O Griô é um guardião da memória da história oral de um povo ou de uma comunidade. E, como Mestre Griô, o escritor, jornalista, produtor cultural e ativista de movimentos sociais João Carlos Agostinho Prudêncio percorre o Brasil, pesquisando e divulgando conhecimento. Seu trabalho mais recente foi o livro Vivências do negro contemporâneo: a mão afro-brasileira na construção do patrimônio imaterial do Rio Grande do Sul.
Nessa quarta e quinta-feira, ele esteve em Santa Cruz do Sul e em Rio Pardo para divulgação do livro e também para trabalhar em seu próximo projeto. Este vai tratar sobre a história do município de Rio Pardo, sua cidade natal. Mestre Prudêncio deixou a região nos anos 1960, quando foi morar em Porto Alegre, e em 1973 mudou-se para a capital carioca. Atualmente vive em Resende (RJ). “Estou revisitando a região para editar uma obra da história dos meus ancestrais de etnia negra e das demais etnias que povoaram nosso Estado.”
No trabalho Vivências do negro contemporâneo, o autor fala através do jornalismo, da literatura e das artes plásticas para criar novos paradigmas para a igualdade racial. A obra é resultado de ações culturais partilhadas em Rodas de Troca de Saberes e Fazeres da ONG Movimentação, em parceria com a Secretaria Estadual de Cultura, e também traz vivências de Mestre Prudêncio. “O livro traz a expressão das minhas caminhadas Griô pelo Brasil e as narrativas de outros mestres e mestras do Estado do Rio Grande do Sul”, explica.
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O trabalho conta com um prefácio escrito pela pós-doutora em Química e aprendiz de Griô santa-cruzense Marta Nunes. “O livro é mais um instrumento que a nossa ação social disponibiliza para a sociedade na perspectiva de combate ao racismo”, refere Mestre Prudêncio. A obra foi financiada com recursos públicos e disponibilizada para escolas públicas em versão física, e está disponível em formato PDF para download gratuito no blog da ONG Movimentação e pelo link vivenciasdonegrocontemporaneo.blogspot.com.br.
Novo projeto
Para revisitar sua história em Rio Pardo, Prudêncio decidiu realizar outra obra em livro ou documentário. A pesquisa, que conta com a ajuda da professora Cláudia D’Ávila, iniciou-se em 2019 com visitas ao Centro Regional de Cultura, ao Arquivo Histórico, Cartório de Registros e outros lugares. “Visitamos igrejas, prédios históricos, os rios e redescobrimos a grande riqueza que é Rio Pardo. Principalmente a riqueza imaterial, presente na cultura, nas narrativas e mistérios. Desde 2019 foram vários retornos à cidade, para a nossa pesquisa. A cada vinda conhecemos mais pessoas, que agregam valores nessa imensa teia que vem se formando.”
Um dos aspectos que serão abordados é a diversidade cultural e étnica que é a essência formadora de Rio Pardo. O projeto recebeu o nome de Os Filhos da Terra de Rio Pardo Grande do Sul, e reflete sobre a formação do Estado e o papel fundamental da Cidade Histórica nesse contexto. “Hoje somos um grupo de pesquisadores, produtores culturais, professores, historiadores, mestres e mestras Griôs, músicos, advogados, visionários e idealistas”, frisa. Interessados em colaborar podem entrar em contato pelo e-mail [email protected]
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UMA PERGUNTA
João Carlos Agostinho Prudêncio
Mestre Griô
O senhor também é jornalista. Como vê atualmente a abordagem do racismo nas mídias em geral?
Comecei a minha caminhada no jornalismo em 1968, com a criação do jornal Zero Hora. De lá pra cá, passei pelas grandes empresas de comunicação do centro do País. Eu vejo que pouca coisa mudou com relação à abordagem do racismo na mídia, e, principalmente, à representação negra nos meios de comunicação. De alguma forma, a imprensa reproduz a opinião de uma sociedade racista. Penso que só vamos mudar essa lógica quando nós, negros e negras, assumirmos os lugares de decisões nas empresas de comunicação, assim como nos demais espaços da sociedade.
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