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Cuidados financeiros em tempos de crise

A quarentena imposta por governantes estaduais e municipais, por motivos com os quais alguns concordam, outros não, completou dois meses e não deixou só as ruas e calçadas com muito menos movimento, quando não vazias. Muitos brasileiros, quando olham para a carteira ou conferem o saldo da conta bancária, só encontram muitos motivos para se preocupar: o dinheiro que, em muitos casos, já era pouco, está desaparecendo. Um dos reflexos é que, embora as famílias falem em evitar novas dívidas, cresce a fatia das que não conseguirão pagar contas, muitas delas já vencidas, conforme apurou pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Quem está sentindo o orçamento apertar, quer voltar a trabalhar, dizendo que “prefere morrer de coronavírus que de fome”. Mas, sem vencer a Covid-19, a retomada econômica não se sustentará. Por isso, o desafio fundamental que deveria unificar ações de governos, associações, empresas e sociedade, é a maneira de enfrentar a pandemia, o que, infelizmente, ainda não aconteceu. Pelo contrário. No início desta semana, operações desencadeadas pela Polícia Federal, no governo do estado do Rio de Janeiro e que poderão atingir outros estados, sem entrar no mérito, mas que exalam “cheiro” de retaliação política, poderão piorar a situação da pandemia no Brasil. Instituto dos EUA (Institute for Health Metrics e Evalçuation-IHME) prevê que o Brasil tenha, no início do mês de agosto, quase 126 mil mortes.

O cidadão, por sua vez, deve pensar com calma para não piorar o que, eventualmente, já não estava bem. Muita gente ainda não fez aquela lição inicial e básica em relação às finanças pessoais, em qualquer tempo, que é formar uma reserva financeira para enfrentar imprevistos. Numa situação mais grave, como esta que estamos vivendo, a reserva financeira poderia contribuir para atravessá-la com mais tranquilidade, embora ter dinheiro no bolso possa não resolver tudo, como a falta de oferta do que se precisa comprar ou contratar.

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De qualquer maneira, neste contexto de crise, não dá para ficar parado: é preciso fazer alguma coisa porque os gastos continuam ocorrendo, pelo menos com itens básicos, como aquisição de comida, produtos de higiene, saúde, etc. A tendência é que essas despesas e outras, como água, luz e gás até aumentem porque as pessoas ficam mais tempo em casa.

Reinaldo Domingos, criador da DSOP Educação Financeira e autor de livros, além de outras atividades, no vídeo Dinheiro à vista, de 18 de maio, em que fala em “Como não se endividar em tempos de crise”, aponta quatro pontos principais:
1º) identificar o real problema na crise: se houve redução salarial ou, pior ainda, desemprego e quebra de negócios; surgimento ou aumento de dívidas; padrão de vida que talvez esteja acima da renda; não saber quanto e onde gasta seu dinheiro;
2º) orçamento reduzido: encarar o problema, não fugindo dele; procurar colocar em dia a situação, agora, sob pena de piorar mais à frente; envolver os familiares;
3º) resistir à tentação dos empréstimos: empréstimos são dívidas que precisam ser pagas; é preciso avaliar a taxa dos juros cobrados; cabe salientar que ter dívidas não é um problema, desde que se consiga pagá-las ou renegociar/postergar seu vencimento;
4º) renda extra: muitas pessoas procuram desenvolver atividades fora de sua profissão e com isso obterem uma renda extra; dependendo do tipo de atividade, é preciso observar se dispõem do capital para iniciar uma nova atividade e o tempo necessário para aprender habilidades que talvez ainda não tenham; enfim, a renda extra é um paliativo e não é solução definitiva para um problema, embora, como já aconteceu em alguns casos, uma atividade secundária para obter uma renda extra possa tornar-se a atividade principal.

Mesmo tendo sido desdenhada por políticos e especialistas, a pandemia do coronavírus atingiu também o Brasil e está fazendo estragos, com as mortes em números cada dia maiores, o isolamento social, o estresse da população e, claro, os graves problemas econômicos no presente e, talvez piores, no futuro.

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A partir das experiências adotadas nos países em que a pandemia se manifestou primeiramente, já se poderia prever, com certa antecipação, o que iria ocorrer por aqui, quando o vírus chegasse. Mas, enquanto no Governo Federal, o Presidente dizia e fazia uma coisa, o Ministro da Saúde recomendava outra, os Governos Estaduais e Prefeitos das cidades, talvez porque antevissem o problema e já o vivessem mais de perto, trataram de impor o isolamento social e restrições nas atividades comerciais, industriais, de serviços, de escolas, igrejas, esportes. Certamente, essa falta de conversa e sintonia entre os órgãos públicos implicou que uma grande parcela da população, principalmente nos grandes centros urbanos, não aderisse ao isolamento social, favorecendo a contaminação em larga escala. O resultado é o caos nos hospitais e mortes em número crescente, além da prorrogação do isolamento social e das restrições das atividades econômicas e sociais.

Enfim, mesmo com a suposição de que o vírus da Covid-19 estará sob controle, nas próximas semanas, a economia do Brasil, que já não vinha apresentando resultados mais consistentes, iniciará a recuperação de forma muito lenta, como já vem acontecendo em outros países. Só porque as lojas e restaurantes abriram suas portas com limitações, além de receios naturais com a possibilidade de contaminação, não quer dizer que todos os clientes vão voltar imediatamente, compensando o que deixaram de gastar nos últimos dois meses. Há uma capacidade de pagamento das pessoas e famílias brasileiras que foi comprometida ou até perdida, e precisa de um tempo para se recuperar. Quanto tempo só o tempo dirá.

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