Acostumar-se a viver sob incertezas e em um mundo que se transforma a todo momento. Esse será o grande desafio das empresas e profissionais em 2022 e nos próximos anos, segundo o doutor em Comunicação Dado Schneider, que palestrou nesta semana em Santa Cruz em evento promovido pela Associação Comercial e Industrial (ACI).
Consultor de empresas, pesquisador da chamada geração Z e um dos palestrantes mais requisitados do País, Schneider acredita que o ritmo alucinante com que as mudanças conjunturais acontecem hoje deve tornar cada vez mais difíceis as projeções a longo, médio e até curto prazo. Segundo ele, a realidade dos próximos anos será de incapacidade de previsão do futuro. “Hoje não temos como saber o que vai acontecer no mês que vem. Não sabemos como vai estar a taxa Selic, o dólar ou se vai ter Carnaval. O problema da década é a aceleração da velocidade da mudança”, disse.
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A diferença fundamental entre os séculos 21 e 20, conforme ele, reside justamente na condição de estarmos expostos a um volume, complexidade e velocidade de mudanças jamais experimentados. “Somos seres que não vão mais ter quatro ou cinco cenários possíveis. Na época da hiperinflação, trabalhávamos com cinco ou seis cenários. Quantos cenários temos para 2022? Uns 80 por dia.”
Essa incapacidade está no radar de Schneider há vários anos e é o ponto central de um livro lançado por ele em 2015, O mundo mudou… bem na minha vez!. Após a publicação, porém, outro fator entrou em cena: a Covid-19. E, junto com ela, uma precipitação da transição entre séculos. “A nossa fôrma mental é do século 20, que era vertical. Tudo vinha de cima para baixo. Mas a geração Z foi criada em uma agenda horizontal. Nós sabemos o que é uma ‘carteirada’, eles não reconhecem.”
O ambiente escolar ilustra bem essa alteração de paradigma. Até o século 20, os professores eram como “satélites”, enquanto os alunos eram os “planetas” na sua órbita. Com a internet e o celular, isso mudou, já que todos têm acesso a fontes inesgotáveis de informações. “A internet possibilitou que todo mundo fosse planeta”, metaforizou. A experiência dos mais velhos deixou de ser supervalorizada e antigos valores culturais estão hoje em revisão. “É óbvio que esse século é das mulheres. E anotem: vocês ainda vão falar ‘todes’”, disse, em referência às correntes discussões sobre linguagem neutra que opõem conservadores e progressistas.
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A Covid-19, analisou Schneider, foi uma espécie de última pá de cal nos mecanismos do século passado. “A pandemia tirou o século 20 de cena. Tudo o que tem cara, cheiro, estrutura, lentidão e ranço de século 20 está velho”, observou. Esse fenômeno está diretamente relacionado à digitalização da sociedade. Não se trata de uma novidade, e sim de uma aceleração: a transformação digital estava andando, mas passou a voar desde que a crise eclodiu, no início do ano passado. “Não fosse a Covid, a gente ia estar ainda sem acessar o Zoom. Mas o Zoom existe há mais de cinco anos.”
No que toca ao universo dos negócios, todas essas alterações devem representar situações desafiadoras: mais competitividade, clientes menos fiéis, concorrências mais agressivas e dificuldades muito maiores para administrar as próprias equipes. E para resolver essa equação, o especialista alerta: não há manual ou solução tirada da cartola, na contramão do que prometem conteúdos altamente duvidosos e vendidos a preços caros nas redes sociais.
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A palavra-chave, segundo ele, não é reinvenção, e sim adaptação. Inclusive porque, ao contrário dos adultos do século 20, os adultos de hoje terão, por conta das perspectivas cada vez maiores de longevidade, que conviver por muito tempo com o mundo em constante transformação. “O século 21 exige Darwin na veia”, resume.
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