Nascida no Ceará, mas com origens gaúchas, a jovem Jaqueline Wilke François, 29 anos, é hoje designer de joias e calçados para empresas espalhadas pelo Brasil. Morando em Farroupilha, na Serra Gaúcha, a ligação com Sobradinho se dá pela família materna. Foi com pouco mais de 1 ano de idade que ela veio do Ceará com a mãe, que retornava a sua cidade de origem. “Para mim, Sobradinho é minha terra natal, minhas memórias de infância e adolescência são todas daí, inclusive minha formação como pessoa”, contou.
A escolha pelo curso de Desenho Industrial nasceu da criatividade aguçada de Jaqueline desde a infância. Este é o ponto inicial da trajetória profissional de Jaqueline. “Desde criança sempre fui muito lúdica. Sempre tive uma questão ligada à criatividade muito intensa. Minha família me reconhecia por essa criatividade, algo que é normal na infância as crianças serem criativas, só que foi algo que, conforme fui crescendo, continuou muito presente. Sempre me encantou muito tudo que era ligado a esse viés mais artístico, profissionais da área, trabalhos ligados à arte e criatividade. Tudo isso me despertou um interesse muito grande”, destacou.
Na hora de definir a graduação, entre os cursos que circundam a área, Jaqueline optou por seguir a carreira no Desenho Industrial. Uma conversa com um amigo arroio-tigrense, que já frequentava esta graduação, foi o “clique” final para a escolha, enquanto ainda estava no primeiro ano do ensino médio. “Já tive ali essa certeza de que seria o Design”, acrescentou.
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Um dos desafios a serem transpostos, segundo Jaqueline, foi justamente o desenho. “Eu não tinha tanta habilidade para o desenho manual. Até sabia desenhar, gostava, mas quando olhava os desenhos de quem eu considerava grandes designers, o desenho manual era algo que pensava: ‘meu Deus, como vou conseguir fazer isso’, pois acreditava que muito além da criatividade deveria ter essa habilidade manual”, contou. Porém, no decorrer da faculdade, ela percebeu que o desenho era um algo a mais, mas o principal era, sim, a criatividade, tão presente em sua vida.
Inspirações
Jaqueline coleciona memórias de pessoas que foram inspirações para nutrir o seu amor pela arte. Entre elas está a sobradinhense Tuf Luchese (já falecida). “A dinda Tuf sempre foi dentro de Sobradinho uma grande personalidade ligada a essa questão das artes. Eu lembro que sempre olhei para tudo o que ela fazia com brilho no olho, e que aquilo era muito legal, e ainda o quanto eu tive essa proximidade com ela, inclusive na loja da minha mãe, em bailes de debutantes e ela pintando coisas para mim, fazendo maquiagens especiais… Então todo esse viés artístico que a Tuf tinha é algo pelo qual lembro que desde a infância sempre fui muito encantada, com ela e com a sua profissão”, revelou.
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Quem também está na lista de inspirações é a professora sobradinhense Neusa Vinhas. “Além de ser minha professora, era uma grande amiga da família. Aprendi muito sobre arte convivendo com ela. Sua própria casa, com detalhes artísticos, me encantava. Sem dúvidas essas duas pessoas para mim foram grandes influências no viés artístico”, declarou.
Outra vertente de inspiração, mais ligada à moda, foi a própria loja de confecções da mãe, Nadiesca Wilke, que, conforme Jaqueline, além do sustento da família, possibilitou que ela morasse em outra cidade para realizar o curso dos sonhos. Ao crescer com esta vivência, acompanhando as vendedoras nos atendimentos, analisando as preferências dos clientes, recebendo representantes e viajando junto com a mãe para show rooms, compreendendo o conceito das coleções, foram fatores que contribuíram com a carreira que escolheu seguir.
Experiências
Durante a faculdade, Jaqueline conta que participou de capacitações e projetos que agregaram em sua formação, como em gestão e trabalho em equipes, vendas, comunicação e desenvolvimento de lideranças. Atuando em uma organização no período de graduação, teve oportunidades como a de realizar intercâmbios corporativos, traçar e executar metas, realizar parcerias com grandes empresas, participar de projetos sociais, eventos e realizar palestras para grandes públicos.
