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LUÍS FERNANDO FERREIRA

Culpados até prova em contrário

Poucos dias após a morte do congolês Moïse Kabagambe, espancado de forma covarde na Barra da Tijuca, no Rio, chega a notícia de mais um caso inaceitável de violência. Outra vez, um homem negro foi morto no Brasil. O motivo: foi confundido com um bandido pelo próprio vizinho de condomínio.

Aconteceu na noite da última quarta-feira, em São Gonçalo (RJ). Durval Teófilo Filho, de 38 anos, retornava do trabalho quando foi baleado por Aurélio Alves Bezerra, sargento da Marinha. O militar viu Durval se aproximando de seu carro, imaginou que era um assaltante e atirou sem hesitar. Aurélio foi preso em flagrante e indiciado por homicídio culposo – quando não há intenção de matar. Assim entendeu a Polícia Civil: não houve intenção.


Mas basta ser negro para tornar-se alvo de tiros? O crime de quarta-feira traz à memória outro caso recente. Em dezembro do ano passado, em Açailândia, Maranhão, Gabriel da Silva Nascimento foi espancado diante da própria casa. Ele estava dentro de seu carro, preparando-se para sair, quando um casal retirou-o à força do veículo. Pensaram, é claro, que Gabriel fosse um ladrão e partiram logo para a violência. Toda a sessão de espancamento foi flagrada por câmeras de segurança: chutes, socos e tentativas de sufocamento, de parte dos dois. As agressões só pararam quando uma testemunha interferiu, e sabe-se lá o que teria acontecido se ninguém interviesse. Tanto para Gabriel quanto para Durval, a cor da pele serviu como sentença: se é negro, deve ser bandido.

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Em abril do ano passado, o instituto PoderData realizou uma pesquisa sobre racismo. Por telefone, 2.500 entrevistas foram feitas em 482 municípios do Brasil. Uma das questões era: “Você tem preconceito contra negros?”. Nada menos do que 38% entrevistados responderam “sim”. É um número maior do que o apontado no levantamento anterior, de novembro de 2020, quando 34% se reconheceram como racistas.


Mas existe algo mais no ar. Há uma agressividade à flor da pele, que não conhece limites e parece sempre pronta a explodir, e que só se satisfaz com a morte. Como no caso de Moïse, que já estava subjugado, vencido, quando negros como ele decidiram matá-lo.

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