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ROMEU NEUMANN

Contrastes do cotidiano

Conheço regiões do nosso interior onde famílias inteiras saem de casa para celebrar com vizinhos, parentes e amigos um aniversário, um casamento, quem sabe bodas de alguma década distante ou nem tanto. Por que não, por vezes, só um motivo para festejar a vida?

Também conheço localidades do interior onde os integrantes das famílias se revezam até para ir a um velório, para não deixarem as propriedades à mercê de ladrões que espreitam uma oportunidade para devassar o que considero o lugar mais sagrado na vida de uma pessoa: o seu lar.

De um lado, há quem deixe motosserras, roçadeiras, maquinários e equipamentos os mais diversos nos galpões. Muitas vezes abertos, sem trancas, sob a custódia de um cão, se muito.

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De outro, há quem instale grades de ferro, lâminas de aço, cadeados duplos nas aberturas para resguardar seus bens. Tudo em vão. Se não há outro jeito, a bandidagem entra pelo telhado ou faz um rombo na parede de tijolos maciços e invade assim mesmo. Talvez só pela adrenalina de desmontar mais uma barreira.

Os dois cenários são reais. Têm nome, sobrenome e endereço que, obviamente, ficam preservados. Mas dão o que pensar. O que torna tão diferentes duas realidades de um mesmo contexto? Vou citar algumas coisas que colho da minha experiência e observação:

1 – A atenção (ou desatenção) do poder público. Uma comunidade desprovida de elementos básicos de infraestrutura, de cuidados mínimos de acessibilidade (estradas), de segurança, saúde e educação fica à deriva neste mar revolto de interesses os mais diversos.

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2 – O risco de se perder o sentido de comunidade. O isolamento tende a descomprometer as pessoas que antes cuidavam umas das outras. Em tudo transparece a competição. A negação. Aonde vamos chegar?

3 – Não menos importante, a fragilidade da nossa legislação. Qualquer instrumento de proteção e defesa (trancas reforçadas, câmeras de monitoramento, alarme, até uma arma) se torna inócuo diante do latifúndio de subterfúgios retóricos e legais à disposição dos marginais.

4 – A mais preocupante de todas: o avanço do tráfico e da drogadição sobre o nosso interior. A droga está invadindo as comunidades e arregimentando jovens, alvos fáceis e expostos até nas áreas mais distantes. E a droga (ou a falta dela) entre tantas outras sequelas aciona o gatilho da violência.

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O que pensar disso tudo?

Há localidades inteiras na nossa região que estão condenadas, no atual modelo, à desocupação, por falta de perspectiva econômica, de sucessão familiar e, sobretudo, pela implosão do sonho de uma vida tranquila, segura, com a família e em comunidade.

Não falta gente disposta e motivada a investir, produzir, oferecer e conquistar espaço no mercado. Mas há que se ter um mínimo de segurança e amparo legal para consolidar oportunidades de trabalho. E para transportar do imaginário para o real o sonho de ter uma casinha branca no meio do bosque, enfeitada por flores e frutas coloridas e animada pela sinfonia dos pássaros.

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Quem já não sonhou com essa possibilidade? E quantos já se arrependeram por terem levado a sério este sonho!

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