Passados os primeiros 100 dias dos novos governos municipais, o mundo político já começa a se movimentar com vistas ao pleito do ano que vem. Mais do que o cenário nacional, que deve ser marcado pela tentativa de uma candidatura de centro de furar a polarização entre Jair Bolsonaro e Luís Inácio Lula da Silva, o que deve influenciar a formação das disputas em âmbito regional são as novas regras da legislação eleitoral, sobretudo a proibição das coligações nas eleições proporcionais.
Na prática, isso significa que os partidos dependerão de suas próprias votações para eleger deputados estaduais e federais e não poderão mais tomar carona no desempenho de outras siglas. Segundo o presidente do Instituto Gaúcho de Direito Eleitoral, Caetano Cuervo Lo Pumo, esse sistema, que será testado pela primeira vez em uma eleição geral, deve gerar uma multiplicação de candidaturas, assim como ocorreu na corrida pelas câmaras de vereadores no ano passado. “Se não há mais coligação, todos os partidos tendem a concorrer isoladamente. E cada partido tentará formar a maior e melhor nominata possível”, observou. Outro efeito esperado é que, com mais candidatos disputando o voto dos eleitores, as votações médias despenquem.
As articulações no Vale do Rio Pardo até agora confirmam essa tendência. Dentre os que pretendem lançar candidatos locais à Assembleia ou à Câmara estão partidos que não participaram de pleitos anteriores, como Cidadania, Republicanos, PL, PSD e PSDB, e que devem se somar a siglas com tradição em eleições gerais, como PTB, MDB e PSB. A nova regra deve, conforme Lo Pumo, permitir um retrato realista do tamanho de cada legenda em nível de país ao final da eleição, já que cada uma fará o número de cadeiras proporcional ao seu eleitorado.
Publicidade
Sem a possibilidade de alianças, os partidos terão que se valer apenas de seus próprios recursos para bancar as campanhas e de seus próprios quadros para cumprir as cotas de gênero, por exemplo. Caso não atinjam o desempenho mínimo previsto na lei, podem cair na chamada cláusula de barreira e perder acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV e rádio. “Esses partidos tendem a minguar, porque os integrantes podem sair sem perder o mandato, enquanto os partidos mais organizados e ideológicos vão crescer. Teremos menos partidos como players reais no jogo político”, disse o especialista.
O CENÁRIO NA REGIÃO
Em meio a impasse, PTB prioriza Kelly e Marcelo
Principal força política do Vale do Rio Pardo, o PTB tem como prioridade reeleger Kelly Moraes para a Assembleia e Marcelo Moraes para a Câmara Federal, segundo o presidente do partido em Santa Cruz, Marco Borba. A sigla, porém, vive um impasse desde o rompimento do diretório estadual com o presidente nacional Roberto Jefferson, o que pode levar à desfiliação do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior e de outros líderes e influenciar nos rumos da legenda em nível local. Com a proibição de coligações, uma eventual debandada de quadros poderia comprometer as chances de Kelly e Marcelo no pleito. Em Venâncio Aires, o ex-vice-prefeito Celso Kramer, que concorreu nas últimas três eleições a deputados estadual, não descarta disputar novamente.
PP avalia apoio a Marcus Vinicius e Westphalen
O partido da prefeita Helena Hermany pode novamente não ter candidato local à Assembleia e à Câmara. Eleito no ano passado para o primeiro mandato, o vereador Henrique Hermany voltou a ser sondado para concorrer a deputado estadual para fortalecer a nominata da sigla no Estado, mas a tendência é que os progressistas ofereçam novamente apoio ao ex-prefeito de Sentinela do Sul, Marcus Vinicius Vieira de Almeida, para deputado estadual e à reeleição de Pedro Westphalen para deputado federal. Ambos são próximos à família Hermany. Na Região Centro-Serra, Adolfo Brito deve buscar mais um mandato na Assembleia.
MDB tem Alex e Brum entre os nomes
Com representação na Assembleia há quase duas décadas, o MDB trabalha com vários cenários para 2022. Com quatro mandatos de deputado estadual, o rio-pardense Edson Brum, que atualmente é secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, passou a ser cotado para concorrer a governador. Se não for lançado ao Piratini, Brum deve tentar se reeleger para a Assembleia ou pode ainda disputar uma vaga no Senado. Independente disso, o ex-vereador de Santa Cruz Alex Knak está decidido a concorrer a deputado estadual. “Já estou trabalhando”, disse ele, que concorreu a deputado federal em 2010. Conforme Brum, outros potenciais nomes da região para a disputa são o ex-prefeito de Rio Pardo Fernando Schwanke, a ex-vereadora de Rio Pardo Márcia Brum, a vice-prefeita de Venâncio Aires Izaura Landim e o vice-prefeito de Candelária Cristiano Becker.
