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Copacabana: alguns potins

Há muito tempo larguei de mão desse turismo de grupos, de correrias, com o guia papagaiando sem parar. Enfim, um turismo tipo “conheça toda a Europa em três dias”. Eu gosto da chamada imersão. Há pouco tempo estive um tempão em Sankt Martin, um vilarejo perto de Baden Baden. Meu prazer era visitar os vinhedos, falar com as pessoas, puxar conversa com vizinhos de mesa nos pequenos restaurantes, acordar e sair caminhando pelas trilhas dando bom dia para todo mundo. Gosto muito de Copacabana (não necessariamente do Rio de Janeiro). Esse bairro tem personalidade e vida própria. Ultimamente tenho alugado um apartamento pequeno, de cobertura, na própria Av. Atlântica. De manhã cedinho, já saio para uma caminhada. Na volta, compro pão e fazemos nosso próprio café. Conheço pelo nome os donos e empregados das fruteiras, dos pequenos mercados e das lanchonetes.

Um dos meus bons interlocutores é o Edson, dono de uma barraca de caipirinhas, cervejas, aluguel de cadeiras de praia e guarda-sol. Conheci-o há uns 20 anos. Sua tenda está na praia, ao lado do posto 5. Ali ele armou uma redinha de vôlei. Funciona assim: ele monta tudo para ti, guarda-sol, cadeiras, mesinha e vai anotando tuas despesas num caderninho. No dia de tua partida, acertas tudo com ele. Se estás com celular, dinheiro, documentos e queres dar uma caminhada, entrega para ele que está seguro. Quando meu filho Rudolf era criança, o Edson tinha uns gurizinhos também. Deixávamos o Rudolf brincar com os guris e íamos caminhar. Edson mora na favela e é um cara de fé. Às vezes lhe dou uma bandeira do RGS e uma camiseta do Inter.

Quanto a jogar vôlei na rede dele, só com sua aquiescência. Se não, nada feito. Edson me deu todas as dicas sobre o que fazer e o que é perigoso no Rio.

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Os anos passaram, Rudolf está com 22 anos e os piás de Edson já são papais. Edson me segredou seus candidatos, o que ouvi com um silêncio obsequioso. Se quiserem ver as fotos dele comigo e meu filho, é só acessar “ruygessinger.blogspot.com”.

Também queria compartilhar com vocês um fenômeno bizarro, patético, não sei se já chegou a Santa Cruz essa “vibe”. Gente: onde há espelho os turistas se olham, se miram, variam de ângulo, ajeitam um fiapo da camiseta, se olham de novo. Depois sacam do celular e fazem quatrocentas “selfies”, tudo isso acompanhado de caras e bocas. Aqui na praia contemplo um grupo de jovens cuja nacionalidade não sei, pois não piam e nem falam. Estão sentados na areia e dê-lhe teclar. Perdoem, mas parecem zumbis, são Narcisos que se miram no nada. Não será isso uma doença? Caso de tratamento? Dependência?

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