As restrições mais severas às atividades econômicas não impediram que a criação de empresas seguisse em alta em Santa Cruz no primeiro trimestre de 2021. Estatísticas da Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS) mostram que, entre janeiro e março, mais de 800 negócios foram abertos no município, número superior ao dos últimos dois anos.
Somente em março, quando os setores considerados não essenciais estiveram impedidos de atender clientes de forma presencial por três semanas, 252 empreendimentos foram constituídos, dos quais 67% são do setor de serviços. Embora o volume de extinções também tenha aumentado em relação a 2020 e 2019, os dados indicam um saldo positivo de 508 empresas.
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Analistas têm leituras distintas sobre a situação. Para o professor de Economia da Unisc, Silvio Arend, os números decorrem de fenômenos como o “empreendedorismo por necessidade” – pessoas que perderam o emprego e abriram pequenos negócios para sobreviver. Uma das evidências disso é que a maioria das empresas criadas são de pequeno porte: 81% são empresários individuais, o que inclui as MEIs.
O movimento também pode ser reflexo da chamada “pejotização”: trabalhadores que constituem empresas para atuar por meio de contratos de prestação de serviço. Ou seja, isso seria consequência não de uma reação econômica, mas de uma precarização do trabalho. “A pergunta é: qual o porte dessas empresas, quanto de capital foi empregado, quantos empregos foram gerados?”, ponderou.
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Diferentemente do ano passado, o cenário para os empresários foi mais difícil no primeiro trimestre deste ano, sem o auxílio emergencial e os programas de redução de jornada de trabalho e suspensão temporária de contratos. Na avaliação do presidente da Associação Comercial e Industrial (ACI), Gabriel Borba, é possível que, na contabilização da Junta Comercial, apareçam empresas que foram desativadas mas ainda não formalmente baixadas. Outros fatores são a criação de MEIs por profissionais autônomos como forma de reduzir a carga tributária e a abertura de empreendimentos 100% digitais. “No meio físico, não temos visto abertura de negócios, apenas fechamentos. Não vemos aquecimento na economia. Mas ainda acredito que o ano vai terminar bem”, disse.
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“Dados mostram a resiliência do brasileiro”
Na visão do consultor empresarial e vice-presidente da ACI, César Cechinato, os números relativos à criação de empresas indicam uma reação à crise gerada pela Covid-19. “Esses dados mostram a resiliência do brasileiro”, observou.
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Cechinato acrescenta que, apesar da recente elevação, a taxa de juros permanece em patamares muito inferiores aos de períodos anteriores. Isso pode ter reduzido a demanda por aplicações e estimulado o empreendedorismo, sobretudo em setores como o da construção civil. “É possível que pessoas estejam tirando dinheiro do mercado financeiro e colocando no mercado real.”
A suspensão das taxas de constituição de empresas pela Junta Comercial, medida adotada no ano passado e no início deste ano para mitigar os efeitos da pandemia, é outro fator que pode ter contribuído para o desempenho, na medida em que pequenos empreendimentos que estavam na informalidade aproveitaram a isenção para se regularizarem.
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Embora concorde que parte da geração de empresas deva ser atribuída ao desemprego, o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-RS), Mário de Lima, acredita que a crise também se revelou uma oportunidade para quem deseja empreender, sobretudo nos formatos e-commerce e não presenciais. “Todo o despertar de uma ação empreendedora é positiva. O lado negativo é que isso não está ocorrendo em um momento de crescimento econômico. Porém, são essas pessoas que estão colaborando na manutenção da economia e irão colaborar para que a economia volte a crescer”, concluiu.
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