Em busca de crescimento, PL pode lançar Elstor
Empenhado em se fortalecer em nível de região, o PL tem dois nomes prioritários para fazer dobradinha com o deputado federal Giovani Cherini. Um deles é o vice-prefeito de Santa Cruz, Elstor Desbessell, que confirma a possibilidade de concorrer à Assembleia pela primeira vez. “Estamos criando diretórios nos municípios do Vale do Rio Pardo e necessitamos desse crescimento do partido”, observou Elstor. Outra possibilidade, segundo o presidente municipal da sigla, Raul Henn, é o atual vice-prefeito de Sinimbu, Jackson Rabuske.
Republicanos vai apostar em Bruna
Vereadora mais votada de Santa Cruz no ano passado, a ativista da causa animal Bruna Molz, uma das principais expoentes da nova geração da política local, tentará, pela primeira vez, uma vaga na Assembleia, em dobradinha com o presidente estadual do Republicanos, Carlos Gomes, que tentará a reeleição para a Câmara Federal. A intenção de concorrer a deputada foi um dos motivos que levou à saída de Bruna do PTB em 2020. Conforme o presidente municipal do Republicanos, Marcelo Corá, a parlamentar está em uma “trajetória ascendente” na política – foi um dos únicos nomes da legislatura anterior do Legislativo que conseguiu ampliar a votação na última eleição. “Ela é referência em todo o Estado na causa pet”, alegou Corá. Procurada, Bruna confirmou a intenção de concorrer e disse que só desistiria por fatores pessoais.
PSB tem Fabiano e ex-prefeitos para concorrer
O PSB tem três possíveis nomes para fazer dobradinha com Heitor Schuch, que buscará o terceiro mandato na Câmara Federal. Um deles é Fabiano Dupont, que concorreu a prefeito em 2016 e a vice-prefeito em 2020 e já colocou o nome à disposição para 2022. Outro é o ex-prefeito de Venâncio Aires Giovane Wickert, que concorreu a deputado estadual em 2014, ainda no PT. No ano passado, ele foi derrotado ao tentar a reeleição à Prefeitura. Também está no páreo o ex-prefeito de Candelária Paulo Butzge, que concluiu o segundo mandato em dezembro. Tanto Wickert quanto Butzge defendem que a sigla tenha candidato único. “Se houver pluralidade de candidatos, haverá uma divisão no colégio eleitoral”, observa Butzge. Já Fabiano considera pouco provável o consenso. “Não vai acontecer. Terá pelo menos dois”, disse.
PSDB quer dobradinha local
Após apoiar candidatos de fora nos últimos pleitos, o PSDB de Santa Cruz trabalha com a ideia de lançar uma dobradinha local em 2022. Segundo o presidente da legenda, César Cechinato, vários integrantes já manifestaram disposição de concorrer a deputado estadual, incluindo os vereadores Carlão Smidt e Gerson Trevisan e a contadora Flávia Frohlich. Outra possibilidade seria a atual presidente da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Rosemari Hoffmeister. Para deputado federal, ainda não há nomes. Na prática, os rumos do partido nas eleições estaduais e federais podem influenciar na decisão. Líder do partido no Estado, o governador Eduardo Leite pode concorrer a presidente da República. Já o advogado de Venâncio Aires Vinicius Medeiros, que concorreu a estadual em 2018, disse que ainda está “avaliando o cenário” para decidir se vai concorrer.
Publicidade
LEIA TAMBÉM: Pesquisa aponta cenário para as eleições presidenciais de 2022
No PSD, Ruas é o mais cotado
Após tornar-se uma força relevante em nível local com a filiação, em 2019, do então prefeito de Santa Cruz, Telmo Kirst, o PSD pretende lançar candidato a deputado estadual no ano que vem. O vereador e atual presidente municipal da legenda, Luís Ruas, é o nome mais provável. Ruas já manifestava intenção de concorrer mesmo antes da eleição do ano passado, quando conquistou o terceiro mandato na Câmara, e esse foi um de seus argumentos para deixar o PTB, pelo qual havia sido eleito em 2016. Caso a candidatura se confirme, Ruas, que diz já ter apoio de outros quadros do partido, deve fazer dobradinha com o deputado federal Danrlei, com quem já vem mantendo conversas.
