Por volta de 1960, com apenas 7 anos de idade, a Rosane, ainda garotinha, acomodava-se em meio aos cestos de hortaliças sobre uma carroça puxada a boi. Com seu pai, Rude Noy, já falecido, ela saía de Linha Travessa para vender alfaces e beterrabas de porta em porta, na cidade.
Pouco tempo depois, a família adquiriu uma caminhonete Ford 29 e nela foi acoplada uma carroceria. “Aprendi a dirigir com 10 anos de idade lá no interior. Enquanto o meu pai tomava café, eu ligava a caminhonete, porque tinha que deixar esquentar antes de vir para Santa Cruz”, relembra.
Foi nessa realidade que Rosane Niedesberg cultivou o amor por trabalhar com hortifrutigranjeiros. Em 23 de setembro de 1980, por sugestão e iniciativa da então vereadora Sônia Marli Kessler Kist, o funcionamento das feiras rurais foi permitido em Santa Cruz do Sul, e Rosane foi uma das primeiras feirantes a se habilitar para a venda de legumes e verduras.
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“A primeira feira a gente fazia em frente ao pórtico da Oktober, e a gente deixava os produtos nos carros mesmo”, ela recorda. Inicialmente, 28 feirantes estavam inscritos.
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Ainda de acordo com Rosane, duas semanas depois, uma barraca de lona improvisada foi disponibilizada aos feirantes, em frente à Estação Férrea, onde ficou até 1984. Em 1985 houve a inauguração do primeiro pavilhão, a Feira Rural, na Rua Fernando Abott, ao lado de onde hoje existe o Fórum. Também no mesmo ano ocorreu a criação da Associação Santa-Cruzense de Feirantes, a Assafe, e Teobaldo Rauber foi escolhido como primeiro presidente.
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Hoje aos 66 anos, Rosane é vice-presidente da entidade, que atualmente conta com 80 associados e é liderada pelo presidente Carlos Eduardo Waechter. Segundo ele, o apoio do município, por meio da Secretaria de Agricultura e da Emater, é fundamental para os produtores. “Estamos sempre muito bem assistidos. E chegamos aos 40 anos de feira rural muito satisfeitos, porque para os agricultores é muito importante a diversificação da produção”, avalia.
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O secretário municipal de Agricultura, Tiago Staub, ressalta a importância dessa atividade. “As feiras rurais fazem parte da história de Santa Cruz do Sul. São quatro décadas de produção de alimentos de qualidade para a comunidade. Elas têm função importante na cooperação entre os agricultores e consumidores. As feiras também têm uma função social pela inclusão dos agricultores em um canal importante de comercialização”, ressalta o titular da pasta.
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Ainda de acordo com Staub, a Comissão de Regulamentação das Feiras Rurais coordena o trabalho da Assafe e dá suporte aos produtores. Ela é formada por representantes da Secretaria de Agricultura, Emater/Ascar, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Associação Santa-Cruzense dos Feirantes e Afubra.
Os 80 produtores associados estão distribuídos em sete feiras na cidade: Feira do Parque da Oktoberfest, Central, Arroio Grande, Senai, Esmeralda, Independência e Feira Orgânica Santo Inácio.
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História de amor
Por muito tempo, Patrícia e Fabrício só se conheciam através da troca de olhares, nas chegadas e partidas em dia de feira. Durante anos foi assim, ela na banca da família Nichterwitz e ele na Beckenkamp. Mas há uma década, ele com 13 e ela com 12 anos, tiveram a primeira aproximação por conta do aniversário de 30 anos das feiras rurais. “Foi uma festa de comemoração dos associados, e então começamos a conversar”, conta Patrícia.
Dois anos depois iniciou-se o namoro. Hoje os jovens feirantes, ela com 22 anos e ele com 23, fazem planos. “Vamos começar a construir a nossa casa e queremos continuar na produção de hortaliças. É isso que sempre amamos fazer”, finaliza ela.
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Cliente há quatro décadas
Aos 84 anos, seu Ênio Wolf (foto) estaciona seu veículo bem próximo da Feira Central. Geralmente é no meio da tarde. E lá se vão mais de 40 anos em que os olhos claros e ávidos de seu Ênio chegam nas bancas para escolher alfaces e brócolis. “Não preciso de óculos, só uso para leitura mesmo”, brinca.
No pavilhão da Rua Fernando Abott, ao lado do Fórum, todos o conhecem. “Ele é um dos nossos clientes mais antigos. Compra um pouco de cada produtor, e todo mundo sabe quem é ele”, diz o feirante Danilo Hentschke, que conhece Ênio há quatro décadas.
Casado há 60 anos com dona Inge, Ênio recorda-se dos primeiros tempos em que o casal adquiria hortaliças na primeira feira improvisada do Centro. “Lembro de quando a feira era numa barraca de lona, ali na Estação Férrea”, conta. “E continuo comprando até hoje, porque sei que os produtos desses agricultores são de qualidade.”
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