A pandemia do novo coronavírus mudou não só o comportamento, mas os hábitos alimentares. A procura por alimentos orgânicos e frescos, considerados mais saudáveis, fez com que feirantes rurais e orgânicos de Santa Cruz do Sul aumentassem a lista de produtos e variedades.
Na banca do casal Ingo Neumann, de 62 anos, e Jacinta, 60, de Linha Antão, interior de Monte Alverne, além de legumes, verduras e frutas, os consumidores encontram mais de 12 itens diferentes totalmente sem conservantes como bolachas, rapaduras, chimias caseiras de frutas, conservas, puxa-puxa e outros produzidos de forma caseira. “Muitas pessoas nos procuram, sabem da qualidade dos nossos produtos, que não têm conservantes nem agrotóxicos”, ressalta Jacinta.
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Na propriedade de 17 hectares, cinco deles são destinados para o cultivo dos alimentos. Sobre as dificuldades em tempos de estiagem, Neumann comenta que, sem irrigação e contando apenas com a água que vem de uma fonte natural na propriedade, a produção foi menor. “Todo o trabalho é feito de forma manual. A gente conta com a sorte, às vezes as plantas se desenvolvem e outras não. A colheita de pepino, por exemplo, este ano foi bem menor.”
O movimento nas feiras, assim como em supermercados, aumentou, como observa o feirante Delmar José Hentschke, de Linha João Alves, que trabalha na feira do Arroio Grande há 29 anos. Segundo ele, pelo fato de os produtos serem cultivados em propriedade rurais do município, com pouco manuseio, o risco de contaminação é menor.
“São produtos saudáveis e produzidos aqui no município, não vem de longe, não tem perigo de contaminação. Além disso, estamos fazendo a higienização em casa, com adição de cloro na água”, salienta Hentschke.
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Sem agrotóxicos
Para o químico e professor universitário Sandro Hillebrand, 44 anos, que frequenta a feira orgânica do Santo Inácio, a busca por alimentos saudáveis e especialmente orgânicos surgiu como forma de conscientização. “A gente tem certeza de que esses produtos não estão contaminados, que não possuem resíduos de agrotóxicos.” Segundo ele, a mudança alimentar teve início há dois anos. “Eu sabia da existência das feiras, mas preferia comprar em supermercados, porque em dias específicos ainda é mais barato nesses estabelecimentos. Mas, com o tempo, eu percebi que a economia era insignificante diante da qualidade. Percebo que nos últimos anos não fiquei doente, agora estamos no meio de uma pandemia e os cuidados devem ser redobrados.”
Conforme Hillebrand, além da qualidade e dos valores nutricionais dos alimentos, comprar na feira é uma questão de confiança. “Conhecemos as pessoas que manuseiam esses produtos, quem nos vende. Eles fazem parte de uma organização autorregulada, onde uns fiscalizam os outros. E os produtores têm a preocupação de oferecer cada vez mais variedade e qualidade”, observa.
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Com opinião semelhante, a secretária Mirian Petry, que reside no Bairro Ana Nery, diz que a ida até a feira já faz parte de sua rotina. “Eu só compro verduras e hortaliças em feiras, vou todos os sábados e adquiro para a semana toda. Acho muito mais saudável porque é um produto fresco.” O hábito foi adquirido de família. “Assim como minha mãe, eu também mantenho produtos saudáveis em minhas refeições e oriento também minha filha, sobre a importância de ter esse cuidado.”
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Álcool em gel e cuidado com aglomerações
Embora as feiras sejam realizadas em ambientes ao ar livre, muito mais propícios para as compras em tempo de pandemia, e por não serem consideradas locais de transmissão potencial, os produtores disponibilizam álcool em gel e evitam aglomerações com distanciamento entre os clientes. Máscaras e luvas vão sendo inseridas aos poucos.
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Conforme o presidente da Associação dos Feirantes de Santa Cruz do Sul (Assafe), Carlos Eduardo Waechter, as medidas tornam-se necessárias para evitar a proliferação do vírus e garantir um bom atendimento para o público.
A auxiliar de cozinha Ângela Maria Rocha, 57 anos, moradora do Bairro Arroio Grande, parabeniza os produtores. “ Está tudo muito bem organizado. Apesar de ser um local mais simples e tradicional, eles estão se adequando. A entrada é controlada, tem fila e distanciamento.”
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Falta de água
A estiagem que atinge o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado tem castigado muitos produtores. A falta de água e as dificuldades de irrigação foram relatadas por todos os feirantes ouvidos pela Gazeta do Sul.
Na propriedade de Delmar Hentschke, resta um pouco de água, mas insuficiente para novos plantios. “Há anos não existia irrigação. Hoje ela existe, mas falta a matéria-prima que é a água. E de nada adianta ter toda a tecnologia se não tiver o mais importante”, comenta.
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