Faltam pouco mais de cinco meses para eu ser considerado oficialmente idoso, embora o conceito tenha sido alterado em relação à faixa etária.
Em junho completo 60 anos, e já me vejo usufruindo dos “privilégios” da “melhor idade”, expressão cunhada por laboratórios e farmácias para dourar a pílula em relação a esta fase da vida, em que consumimos boa parte do salário em medicamentos.
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Vários amigos, às vésperas de se tornarem sexagenários, juraram nunca usufruir das benesses reservada a esses “jovens há mais tempo”.
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– Bem capaz que vou entrar em fila preferencial no supermercado… Acho uma barbaridade! – bradavam alguns.
Mas bastaram alguns meses pós-aniversário para que muitos providenciassem os documentos necessários à confecção de credenciais que garantem prioridades. Uma grande amiga não se fez de rogada. Assumiu a condição e, na primeira semana depois de apagar as 60 velinhas, correu aos “órgãos competentes”. Feliz da vida, chegou em casa, escancarou a porta de casa e, aos gritos, disparou:
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– Finalmente! Agora vocês vão me respeitar porque tenho até documento oficial! – riu, erguendo o cartão exigido para estacionar em espaços especiais, em locais públicos e privados.
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Esta mesma amiga, apesar de todo entusiasmo, enfrentou percalços justamente onde mais queria se exibir: na fila do supermercado. Pilotando o carrinho lotado de compras, visualizou as longas filas típicas do anoitecer de sábado. Trata-se de um típico fenômeno urbano, que consiste na desabalada corrida de metade da população para lotar a geladeira, ou, como se dizia antigamente, abastecer a despensa.
Assim que pisou diante do “caixa preferencial”, a amiga passou a ouvir as famosas “indiretas”:
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– Impressionante essa gente mais nova… Não respeitam nem as placas. Tá ali, bem claro: fila preferencial. Ou seja, para nós, e não para ela! – fofocou uma das mulheres na fila, disparando um olhar tipo metralhadora.
Minha amiga, vaidosa, instintivamente sorriu. “Se achou” a gata do pedaço, mas o sorrisinho serviu apenas para atiçar a fúria das idosas, que partiram para o ataque:
– É contigo mesmo que estamos falando! Não tem vergonha na cara? – reforçou uma delas.
O alvo da ira da terceira idade me contou que pensou em mostrar a carteira de identidade, mas desistiu. Sincera, deu as devidas explicações:
– Entre bonitona e mal-educada, preferi ficar com fama de “coroa enxuta”. Fui para a fila dos “mortais comuns”, envaidecida e pensando em como somos incompreendidas!