O sequestro-relâmpago de homens que marcam encontros por aplicativos de relacionamento é um crime que está se tornando cada vez mais comum em São Paulo. Só em janeiro, ao menos três casos e uma tentativa frustrada foram registrados na zona norte da capital. Os encontros amorosos são armadilhas para a ação dos bandidos.
Os criminosos criam perfis falsos em sites de namoro com fotos e informações de mulheres atraentes para chamar a atenção das vítimas. Durante a paquera virtual, os sequestradores – verdadeiros donos do perfil – mostram interesse na conversa, mas disfarçadamente tentam descobrir a condição financeira da vítima. No encontro presencial, os bandidos aparecem e fazem o sequestro-relâmpago. A vítima é forçada a fazer transferências bancárias, via PIX, pagamento de boletos, saques e usar cartões de crédito para compras.
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No último domingo, 16, o golpe terminou com a morte do comerciante Alex Kim Shin. O homem de 31 anos foi abordado por dois ladrões quando chegava para um suposto encontro agendado por um aplicativo de relacionamentos na Vila Brasilândia. Alex tentou fugir com o Jeep Renegade, mas foi atingido por um disparo na região da nuca. Ele perdeu o controle do carro, que bateu na fachada de um comércio. A vítima foi levada para o hospital do Mandaqui, mas não resistiu ao ferimento. Os criminosos fugiram sem levar nada.
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Na semana anterior, dois crimes quase idênticos foram registrados em um bolsão de uma rua sem saída, na Cohab Taipas. No dia 10, um biomédico de 49 anos estacionou o Audi A4 prata para aguardar a suposta paquera. Fora do carro, ele tenta fazer uma ligação, como mostram as imagens das câmeras de monitoramento. Dois criminosos se aproximam às 19h55. Segundo a vítima, um deles estava armado. Os ladrões não conseguiram usar os cartões, mas levaram o veículo e deixaram a vítima em uma trilha deserta.
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Especialistas afirmam que os casos registrados em janeiro confirmam uma tendência de alta dos últimos três meses. “Percebemos o aumento de casos dessa natureza pelos registros das ocorrências nos últimos três ou quatro meses. Aumentou bastante”, afirma o delegado Ronaldo Sayeg, titular da Divisão de Antissequestro do Departamento de Operações Policiais Estratégicas.
No início de dezembro, o mesmo roteiro de medo e terror foi vivido por um empresário de 54 anos que se encantou com uma jovem bonita, loira, de cabelos compridos e que dizia ter 25 anos. Eles se tornaram amigos nas redes sociais em quase um mês de bate-papo virtual. No dia do encontro, no início de dezembro, ele esperou um pouco, dentro do Nissan March preto, mas a moça não chegou. Três homens, um deles armado, fizeram o sequestro, perto da Avenida Escola Politécnica.
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Os bandidos foram agressivos, fizeram ameaças e vendaram o refém. O grupo circulou pela região com o carro, realizando diversas transferências via Pix e empréstimos bancários em nome da vítima. Ele chegou a ser levado para um cativeiro perto da Favela São Remo. O homem foi liberado com um prejuízo de R$ 100 mil. “Desde a implementação do PIX, as quadrilhas estão praticando crimes como o de extorsão. Com a facilidade de transferência de valores altos, os criminosos elaboram formas de fisgar mais vítimas e mudam o modus operandi de tempos em tempos. Agora são os falsos encontros”, avalia o criminalista Demetrios Kovelis.
Essa modalidade de crime é segura para os criminosos, opinam os especialistas. “Antes dos aplicativos de relacionamento, os criminosos subjugavam as vítimas na rua. Agora, o criminoso atrai a vítima por meio de um perfil falso”, alerta Sayeg. “A vítima se torna uma presa fácil porque os criminosos não aparecem, são fantasmas. Há muita segurança para os marginais”, completa o advogado criminalista José Beraldo, que estima em 50% o aumento do número de casos nos boletins de ocorrência.
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Esses crimes estão inseridos no contexto da pandemia. Mesmo com a flexibilização das regras de isolamento, as pessoas ainda estão carentes de festas e relacionamentos, como explica a psicóloga Adriana Severine. “Os sites de relacionamento vieram para ficar. Neste momento de nova alta de casos de Covid, eles são uma forma segura de paquera – e todo mundo paquera”, diz a psicóloga. “Na hora do encontro, vale pedir o nome completo, CPF e pesquisar sobre a pessoa”, alerta.
Especialistas em Direito Digital afirmam que as plataformas não têm responsabilidade nos crimes que ocorrem nos encontros na vida real. O advogado Luiz Augusto D’Urso, professor de Direito Digital no MBA da FGV, aponta uma exceção. “Caso o perfil falso esteja se passando por alguém, a vítima deve solicitar reiteradamente a exclusão do perfil da plataforma e esta, por sua vez, se nada faz, pode ser responsabilizada”, diz o especialista. O advogado Matheus Falivene, professor de pós-graduação da PUC-Campinas e especializado em Direito Penal Econômico, vai além. “As plataformas têm de criar mecanismos de compliance para verificar a identidade de quem se inscreve”, diz o especialista.
As plataformas avançam neste sentido. O site Happn informa que envia, regularmente, mensagens para os usuários checarem se os perfis têm um selo azul, que é um certificado que indica a veracidade da foto. A Bumble permite que o usuário peça uma verificação por foto do perfil da pessoa com quem gostaria de conversar. A solicitação deve ser atendida em 24 horas por meio de uma selfie. “A ferramenta de verificação por foto adiciona uma camada extra de segurança e confiança”, explica a diretora Martha Agricola. Além da verificação por foto e do selo azul, o Tinder criou uma ferramenta que permite que os membros pesquisem apenas os perfis já verificados pela plataforma. Além disso, quando um usuário é banido do Tinder, ele perde acesso às outras plataformas do grupo, como OkCupid.
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