Sob o céu azul e a visão das montanhas geladas do Himalaia, desembarco no pátio do Aeroporto Internacional Tribhuvan, no vale de Catmandu. O Nepal era o centésimo país em que eu colocava os pés. Muito mais importante do que um número redondo, pensei nas incontáveis experiências, e especialmente nas inúmeras pessoas que me inspiraram e me ensinaram muito em todos estes lugares. Conhecer mais sobre o mundo nos leva invariavelmente a descobrir que muitas vezes o aprendizado real é aquele que vem de dentro. O que vivemos e sentimos no mundo palpável, na verdade, desperta aquilo que já morava em nós.
A populosa capital deste pequeno país, prensado entre os gigantes Índia e China, é uma metrópole de 4 milhões de habitantes. A cidade havia sido duramente castigada em 2015 por dois terremotos devastadores. O estrago ainda é visível em muitos prédios e monumentos. O tráfego intenso e a poluição já eram esperados. O que eu também esperava era a hospitalidade e gentileza que encontrei, característica marcante da combinação de um povo sofrido e com forte influência das religiões orientais. No Nepal, mais do que em qualquer outro lugar em que estive, há um sincretismo claro entre hinduísmo e budismo, embora o primeiro seja a religião oficial de 80% dos nepaleses. A expectativa foi felizmente confirmada. Com todos que encontrei, senti uma nobre humildade e intrínseca alegria, só comparável a lugares como Laos, Camboja, Mongólia e Vietnã.
Um guia de etnia tibetana me levou aos principais locais de interesse da região. O primeiro destino foi Patna, um dos três antigos reinos do Nepal. A região central (Durbar) de Patna não foi muito afetada pelos terremotos de 2015. Os belos jardins internos dos palácios e templos são muito ricos, com detalhadas esculturas em madeira.
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Famílias celebravam ali o primeiro dos três tradicionais casamentos das filhas. Neste caso, todas com 10 ou 11 anos de idade, se casavam com o sol. O segundo casamento é com uma fruta, o pomelo, e o último, já na idade adulta, envolve finalmente um noivo de carne e osso. Havia muito entusiasmo e alegria naquelas famílias orgulhosas de suas tradições.
A próxima visita foi ao antigo reino de Bhaktapur, antiga capital do Nepal. A região central da cidade é ainda mais grandiosa e bem conservada que Patna, com muitas esculturas, quase todas em pedra. A vista do Himalaia do topo do templo mais alto do país oferece o pano de fundo ideal para os demais templos de vários deuses hindus. Ali nota-se claramente que não existe uma separação clara entre as religiões budista e hinduísta no Nepal. Alguns nativos me explicam que a experiência espiritual é muito semelhante nos dois rituais.
De volta a Catmandu, a impressionante Stupa (ou Chayka) de Boudhanath e seus vários monastérios é uma experiência única. A segunda maior stupa do mundo é um monte artificial com a base em formato de mandala. Nos monastérios que a circundam, vi muitas estátuas de deuses hindus, em pleno território budista. Esta forma de sincretismo me parece saudável, uma vez que une ao invés de separar, sendo um exemplo de profundo respeito e adoção da crença e cultura alheias.
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A stupa impressiona pela dimensão e pelo simbolismo. A cúpula representa o universo, encimada pela torre com os olhos do Buda, o símbolo no nariz do Nirvana e pelos 13 degraus da iluminação budista. As bandeiras, nas cinco cores do Buda, tremulam da base até o pináculo, com seus versos e orações levados simbolicamente pelos ventos.
Sigo na carona de um táxi-motocicleta até a região central da cidade. Foi interessante ter a experiência de andar sobre duas rodas no trânsito caótico das ruas, e até mesmo por calçadas tomadas de pedestres na área central de Thamel. Por outro lado, sem capacete, por ruelas irregulares, eu torcia para que chegássemos logo ao destino.
Haverá uma segunda parte do passeio no próximo sábado
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Aidir Parizzi Júnior – Natural de Santa Cruz do Sul, é engenheiro mecânico e reside no Reino Unido. É diretor global de suprimentos para uma multinacional britânica que atua no fornecimento de sistemas de controle e segurança para usinas de geração de energia, usinas nucleares e indústria de petróleo, gás natural e petroquímica.