Com novas subvariantes em circulação, os casos de Covid-19 voltaram a aumentar no Brasil. Especialistas comentam que, com a queda nas testagens, o número exato é encoberto de incertezas, mas avaliação é de que esse recrudescimento está longe da magnitude da onda causada pela cepa original da Ômicron em 2022.
Não é preciso “alarde”, dizem, mas o cenário requer cuidados. O principal deles é atualizar a vacinação contra a doença. O hábito de usar máscaras em locais fechados e de aglomeração deve ser retomado por quem faz parte dos grupos de risco e por aqueles que convivem com esses indivíduos. A baixa taxa de imunização de crianças acende alerta dos médicos e também do Ministério da Saúde, que fazem apelo para que pais e responsáveis vacinem os pequenos.
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“Identificamos um aumento ainda pequeno. Pelos nossos dados, é de 6%”, disse a epidemiologista Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. A informação se refere às duas primeiras semanas de agosto. “Mas, provavelmente, pelo que a gente está vendo nos outros países, a curva (de casos) vai crescer.”
A secretária frisa a necessidade de a população atualizar a vacinação frente a uma maior circulação do vírus. Outra orientação é de que principalmente imunodeprimidos e pessoas com 65 anos ou mais retomem o uso de máscara em locais fechados, de aglomeração e com pouca circulação de ar. “É uma medida de prevenção efetiva já comprovada cientificamente”, afirmou.
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Aumento de casos
Segundo a infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp, o aumento de casos já era esperado, considerando as novas subvariantes em circulação e o cenário no Hemisfério Norte, a exemplo dos Estados Unidos e do Reino Unido. Por lá, a EG.5, chamada popularmente de Eris, “filha” da Ômicron, já é dominante. Até o momento, o Ministério da Saúde foi informado de quatro casos da nova variante no País. Dois em São Paulo, um no Distrito Federal e um no Rio de Janeiro.
“Diante do número de casos neste momento no Brasil, precisamos lembrar do início da pandemia: quando subia o número de infecções, existia o risco de aumentar as taxas de internações cerca de dez dias depois. Estados Unidos e Europa já têm observado essa situação”, alerta Raquel.
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A taxa de positividade (razão entre testes feitos e resultados positivos) para Covid-19 praticamente dobrou entre julho e agosto, passando de 7% para 15,3%, de acordo com Instituto Todos pela Saúde (ITpS). O número real do atual aumento de casos, porém, é incerto. “Testamos pouco, e os autotestes não são notificados”, diz Raquel. “Esse aumento detectado é, com certeza, muito abaixo do que realmente está acontecendo.”
Outra limitação da análise da ITpS reside no fato de que as informações se referem a testes da rede privada. Nesse sentido, os especialistas apontam que há “defasagem” dos dados públicos e reclamam da demora do Ministério da Saúde em divulgar os boletins epidemiológicos da Covid. Ethel explicou que há um “atraso” nos dados da pasta de cerca de duas semanas devido ao tempo que leva para municípios e Estados realizarem a notificação. Ela, porém, destaca que não há defasagem. “Nosso atraso é bem pequeno.”
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Os especialistas também reclamam da falta de vigilância genômica. Segundo eles, o real estado de circulação da EG.5 no País, por exemplo, é desconhecido e, provavelmente, há mais infecções causadas por ela. Ethel diz que a Saúde identificou a necessidade de fortalecer a rede de vigilância genômica do País e isso será feito já a partir deste ano, com recursos do Novo PAC.
Apelo pela vacinação
Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), repete orientação feita em nota técnica da entidade divulgada há duas semanas. “Monitoramento com moderação”, fala. O documento já adiantava que havia “possibilidade de uma nova onda de casos ocorrendo nas próximas semanas, com baixo potencial de casos graves, baseado no cenário epidemiológico nos países onde ela já circula”.
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A principal medida para se proteger, diz Barbosa, é a vacinação. Conforme a nota da SBI, “todas as pessoas com 6 meses de idade ou mais devem ter pelo menos três doses de vacina”. Embora não impeça a infecção leve, a vacina ajuda a evitar casos graves, hospitalização e morte. Raquel Stucchi acrescenta a importância de aumentar o número de brasileiros com a injeção atualizada (bivalente).
Nesse sentido, há especial preocupação dos especialistas com as crianças. “A cobertura vacinal nas crianças não chega a 30%. Temos uma população infantil muito suscetível à doença”, alerta o infectologista Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
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Ethel também frisa que isso se deve principalmente a uma forte onda de desinformação. A secretária destaca que a pasta busca combatê-la com campanhas e também por meio ações de “microplanejamento” com estados e municípios dentro da Campanha de Multivacinação. Equipes do ministério percorrem o Brasil para ajustar as estratégias de vacinação com gestores e lideranças locais – a medida vale para vários tipos de imunizantes. O aporte para a campanha foi de mais de R$ 150 milhões. “A vacina ofertada pelo Sistema Único de Saúde é segura e protege as nossas crianças contra a gravidade dessa doença”, diz Ethel. “E a gravidade não é só a internação. Temos a Covid longa, que são sintomas persistentes que podem diminuir a qualidade de vida da criança. Podemos evitar isso com a vacina.”
É necessário voltar a usar máscara?
Em relação ao uso de máscaras, os especialistas não acham que seja a hora de retomar a obrigatoriedade. A proteção facial, orientam, deve ser usada por pessoas de grupos de risco e por quem convive com elas quando esses indivíduos estiverem em espaços fechados, mal ventilados e com aglomeração. O grupo de risco é formado por: imunossuprimidos, diabéticos, pacientes em tratamento de câncer, quem tem doença renal ou pulmonar grave e idosos.
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Qualquer pessoa com sintoma respiratório (tosse, coriza, etc) deve usar máscara. Além disso, é essencial realizar o teste para determinar se é um quadro de Covid. Em caso positivo, deve-se cumprir o período de isolamento.
Otsuka alerta para o cuidado com bebês com menos de 6 meses, para os quais ainda não há vacina disponível. O médico pede para evitar o contato entre eles e pessoas com sintomas respiratórios. Além disso, orienta que gestantes busquem a imunização completa anticovid. Para pessoas com 65 anos ou mais e imunossuprimidos com teste positivo, há tratamento antiviral disponível do Sistema Único de Saúde (SUS). O medicamento Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) precisa ser administrado dentro dos cinco primeiros dias de sintomas, o que indica a importância da celeridade em buscar a testagem.
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Monitoramento constante
Ethel conta que a pasta retomou os comitês técnicos assessores (CTA), inclusive um para discutir a Covid-19, e que também há esforço de investir em pesquisas para uma melhor compreensão da doença e como ela opera no Brasil. Uma dessas pesquisas busca mapear os efeitos da Covid longa no Brasil. “A Covid é uma doença nova e estamos aprendendo. A gente não sabe um monte de coisas. Nós não sabemos qual é o impacto que isso vai ter na vida de alguém que se infectou agora. É um vírus que causa muita inflamação, problema de coagulação, e não sabemos qual será o impacto daqui a 10, 15 anos”, alerta a secretária.
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