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Crise de estaleiros afeta economia de Rio Grande

Instalado à beira da Lagoa dos Patos, o pórtico gigante, trazido da Finlândia, era o símbolo da prosperidade do município de Rio Grande, no litoral gaúcho. Com 117 metros de altura e 210 metros de largura, o equipamento – pintado de um amarelo berrante – era visto de qualquer canto da cidade, que fervilhava com o avanço do polo naval e seus três estaleiros. Hoje esse mesmo pórtico, que custou cerca de R$ 400 milhões, está parado ao lado de milhares de toneladas de aço no Estaleiro Rio Grande (ERG).

De símbolo de bonança, o equipamento virou o retrato dos prejuízos que o setor causou na cidade. No dia 9 de dezembro do ano passado, o ERG – que tem como sócios a Engevix e o Funcef – teve seus contratos rescindidos com a Petrobras e demitiu cerca de 3 mil funcionários de uma só vez. Em seguida, entrou com pedido de recuperação judicial para equacionar uma dívida de R$ 7,5 bilhões. Nem deu tempo de terminar o casco da P-71, que ficou pela metade.

A derrocada do estaleiro teve efeito imediato na economia da cidade. Empresários que investiram na expansão dos negócios estão endividados e sem dinheiro para honrar os compromissos firmados; trabalhadores perderam o emprego e não têm perspectivas de recolocação no mercado e o índice de criminalidade cresceu. “O retrato do que se vê aqui é de um impacto social violento e de uma retração do desenvolvimento da região”, afirma o prefeito de Rio Grande Alexandre Duarte Lindenmeyer.

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No auge da construção de embarcações, os três estaleiros do polo naval (Rio Grande, QGI – Queiroz Galvão Iesa e EBR – Estaleiros do Brasil) empregavam cerca de 24 mil trabalhadores e giravam uma economia que crescia em torno de 20% ao ano. Além do ERG parado, os outros dois também seguem o mesmo caminho. O QGI tem mais dois meses de trabalho e o EBR vai até o fim deste ano. Se nada for feito, outros cerca de 4 mil funcionários serão demitidos e vão engrossar a lista de desempregados na cidade.

O efeito multiplicador do polo naval funciona para o bem e para o mal. Com a queda na demanda, os empresários locais também passaram a demitir. O empresário Luiz Carlos Hilário conta que ampliou a rede hoteleira na cidade para atender à demanda do polo e agora está com elevada capacidade ociosa. “Dependendo do mês, a ocupação fica entre 30% e 40%. No auge dos estaleiros, tinha 98%”, diz ele, que é dono de quatro hotéis em Rio Grande. Para se adequar à nova realidade, a solução foi cortar custos e reduzir o preço da diária. “Ainda assim, esses dias um dos hotéis não tinha nenhum hóspede. Isso nunca tinha ocorrido antes.”

A situação de Renan Guterres Lopes é ainda pior. Ele investiu numa frota de ônibus para atender às empresas do polo naval e hoje não sabe o que fazer com os ônibus. Para piorar, Lopes pegou empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e hoje não tem caixa para pagar a dívida. Quando os primeiros estaleiros começaram a chegar a Rio Grande, a empresa de Lopes, a Universal, tinha apenas nove ônibus para atender aos clientes. Conforme o polo avançava, ele aumentava o número de veículos, até chegar a 90 ônibus. Hoje os carros estão sucateados no pátio, alguns sem motor e sem pneu. “Daqui a pouco eu vou doar ônibus, pois é mais barato do que bancar o custo dos veículos parados.”

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Estabelecimentos que tinham relação indireta com o polo naval também sofreram um baque com o fechamento do ERG e redução dos serviços na QGI e EBR, além da retração da economia. Diante da perspectiva da população dobrar em dez anos, a cidade ganhou dois shoppings centers. Um deles foi concluído no meio da crise. Sem demanda, lojas e restaurantes foram fechados e quem continua de pé está renegociando os contratos de aluguel. “Em toda a cidade, 10% do comércio fechou as portas”, afirmou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Rio Grande), Luiz Carlos Teixeira Zanetti. O próprio executivo fechou uma de suas três lojas de material de construção. 

Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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