Crônica policial: O assalto que ninguém viu

Fora da agência, tudo parecia normal. O movimento de automóveis já era intenso na Rua Tenente Coronel Brito e pedestres iam e vinham pela calçada, sem imaginar que, do outro lado das paredes envidraçadas do banco, 12 pessoas eram mantidas como reféns. Para quem seguia sua rotina no Centro de Santa Cruz, alheio ao assalto na agência, o tempo certamente corria bem mais rápido do que para quem estava lá dentro, sob a mira de pistolas. 

Passava das 9 horas e o clima já era tenso entre os próprios assaltantes. Até ali, tudo havia corrido conforme o planejado pelos bandidos. A ação fora extremamente discreta. O dia mal havia raiado quando o bando chegou ao banco, a bordo de um Polo vermelho com placas frias, naquele 24 de junho de 2004. Dois que os tripulantes desembarcaram, entraram na área de autoatendimento e ficaram só esperando.

O primeiro a chegar, às 7h55, foi o gerente. Rendido pela dupla, teve que abrir a parte interna da agência aos invasores. A partir daí, todos os funcionários que iam chegando para trabalhar eram recebidos, um a um, pelos homens armados. Quando o vigia entrou, também foi rendido e obrigado a permanecer em seu posto, como se nada estivesse acontecendo. 

Do lado de fora, os comparsas bancavam os olheiros, anunciando pelo celular a chegada de cada novo funcionário. Para mostrar que não estavam brincando, os assaltantes ainda deram uma coronhada em um dos reféns. Porém, um dos cofres, equipado com timer, estava demorando mais do que o previsto para abrir. Às 9h20, o grupo desistiu de esperar e deixou o local levando cerca de R$ 25 mil – bem menos do que pretendia.

O nome da boate era outro, bem mais glamuroso. Mas, entre os frequentadores, o lugar era mais conhecido como Buraco. Tinha um estacionamento estrategicamente discreto, situado em um declive bem íngreme, abaixo da Rua 28 de Setembro. Aproveitando-se da discrição do pátio, os assaltantes abandonaram ali o Polo vermelho usado no assalto e desapareceram.

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