A10ª Conferência das Partes (COP-10) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco chega ao seu final neste sábado, 10, na Cidade do Panamá, sob forte clima de expectativa. A representação da cadeia produtiva desse setor, que ao longo da semana acompanhou, dos bastidores, as discussões do evento, teme que o documento a ser apresentado e votado na plenária final possa trazer algumas surpresas negativas para a realidade da produção e do comércio.
A desconfiança leva em conta as próprias manifestações de membros da delegação oficial do país na conferência. A secretária-executiva da Comissão para Implementação da Convenção-Quadro (Conicq), Vera Luiza da Costa e Silva, dissera ao longo da semana com todas as letras que nenhuma medida ia ser tomada, aprovada ou apoiada que pudesse dizer respeito diretamente ao cultivo ou mesmo a comércio de produtos, bem como sobre tecnologias, como os filtros nos cigarros ou os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs). “Não existe nada nessa linha”, enfatizou, perante todos.
Na quinta-feira, durante novo encontro de começo de noite com o embaixador brasileiro no Panamá, Carlos Henrique Moojen de Abreu e Silva, representantes do setor novamente pressionaram Vera a dizer o que, afinal, o Brasil propunha ou defendia. E então, para incômodo geral, não apenas admitiu que tais pontos estavam em discussão sim, entre outros temas de interesse direto do setor, como fora o Brasil inclusive que apresentara alguns deles nos grupos de discussão na COP.
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Em relação ao filtro, Vera frisou que ele entrara no debate pelo fato de constituir um problema ambiental no pós-consumo, por acarretar poluição. O mesmo se relacionava com as bitucas de cigarros. Caso alguma medida seja aprovada na COP e tenha sua implementação sugerida, poderá trazer novos entraves e dispêndios econômicos ao setor e, por extensão, afetar o comércio, com reflexos na produção.
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Até essa sexta-feira, também ainda não havia informação conclusiva sobre uma possível sede para a próxima edição da conferência. Nos bastidores, surgira o comentário de que uma tendência seria o evento ocorrer na Holanda, em 2025. Ocorre que Haia era a cidade que teria recebido a edição presencial prevista para 2020, a COP-9. Com a pandemia, esta foi cancelada e posteriormente realizada de forma virtual, em 2021. Só na plenária final deste sábado é que a nova sede será efetivamente conhecida.
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Por outro lado, ainda que boa parte da comitiva de lideranças brasileiras do setor já retorne ao País neste final de semana, na próxima segunda-feira começa, no mesmo centro de convenções, a MOP-3, a terceira Reunião das Partes do Protocolo para Eliminar o Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco, que o Brasil também assinou. Esse debate interessa, e muito, à cadeia produtiva brasileira, uma vez que o produto ilegal já chegou a ocupar mais de metade do mercado doméstico, seja o cigarro contrabandeado ou o oriundo de fábricas clandestinas no país.
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Atualmente, ao cigarro ainda se agregam os dispositivos eletrônicos para fumar, cujo comércio é proibido, mas que circulam, mais uma vez, de forma clandestina. Estatísticas apontam que já há mais de 3 milhões de usuários de cigarros eletrônicos no País, produto todo ele obtido de forma ilegal.
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Dois momentos da reunião da comitiva brasileira com o embaixador Carlos Henrique Moojen de Abreu e Silva e membros da delegação oficial do Brasil na COP-10 ficam na memória. Na quinta-feira, no último desses encontros, o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindTabaco), Iro Schünke, pediu a palavra. Perante todos, deu a sua declaração.
“Senhor embaixador, por tudo que já pude conferir nas várias edições ao longo dos anos, a Convenção-Quadro e a COP são a pior ditadura que pode existir.” Completou explicando que na conferência se condena e se julga o outro sem jamais dar chance a que ele se faça presente ou apresente a sua posição, referindo-se ao setor produtivo e industrial do tabaco, alijado do debate. “Até na COP do Clima a indústria do petróleo senta junto e debate soluções ou alternativas. Aqui, é só um lado e isso nada tem de democracia”, referiu. Tanto o embaixador quanto os membros da delegação ficaram absolutamente mudos.
Para completar, ao final da atividade, Moojen tentou apaziguar os ânimos e enfatizar que ao menos ali houvera espaço para a comitiva se manifestar. Ao que o deputado estadual Edivilson Brum arrematou: “Então, excelência, quem sabe para fechar a gente fuma o cachimbo da paz”, arrancando uma gargalhada das lideranças, mas um sorriso um tanto amarelo da delegação brasileira na COP.
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