Novo já deu início ao processo seletivo
Após conquistar representação na Câmara de Santa Cruz, o Novo se articula para novamente lançar candidatos locais tanto para a Assembleia quanto para a Câmara Federal. Segundo o presidente da sigla no município, Alexandre da Luz, a legenda ainda está em fase de captação de nomes para participar do processo seletivo interno. O vereador Leonel Garibaldi, que concorreu a deputado estadual em 2018, disse que não pretende participar do próximo pleito porque assumiu compromisso de cumprir os quatro anos de mandato na Câmara. Quarto lugar na disputa pela Prefeitura no ano passado, o médico Carlos Eurico Pereira também descartou concorrer. Já o empresário Eduardo Wartchow, que concorreu a deputado federal e vereador, disse que irá se decidir apenas após “conversas internas.”
Artus deve ser candidato único do PDT novamente
Após ficar como primeiro suplente do PDT em 2018, o ex-prefeito de Venâncio Aires, Airton Artus, se prepara para concorrer novamente a deputado estadual no ano que vem. Artus foi coordenador da bancada pedetista na Assembleia até o início de abril, mas retornou a Venâncio para pavimentar o caminho até a próxima eleição.Terá o apoio do atual prefeito, Jarbas da Rosa, que é do seu partido. Além disso, pode ser novamente o candidato único da sigla na região. “Essa é a ideia. Faz parte de uma estratégia do partido”, falou. Segundo o vereador Bruno Faller, líder da legenda em Santa Cruz, embora a decisão ainda precise ser chancelada, a tendência é que o diretório abra mão de candidatura local e feche apoio a Artus.
DEM trabalha com nome de Cleber
Eleito no ano passado para o primeiro mandato de vereador em Santa Cruz, Cleber Pereira deve ser indicado pelo DEM para concorrer a deputado estadual. Conforme Pereira, a intenção é também ter candidato local a deputado federal, mas o nome ainda está em discussão. As candidaturas são uma estratégia da sigla, que acaba de recuperar a representação na Câmara após vários anos, para se fortalecer em nível regional.
PT ainda não discute nomes
O PT ainda não discute nomes para a eleição do ano que vem. No entanto, segundo o presidente em Santa Cruz, Frederico de Barros, não estão descartadas candidaturas locais, inclusive para fortalecer o projeto nacional do partido, que deve lançar Luís Inácio Lula da Silva a presidente. Após a eleição do ano passado, um grupo de apoiadores do vereador Alberto Heck passou a defender a sua candidatura à Assembleia. Questionado, Frederico disse que Heck é “um nome qualificado, assim como tantos outros que nós temos entre os nossos filiados”. Já Heck confirmou que irá oficializar sua pré-candidatura nos próximos dias. “Se queremos ter um candidato com chances para a Assembleia Legislativa, precisamos fazer primeiro esta construção interna, local e regional, e considerar o potencial de agregar votos fora do partido”, observa.
No Cidadania, Thessing vai a federal
Após perder, no ano passado, a vaga que ocupava desde 1993 na Câmara de Santa Cruz na primeira eleição disputada pelo Cidadania, o veterano Ari Thessing se prepara para concorrer pela quarta vez a deputado federal – as três primeiras foram em 1998, 2002 e 2006 e depois concorreu à Assembleia em 2010, 2014 e 2018. Atualmente sem cargo, Thessing vai se integrar a uma estratégia estadual da legenda: em função da proibição das coligações e para evitar o risco de cair na cláusula de barreira, o Cidadania busca nomes fortes em todas as regiões para obter uma nominata de peso a federal, com a atual deputada estadual Any Ortiz à frente. Conforme Thessing, o partido não terá candidato a deputado estadual em nível local.
O QUE PODE MUDAR NA LEI ELEITORAL
No início de abril, a Câmara dos Deputados criou uma comissão especial para tratar de uma possível reforma eleitoral. Se aprovadas até outubro, as mudanças poderão valer já para a eleição de 2022. Confira o que está em discussão.
Distritão
Atualmente, deputados federais, deputados estaduais e vereadores são eleitos pelo modelo proporcional, em que a quantidade de votos individuais de um candidato não garante a eleição, já que as vagas são preenchidas de acordo com a votação obtida pelo partido ou coligação. Com o chamado “distritão”, a eleição passa a ser majoritária, ou seja, seriam eleitos os candidatos mais votados, independentemente da votação do partido. Esse sistema já foi rejeitado pela Câmara em duas oportunidades, em 2015 e 2017.
Cláusula de barreira
Aprovada em 2017, a regra estabelece que os partidos devem obter um número mínimo de votos para terem acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda em TV e rádio. Algumas correntes no Congresso defendem que a norma seja modificada.
LEIA MAIS: Amvarp defende adiamento das eleições para 2022
Publicidade