A sequência macabra de acidentes que vitimou um grande número de pessoas na semana passada recoloca na pauta o debate sobre a falta de educação no trânsito. O aumento do fluxo de veículos não responde, sozinho, pela elevação abrupta das estatísticas nesta época do ano.
Participei de coberturas de praia durante oito anos como repórter do jornal Zero Hora, a partir de uma sucursal sediada no Hotel Beira-Mar, em Tramandaí. Perdi a conta de acidentes horríveis que cobri. Muitos episódios envolvendo famílias de argentinos que acorrem ao nosso litoral aos milhares em busca de descanso.
Na década de 90, a quantidade de acidentes chegou a um nível que levou o comando da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) do posto de fiscalização na entrada de Capão da Canoa a adotar uma estratégia chocante, polêmica. Todos os dias centenas de motoristas eram flagrados, na maioria, por excesso de velocidade.
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O chefe do posto da PRE montou uma sala onde os infratores aguardavam para receber e assinar as multas. O diferencial eram as paredes desse ambiente, forradas de fotos ampliadas mostrando cenas horripilantes de acidentes. A maioria mostrava pessoas mutiladas, dentro dos veículos, presas às ferragens, inclusive com crianças. A ideia era chocar de tal maneira os condutores que fizesse com que eles jamais ultrapassassem os limites de velocidade e repensassem a conduta ao volante.
Depois de algumas semanas, voltei ao posto da PRE e perguntei sobre os efeitos da medida. O inspetor da polícia rodoviária reconheceu que, além do choque, os resultados não atingiram os objetivos propostos.
– Funciona como um radar ou uma lombada eletrônica. Basta passar pelo obstáculo para retomar a velocidade acima do limite permitido, esquecer a imagem e seguir infringindo as leis. – lamentou o policial.
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A raiz do problema é a educação. Crianças veem, ao vivo e em tempo real, cenas deploráveis patrocinadas pelos pais e pessoas conhecidas da família. Constatam a irritação que leva à violência verbal e física, notam que a pressa está presente em todos os momentos e que as placas de sinalização são ignoradas.
Recém chegamos à segunda quinzena de janeiro. Teremos muitas notícias macabras envolvendo o trânsito no Rio Grande do Sul. Inúmeras famílias lamentarão perdas, lastimando a ausência para sempre de entes queridos ou que sustentavam muitos lares. Carros velozes com tecnologia de ponta, estradas seguras, dispositivos para coibir as infrações. Nada disso será eficiente enquanto o fator humano continuar sendo o diferencial de todo esforço para evitar mortes nas avenidas e rodovias.
O verão, para muita gente, continua sinônimo de pressa, lazer e irresponsabilidade. Um coquetel cujo resultado tem sido fatal.
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