Na casa da família Rieger é assim: o pai Alexandre, 45, e a mãe, Cristiane, 43, controlam todo o acesso dos filhos aos dispositivos móveis. O pequeno Vicente, 6 anos, dá os primeiros passos no ambiente tecnológico e se entretem com youtubers como Lucas Neto e Gabriel Manfredi. Já a mais velha, Maria Luíza, 13, interage no WhatsApp, compartilha conteúdos no Facebook, posta fotos e acompanha as atualizações dos colegas no Instagram. “Ela me pediu para entrar no Face quando tinha 10 anos e eu permiti com uma condição: que eu tivesse acesso às contas dela”, lembra a mãe, Cristiane.
O que hoje parece ser uma questão muito bem resolvida na casa Rieger, onde a mãe acompanha de perto os conteúdos consumidos pelos filhos, nos primeiros episódios gerou angústia. Afinal, existe idade certa para uma criança ganhar o celular? Quais são os conteúdos que podem ser consumidos na infância e na pré-adolescência? E por quantas horas ao dia?
Conforme a pedagoga e doutora em Educação, Cris Vieira, o uso desses dispositivos varia conforme o processo de amadurecimento e do próprio interesse e necessidade da criança. “Uma questão, porém, é certa. O tempo de exposição aos eletrônicos não deve ser maior do que o tempo que ela interage com a família e com outras crianças”, alerta.
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Esse é justamente o cuidado que Douglas da Silva, 33, e Nísia Fernanda Meyer, 32, têm com Lavínia, de 5 anos. O casal nunca privou a filha de acessar o smartphone e jogar, por exemplo, a Fazendinha. À medida que podem, porém, incentivam que a pequena desenhe, brinque de boneca e, principalmente, aproveite o pátio. “Sabemos que é importante introduzir a tecnologia na rotina dela. Não queremos, entretanto, que a Lavínia se torne refém desses equipamentos e deixe de interagir com a gente”, conta o pai.
Esse equilíbrio, avalia a especialista Cris, é fundamental para que a criança passe por processos de desenvolvimento importantes como o crescimento físico, o amadurecimento do cérebro e a assimilação de novas aprendizagens. “Os equipamentos eletrônicos podem, sim, estar inseridos no universo dos pequenos, desde que não sejam a única ou a principal alternativa.”
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À frente da Code (Escola de Inteligências Livres), de Porto Alegre, projeto que ensina os pais a lidar com a tecnologia na infância, a pedagoga salienta que não se recomenda o uso de tablets antes dos dois anos. Entende-se que até aquele momento tudo o que a criança experiencia de forma lúdica auxilia no seu desenvolvimento biopsicossocial e fortalece os laços de afeto entre a família e amigos. “O importante é que a criança não seja forçada a usar um equipamento pelo qual ainda não demonstrou interesse.” O tempo de exposição também varia conforme o equipamento e a faixa etária. “O período de atenção concentrada das crianças é pequeno e, conforme elas crescem, esse tempo vai aumentando.”
A primeira vez que Lavínia (que ainda não sabe ler) acessou o celular da mãe, Nísia, ela ainda tinha 3 anos e meio. “Peguei o celular, desbloqueei, e achei os joguinhos que eu gosto. Agora estou ansiosa pelo tablet que meu pai prometeu”, disse a pequena, bem desinibida.
Já Vicente, que também não chegou à fase da alfabetização, utiliza os recursos de voz do celular para encontrar os youtubers favoritos. Essa facilidade em acessar o dispositivo, porém, não é singular à duplinha.
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As crianças, segundo Cris Vieira, são nativas digitais e é preciso compreender que as formas de comportamento e interação serão diferentes das gerações anteriores. O que deve ser tratado como prioridade, porém, é o olhar atento e responsável da família. “Criança precisa ser cuidada e esse cuidado significa a orientação, o atendimento às necessidades e a afetividade.
Uma das principais orientações de Cris Vieira para que os pais consigam reduzir a utilização dos dispositivos pelos pequenos é o incentivo a outras brincadeiras. Reforça, porém, que a família precisa estar disponível para esses momentos. “Os pais precisam propor outras possibilidades interativas e lembrar que serão sempre a mais importante referência afetiva e emocional das crianças. Isso significa uma grande responsabilidade com relação ao seu desenvolvimento.”
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A advogada Cristiane Rieger faz questão de assistir os youtubers que Vicente acompanha e, vez que outra, acessa as contas nas redes sociais da filha. “Se os pais procurassem, ao invés de proibir, orientar, as coisas seriam mais tranquilas”, comenta a mãe. É na esteira desse processo que a pedagoga Cris Vieira acrescenta a importância de mãe e pai assistirem o que os filhos acompanham com o objetivo de avaliar se o conteúdo e o discurso ali colocados são adequados. Esse olhar, aliás, também vale para a televisão.
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