Corredor do descaso

Guilherme Bica

1 ano atrás

Apesar de este espaço se chamar Fora de Pauta, peço licença para tratar de um assunto que ganhou evidência novamente nos últimos dias. Como se não bastassem os transtornos com os atrasos nas viagens pela RSC–287 em função dos bloqueios para obras, outra rodovia importante na região traz muita dor de cabeça aos motoristas. Quem viu a ex-governadora Yeda Crusius desfilar em uma Mercedes Benz conversível pela RSC–153, entre Herveiras e Vera Cruz, em 15 de dezembro de 2010, ao final do seu mandato, não imaginou que uma década depois o novo corredor de exportação virasse corredor do descaso. Os problemas de falta de manutenção existem tanto no eixo noite (na RSC–153, entre Santa Cruz do Sul e Soledade), como no eixo sul (RSC–471, entre Pantano Grande e Canguçu).

Muitos anos de luta se seguiram para que a construção do corredor de exportação virasse realidade. Desde o início da década de 90, perdi a conta sobre quantas vezes cobri pela Gazeta do Sul reuniões, protestos, anúncios de obras, paralisações e outros movimentos pela construção da rodovia. Muito pneu foi gasto pelas estradas de chão batido e pedras soltas, seguindo as encostas de morros, de Sinimbu, Gramado Xavier, Herveiras e Vale do Sol. Assim, muitos se mantiveram incrédulos quando Yeda Crusius prometeu concluir a estrada no seu governo. Primeiro, entregou o que faltava do eixo sul, em Encruzilhada do Sul. Depois, em uma corrida contra o tempo, inaugurou o eixo norte.

A conclusão da rodovia acendeu a esperança dos municípios da área serrana do Vale do Rio Pardo. Afinal, o asfalto encurtava o caminho para o progresso. Além da abertura do corredor para o escoamento das safras da Zona da Produção e do Vale do Rio Pardo ao porto de Rio Grande, a nova estrada trouxe a perspectiva de impulsionar o turismo, pois a via corta áreas de belezas naturais sempre comparadas à Serra Gaúcha.

Mas faltou o Estado cuidar do seu patrimônio. Em toda a extensão do corredor, de Soledade até Canguçu, não existe um posto da polícia rodoviária, muito menos balança para coibir as cargas com excesso de peso dos enormes caminhões que escoam a produção gaúcha. Com acostamento estreito, a vegetação que cresce nas margens apenas não invade mais a pista com a “poda” feita pela carroceria dos ‘pesadões’ em grande parte do trecho. Além disso, se o motorista hoje desviar o olhar por breves instantes para espiar as belas paisagens, corre o risco de cair em alguns dos tantos buracos abertos no asfalto ao longo da rodovia, tanto no eixo norte como no eixo sul.

Sem uma manutenção mais efetiva e as crateras abertas no asfalto em tamanho cada vez maior após qualquer chuva, a rodovia acumula relatos de acidentes. Se de dia já é complicado trafegar na estrada esburacada, imaginem de noite e em dias com a visão prejudicada pela forte neblina. Pela importância da estrada para a economia e mobilidade do Estado, ela não apenas merece, mas necessita de mais atenção do governo gaúcho. Na última campanha eleitoral, o governador Eduardo Leite, em visita à região, assumiu o compromisso diante de lideranças para manter a rodovia em boas condições de tráfego. Da mesma forma, o vice Gabriel Souza recebeu um documento assinado por representantes da principais entidades do Vale do Rio Pardo onde consta, entre as reivindicações, dar prioridade à recuperação do corredor de exportação.

Essa luta precisa da mobilização de todas as entidades e lideranças políticas da região. Não dá mais para seguir escrevendo a história de acidentes e prejuízos em consequência das más condições do corredor do descaso. Está na hora de os políticos que representam a região cobrar a execução das promessas. No momento que a região se mobiliza pela valorização do comércio e serviços locais, uma estrada nessas condições é um tiro no pé, pois passa a ser um convite para motoristas buscarem rotas por outras regiões.

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