Exatamente no momento em que as empresas começavam a recuperar o fôlego após dois anos seguidos de recessão, a delação dos executivos da JBS, que envolveu o presidente Michel Temer, jogou o Brasil em uma nova onda de incerteza. A consequência imediata, apurou o ‘Estado’, foi a paralisia em acordos que estavam para ser fechados – como fusões e renegociações de dívidas – e a suspensão de projetos de abertura de capital. Em um período em que as vendas começavam a se reanimar, empresas também já sentiram os primeiros impactos negativos em seu dia a dia.
O presidente da fabricante de MAN/Volkswagen no Brasil, Roberto Cortes, desistiu de participar de uma reunião de acionistas na matriz da fabricante de ônibus e caminhões, na Alemanha. “Achei melhor ficar aqui, acompanhar a situação e continuar o trabalho para a recuperação do mercado”, disse.
Na agência de viagens CVC, a ordem é garantir que a equipe esteja focada nas vendas. “É claro que a alta do dólar afeta um pouco o passageiro internacional, mas não temos de perder tempo pensando no governo. Aqui é ‘varejão’, abrimos a lojinha todo dia”, disse Luiz Falco, presidente da agência de viagens, que fechou a aquisição do Grupo Trend, por R$ 258 milhões, no início deste mês. “Temos mostrado resistência à crise, tanto que crescemos entre 5% e 6% nos últimos anos, mas claro que a situação não é um passeio no parque.”
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‘Bomba atômica’. Falco percebeu a nova crise política de forma imediata – ele participava de um evento do Itaú, em Nova York, ao lado de outros executivos brasileiros, e disse que o comportamento dos investidores sobre o País mudou da água para o vinho. “Estava todo mundo otimista e, de repente, explodiu uma bomba atômica. Teve gente desmarcando reunião”, disse. “E tem estrangeiro com o dedo no gatilho para investir no Brasil.”
Embora tenha sentido um impacto direto nas vendas após a divulgação da delação dos irmãos Batista, da JBS, o presidente e sócio da Kalunga, Roberto Garcia, afirmou que a verdade sobre a política brasileira precisa continuar a vir à tona. “É claro que não é bom para economia, especialmente no curtíssimo prazo, mas acho que temos de saber de tudo o que está se passando”, disse. “A política brasileira está parecendo série da Netflix, sempre tem um capítulo novo.”
A situação é de cautela mesmo para empresas como a Bayer, que atua em dois dos setores que menos foram afetados pela crise até o momento, como medicamentos e agronegócio. Para o presidente da multinacional alemã Bayer no Brasil, Theo Van der Loo, o cenário brasileiro voltou a ficar turvo. “É difícil ainda saber o impacto da crise. E não é o momento para a tomada de decisões importantes.”
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Na opinião de Ricardo Knoepfelmacher, da RK Partners, especializada em recuperação de empresas – e que trabalha para companhias como a construtora PDG e a Bombril, por exemplo -, o Brasil viverá um “hiato” de tomada de decisões enquanto a situação política não se resolver. “Tudo depende do tempo em que vão durar essas incertezas.” A tendência, segundo Ricardo K., é que os ativos brasileiros se desvalorizem, abrindo a chance de investidores estrangeiros aproveitarem essas oportunidades.
Longa espera
A tão aguardada recuperação econômica, que já vinha sendo celebrada, pode ser adiada até o ano que vem, segundo Alexandre Bertoldi, sócio-gestor da Pinheiro Neto Advogados, que assessora grandes processos de fusões e aquisições. “O Brasil estava dando sinais de recuperação. Mas as operações de mercado de capitais vão parar durante esse período de volatilidade – e tinha muita coisa engatilhada”, afirmou Bertoldi. “Os investimentos em infraestrutura vão sofrer um atraso enorme. Dependendo do que acontecer, (o retorno do crescimento) fica abortado até 2018.”
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Para Moacir Zilbovicius, sócio do Mattos Filho, ainda é cedo para dizer que o ano de 2017 está perdido, embora ele acredite que várias decisões de negócios vão ficar em “stand-by”. “Acho natural, neste momento, entender melhor para onde o mercado vai. É um intervalo de um jogo de futebol. Virá um segundo tempo”, disse Zilbovicius, que também assessora importantes fusões e aquisições. “Havia uma sinalização de estabilidade. Os investidores que conhecem o Brasil e estão aqui conseguem interpretar melhor. Já os que não conhecem o mercado brasileiro não vão entrar nesta hora.”
Fontes ouvidas pelo Estado afirmaram que neste atual momento de incertezas o Brasil voltou a ficar barato – e neste vácuo que entrarão investidores menos avessos a riscos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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