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“Hoje, além de estarmos capacitados na área específica, trabalhamos com pessoas, em equipes. Se Deus quiser futuramente serei líder de uma equipe, e ter tido estas experiências desde a faculdade foi todo o diferencial na minha carreira como designer, porque depois, quando entrei em empresas, em uma fábrica de joias onde trabalhava anteriormente, tive que fazer viagens pelo país, em feiras nacionais de joias de ouro, onde tinha que desempenhar o contato com os clientes, a venda estratégica. Todo esse conhecimento comecei a desenvolver ainda nessa organização”, destacou, acrescentando que os desafios existem e é preciso estar em constante renovação.
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Há sete anos formada, Jaqueline atua, desde o estágio na graduação, como designer de joias e há dois anos também no ramo calçadista. “E uma curiosidade é que entrei no ramo calçadista por uma empresa que estava procurando por uma designer de joias”. Mas tem mais: ela havia realizado um curso durante a faculdade sobre este segmento, o que a oportunizou ministrar uma palestra sobre joalheria, junto com seu professor orientador, dentro da empresa em que hoje atua. “Às vezes eu sinto que esse destino já estava traçado há muito tempo. Desde o início essa conexão das joias com os calçados e hoje eu estar atuando nestas duas áreas, é muito interessante”, frisou.
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Dedicando-se em uma jornada dupla, além de atuar como funcionária em uma grande empresa do setor calçadista brasileiro, que inclusive trabalha com exportações, Jaqueline segue trabalhando também em sua própria empresa, como designer, atendendo fábricas de joias e importantes redes de joalherias pelo Brasil. “Também trabalho com a parte de design de joias exclusivas, então, além de empresas, qualquer pessoa que quiser uma joia especial pode entrar em contato”, destacou.
A arte de criar
Sobre o processo de criação, a profissional menciona que há um grande estudo por trás de cada produto, que passa pelo briefing (todo um estudo estratégico) e depois as tendências (que estão ligadas ao comportamento humano, o que o consumidor está esperando). “Após entendermos estas duas coisas que são superimportantes, a gente deixa a imaginação fluir. Esse processo criativo é muito livre, não existe um padrão. Tem vezes que rabisco à mão, desenho no computador, faço com massinha de modelar, ou nas joias, às vezes a partir de uma pedra natural. Então é bastante livre”, pontua. As adequações vão se moldando até chegar no resultado esperado.
Para compor um processo de criação de joias e calçados, a metodologia, conforme ela, é muito semelhante, o que irá se diferenciar é a parte técnica, sobretudo pelos materiais que são utilizados em cada segmento. Um item que se soma, especialmente no design de joias, é o acompanhamento desde o desenho até a produção das peças. Já nos calçados este processo é um pouco mais independente, mas antes de qualquer criação ser lançada, um protótipo é encaminhado para checagem da designer.
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O sentimento ao ver alguém utilizando uma peça desenhada por ela, segundo Jaqueline, é muito gratificante. “As joias, particularmente, costumam ser utilizadas como símbolos de momentos especiais. Então acessar as pessoas desta forma, fazer parte da vida delas, sendo algo que represente um momento especial, não tem preço. Sempre fico muito feliz quando vejo alguém utilizando uma das peças que desenhei”, salientou.
No caso dos calçados, ela diz ser ainda mais simbólico, e explica o porquê: “hoje trabalho em uma marca que são calçados de valor acessível, focados em mulheres de poder aquisitivo mais baixo, e que de certa forma, no momento quando compram aquele calçado, isso é algo muito significativo para elas. E também uma forma de pensar, valorizar as mulheres, através do autocuidado, do embelezamento. Cada setor que trabalho carrega um significado diferente, mas para mim é emocionante em ambos”, acrescentou.
A jovem se diz muito realizada com sua carreira: “Eu acredito que o sucesso está muito ligado a ser feliz com o que se faz, e isso sempre foi algo presente em mim. Toda profissão tem adversidades. A carreira de designer não é fácil, é uma profissão que não é muito valorizada, então foi muito batalhado para chegar aonde se está, foi muito trabalho. Inclusive hoje trabalho muito, muito mesmo. Só que eu não conseguiria trabalhar tanto se não fosse muito feliz. Não tenho dúvidas de que escolhi a carreira certa, pois sou muito feliz no que eu faço”, concluiu.