O pôr do sol da sexta-feira marca o início do Shabbat, o dia mais sagrado para os judeus. Aos mais ortodoxos, não é permitida nenhuma forma de trabalho, nem mesmo realizado por motores. Assim, para estes, não podem ser usados automóveis, telefones e máquinas.
Bem cedo, no hotel, desci para o café da manhã pelo curioso “elevador do Shabbat”. Como apertar botões violaria as leis do sábado, o ascensor está programado para parar em todos os andares. Saí cedo de Ashkelon, em direção a Nazaré, através da estrada que leva ao norte de Israel, beirando a fronteira com a Cisjordânia. Em vários pontos da estrada, avistam-se cidades palestinas, com muros altos e tristes sobre a fronteira.
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No caminho, passei pela cidade de Meguido. Tanto estudiosos da Bíblia como fãs do rock pesado já ouviram falar do Armagedom. O que poucos sabem é que esse campo de batalha do fim dos tempos (Apocalipse, 16:16) é, na verdade, o Monte Meguido, Har Meggido em hebraico. As escavações no local já descobriram 20 camadas de ruínas, que datam de 3.500 AC a 500 AC. Pouco antes de chegarmos em Nazaré, avisto o imponente e sagrado Monte Tabor.
Nazaré, An-Nassra em árabe, ou Natzrat em hebraico, é uma cidade predominantemente árabe, com trânsito caótico, ruas estreitas e um animado comércio. Há pouca relação com as imagens que costumamos associar à região, com igrejinhas, conventos e ovelhinhas pastando. Os árabes que vivem em Nazaré são 50% cristãos e 50% muçulmanos.
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A cidade é repleta de significado, por ter sido o lugar onde Jesus passou a infância com seus pais, José e Maria. A imponente Basílica da Anunciação marca o local onde a Sagrada Família viveu, e onde o Anjo Gabriel anunciou a Maria a concepção de Jesus.
Antes de entrar por suas imponentes portas de bronze, todos são alertados a cobrir pernas, ombros etc. Sob a fiscalização de padres franciscanos, até homens de bermudas são obrigados a usar uma espécie de cobertor sobre as pernas. O andar inferior do templo é construído em torno da Gruta da Anunciação, onde se sucedem celebrações eucarísticas, em várias línguas.
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Embora a igreja atual tenha sido erigida em 1969, as ruínas do templo original, do ano 356, foram mantidas, ao redor da gruta onde Maria disse seu “sim” à vontade de Deus. No andar superior, a igreja mostra várias representações de Nossa Senhora, enviadas por diferentes países, como a de Nossa Senhora Aparecida. Atravessando a praça ao lado da Basílica está a Igreja de São José, construída sobre uma caverna que teria sido a casa de José. No subsolo estão as ruínas de uma residência judaica, inclusive com uma piscina para o banho ritual (mikveh, em hebraico).
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Para os ortodoxos gregos, a anunciação teria ocorrido em outro ponto da cidade, onde foi construída a Igreja de São Gabriel. No sub-solo do templo ortodoxo, corre a água de uma fonte da qual, segundo a Bíblia, Maria estaria enchendo seu jarro no momento em que o anjo Gabriel a saudou. No centro do mercado árabe, no local da sinagoga onde Jesus pregou aos 12 anos, está a Igreja da Sinagoga.
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É uma pena que conflitos religiosos, geopolíticos, preconceito e noções erradas de ambas as partes tornem a convivência entre árabes e judeus uma tarefa tão complicada. Nazaré, com tanta história e expressão religiosa, é um lugar que reúne complexidades como tantos outros, do caos urbano à criminalidade e à pobreza, mas a cidade marca também pelo calor humano e pela hospitalidade, bastante típicos dos chamados Povos das Escrituras.
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