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São Petersburgo: o berço da Revolução Russa

O encouraçado Aurora é hoje um navio museu em São Petersburgo. Em 25 de outubro de 1917, às 21h45, o tiro de um de seus canhões sinalizou o início da chamada Revolução de Outubro, prelúdio da maior experiência comunista da história humana. Não longe dali, no Palácio de Inverno, onde hoje fica o espetacular Museu Hermitage, o governo interino da Rússia estava reunido em um pequeno salão de banquetes, debatendo sobre o que fazer. Já tinham avançado à madrugada de 25 para 26 de outubro.

O corpo governamental havia sido nomeado no início do mesmo ano, imediatamente após a renúncia do czar Nicolau II de seu posto de chefe do governo. Do lado de fora, os bolcheviques, na sua maioria marinheiros, cercavam o palácio. Às 2h10 da manhã do dia 26, logo após os 200 soldados cossacos remanescentes abandonarem o prédio, os revolucionários invadiram o palácio e prenderam os 13 membros do governo.

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Naquele tenso ambiente, um dos homens de Lênin foi até o relógio sobre a lareira do Salão Branco do palácio e parou o mecanismo. Aquele belo relógio francês, decorado em sua base com a escultura de um rinoceronte, marcou dessa forma a hora exata da transferência do governo para os revolucionários. Impressionou-me vê-lo no Hermitage, quase 80 anos depois, com aquele momento histórico congelado em seus ponteiros. Ponteiros, aliás, que voltaram a ser postos em movimento na mesma data e hora, exatamente cem anos depois, em 26 de outubro de 2017.

Embora o ano mais lembrado para a revolução soviética seja o de 1917, a transição de monarquia absolutista para a União Soviética se deu aos poucos. A guerra civil durou de 1917 a 1922, quando então foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Após sua abdicação, o último czar procurou se distanciar dos acontecimentos daquele ano. Ele e a família aguardavam um possível asilo na Europa Ocidental, enquanto viviam confortavelmente em Tobolsk, na Sibéria. Antes que chegasse o exílio, em março de 1918, Nicolau II foi preso pelos bolcheviques, em plena Guerra Civil Russa. Toda a família e um pequeno grupo de serviçais foram então levados à cidade de Yekaterinburg, 600 quilômetros a oeste de Tobolsk.

Em uma madrugada de julho daquele mesmo ano, a família real e sua pequena comitiva foram acordados. Receberam ordens para que se vestissem e fossem até o porão da casa, alegando-se motivos de segurança. Ali, esperava-os um pelotão de fuzilamento. O primeiro a ser executado foi o ex-czar Nicolau, e, para que nada restasse da dinastia Romanov, foram mortos também sua esposa, as quatro filhas, o herdeiro Alexei, com 13 anos de idade, e três serviçais. Alexei custou a morrer, apesar dos tiros no abdômen. Um colete que vestia por baixo da roupa, bordado com pedras preciosas, serviu de escudo.

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Em um cenário de brutalidade atroz que parece se repetir no final de governos indesejados e tiranos, Alexei foi finalmente silenciado com tiros na cabeça, enquanto suas irmãs eram mortas por tiros e golpes de baioneta. Os corpos dos Romanov, enterrados secretamente em uma floresta da região, foram encontrados e identificados por análises de DNA no final do século 20, sendo finalmente sepultados, em 1998, na Catedral de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo.

Depois de uma agradável viagem noturna de trem, partindo da estação Leningrado, em Moscou, iniciei a primeira visita à esplêndida cidade de São Petersburgo, 700 quilômetros ao norte da capital russa. Indicado por amigos, me hospedei no apartamento de Liuba, uma operária de uma fábrica estatal, que morava com o filho Misha, de 12 anos, e um gato. Lembro bem do felino porque, logo na chegada, o encontrei na saída do banheiro, e ensopei minhas meias em sua fétida urina. Como não tinha outro par de meias por ali, aquele cheiro me acompanhou até o retorno a Moscou, dois dias depois.

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São Petersburgo, fundada pelo Czar Pedro o Grande, já foi Petrogrado, Leningrado e hoje retomou o nome de seu fundador. Construída em 1703, é uma cidade relativamente nova, feita pela mão forte do czar, que por vários anos não permitiu que nada fosse construído em nenhuma outra cidade russa. A história e a arquitetura da cidade cortada pelo rio Neva ficam marcadas em quem a conhece. (continua).

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