No embalo dessa joia de John Denver, acompanhado por Plácido Domingo, conheci Maristela numa festa de aniversário no Rose Place, como já contei. Ela, assessora concursada do TJRS, e eu trabalhando um andar acima, não nos tínhamos conhecido ainda. Nossa procedência era diversa: ela, uma campeira de Santiago, com aquele sotaque, sempre escandindo as sílabas, sem a entonação de outras regiões, provinda de uma família de pecuaristas tradicionais e eu um cara de Santa Cruz, com gostos culinários, musicais e tradições bem diferentes. Nem melhores, nem piores. Diferentes.
Mais jovem que eu, logo de início me alertou: “se tu não te amansares na informática, estás faqueado.” E assim ela fez com que eu não tivesse o mesmo fim dos advogados que não se atualizaram.
Um dia ela me falou que dinheiro é papel pintado e aplicações são meros dados de computador. Que “quem compra terra não erra”. Pronto, comecei a comprar campos, somando aos dela.
Outro dia, visitando o cemitério onde estão sepultados meus familiares em Santa Cruz, ela disse: “tenho saudade do teu Tata (pai) e de teus avós!”. Espantado, lhe disse: “ué sais! tu não os conheceste, que saudade é esta?”. E ela: “tu és um pouquinho deles, por isso tenho saudade.”
Publicidade
No início da nossa relação, após algumas visitas à minha mãe, Maristela começou a se apoderar das velhas práticas germano-pagãs de minha mãe e de sua culinária de cucas, galinhadas, conservas. As duas se apaixonaram e minha mãe vivia ligando para Maristela. Para melhorar o contato com a sogra, Maristela passou a estudar alemão no Goethe Institut. Pode isso?
Na fazenda ela era campeira com séculos no DNA. Via um terneiro “abichado” no meio de duzentos em redor de um cocho de sal. Carinhosamente me dizia: “não cisma em ser um peão campeiro, esses caras nasceram em cima de um cavalo. Cuida só dos negócios, te aprimora na administração e te previne dos sogaços.” Na Expointer, quando íamos expor nossos exemplares, ela cantava a pedra: “sem chance de ganharmos com essa nossa borrega, ela não é feminina como aquela lá.” Ou me segredava: “aquele macho que trouxemos vai ser campeão ou reservado, vai por mim”, e sempre deu na mosca. Sabedorias ancestrais.
Hoje se jacta de ser a lídima representante da arte de fazer as melhores cucas, galinhadas, compotas, como minha mãe fazia. Há controvérsias, mas melhor não contrariar “los amores brujos”… (Desculpe quem me lê: ando muito feliz, por isso prefiro escrever sobre coisas mais leves.)
Publicidade
(hugs, dear Moina F. Rech!)
This website uses cookies.