividade e de clareza é assustadora. Pessoas públicas deveriam ser mais zelosas com sua imagem. Deveriam usar de mais clareza, objetividade, em resumo, um vocabulário acessível. Todo orador tem a obrigação de ser, no mínimo, compreensível.
Sou assíduo telespectador das sessões do Supremo Tribunal Federal muito antes da Operação Lava Jato, antes mesmo do Mensalão, verdadeiro marco da desconstrução de parte da corrupção institucionalizada no Brasil. Tenho consciência de que os operadores da lei, especialmente osmagistrados – juízes, desembargadores e ministros dos tribunais superiores – precisam explicar suas decisões com minúcia.
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Com a popularização do STF, o aumento da audiência foi proporcional à incompreensão entre os espectadores. O voto da ministra Rosa Weber, prolatado (!) na sessão que decidiu pelo não acolhimento do habeas corpus do ex-presidente Lula, driblou inclusive os iniciados na hermética linguagem do Direito.
A função dos magistrados é fundamental através da interpretação dos preceitos legais, decisões que são vitais para milhões de brasileiros. Ao mesmo tempo, acredito que todo agente público – os homens de toga são funcionários públicos! – deveria preocupar-se com a didática, aproveitando para ensinar a enorme audiência.
O português é uma língua ingrata. Fico boquiaberto com senegaleses, haitianos e outros refugiados que conseguem falar o nosso idioma. O português tem mais exceções que regras. São milhares de especificações com centenas de exclusões, casos especiais e detalhes incomuns.
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Tive ótimos professores de português. Tão bons que estimularam meu interesse pelo jornalismo, numa rotina que me obriga a dominar minimamente o vernáculo. Escrever é um doloroso exercício porque uma obra escrita fica, em algum lugar, eternizada. Isso parece bonito, mas para o autor é traumático. Cada leitura desperta dor do tipo “por que não usei outro termo, por que não alterei a pontuação, por que, por que…”.
Data vênia, é preciso falar de forma mais simples, direta, objetiva e construtiva. Do contrário serão apenas palavras enfileiradas que desestimulam a ação. Falar, apenas, não adianta.
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