Em meio às incertezas que a Covid-19 provoca ao redor do mundo e às dificuldades impostas pela estiagem prolongada no Rio Grande do Sul, os diferentes segmentos da atividade econômica têm projeções e alternativas para minimizar os efeitos da pandemia na saúde financeira de empresas e pessoas físicas.
A Gazeta do Sul conversou com economistas, lideranças e representantes das forças econômicas na região e selecionou os cinco passos que empresas, entidades, empreendedores e trabalhadores terão que dar, a partir de agora, na ação para virar o jogo e vencer o novo coronavírus.
O consumo irá aquecer a indústria
Para o vice-presidente regional da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Flávio Haas, a retomada da atividade econômica – com motores da indústria a pleno vapor – passa pelo aumento do consumo das famílias. O dirigente acredita que a retomada do apetite de compra fará com que a atividade industrial aqueça novamente. “Ainda teremos uns 60 ou 90 dias com reflexos negativos desta pandemia. A retomada deverá começar após este período”, projetou o empresário.
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Haas, que atua na fabricação de brinquedos, explica que as empresas precisarão atuar de forma muito consciente na gestão financeira de seus negócios para manter o fôlego nos próximos meses. Efeito inegável da paralisação da economia entre o fim do mês de março e início de abril, a desaceleração da produção e do consumo imprime consequências diretas na produção. “Estamos esperando o auxílio de crédito para viabilizar a manutenção de empregos e permitir a retomada dos processos fabris das empresas”, disse.
Para a indústria, a movimentação do coronavírus durante o mês de maio deve ser decisiva para que sejam traçadas as estratégias econômicas da indústria. “Estamos lidando com uma crise que atinge de forma diferente cada consumidor e cada empresa. É uma situação delicadíssima, que no caso da indústria dependerá da volta da capacidade de consumo”, complementou Haas.
Dia das Mães deve ajudar o comércio
Com o fechamento das lojas, por conta da pandemia do coronavírus, a verdade é que a funcionalidade deste sistema econômico foi quebrada, gerando um efeito em cadeia que acabou comprometendo negativamente praticamente todas as atividades produtivas, com reflexo na empregabilidade.
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O presidente da Junta Governativa da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS), o empresário santa-cruzense Márcio Martins, acredita que o Dia das Mães, comemorado no segundo domingo de maio, poderá acenar como uma recuperação da atividade no setor. “Especialmente no Rio Grande do Sul, a retomada tem fortes chances de ser liderada pelas lojas de artigos do vestuário, dada a aproximação do inverno e a alta sazonal de consumo neste ramo, em função da comemoração do Dia das Mães”, exemplificou.
O dirigente aposta ainda que os demais ramos do varejo tendem a seguir uma lógica similar de recuperação. “Evidentemente, aqueles que atuarem mais proativamente na atração de clientes, via promoções, liquidações e outras medidas de marketing, estarão mais próximos de reconquistar os patamares de vendas anteriores à crise causada pela pandemia.” O varejo gaúcho projeta fechar o último quadrimestre do ano com queda de 5%.
Do campo surgirá a rápida reação à crise
O agronegócio é hoje uma das principais atividades gaúchas. Indiferente à pandemia da Covid-19, os prejuízos acumulados do setor são ligados à forte estiagem que atinge o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado. A próxima safra de verão, que será preparada no segundo semestre deste ano, terá a força de movimentar a atividade econômica do Estado.
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A projeção é assinada pelo economista-chefe da Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz. “A partir do primeiro semestre de 2021, havendo condições climáticas favoráveis, o agronegócio retoma o patamar pré-estiagem, compossibilidade de supersafra de grãos”, explicou.
Luz conta que o agronegócio tem a capacidade de se recompor rapidamente, pela característica da atividade no campo. “Diferente dos demais setores, a baixa na nossa atividade está relacionada com o clima, em situações que já foram vividas no Estado. Os ciclos de grandes estiagens são de sete a de anos, que em outros momentos também foram superados”, avaliou o economista.
A atividade rural tem na composição da economia do Estado um papel de destaque, segundo o economista-chefe da Farsul. A riqueza gerada no campo faz o dinheiro circular com o produtor, que movimenta as cadeias de serviço e comércio, que, por sua vez, impulsiona a indústria a produzir mais. “É um segmento que tem um papel muito forte e que o restante do Brasil também terá grande relevância”, disse da Luz.
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Nos supermercados, crescimento virá em 2021
O desemprego gerado com a crise econômica da pandemia afetará o setor supermercadista no Rio Grande do Sul. A euforia de compras gerada no início do período de isolamento social passa agora à aquisição daquilo que é essencial, reduzindo parte do volume de vendas das lojas.
Assim como os demais segmentos do varejo, supermercados terão que se reinventar, segurar preços e oportunizar o consumo para manterem-se economicamente em crescimento até o fim deste ano. O setor aposta em uma retomada e em novos investimentos já no próximo ano.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios (Sindigêneros) dos Vales do Rio Pardo e Taquari, Celso Müller, revela que o setor manteve-se imune aos efeitos nocivos da crise do coronavírus. Mesmo sem fechar as portas durante o isolamento social e estando entre os produtos de necessidade básica de consumo, encher o carrinho de supermercado é uma ação que depende de emprego e renda. “De certa forma todos irão sentir os impactos da crise. Nosso setor irá contabilizar estes efeitos no segundo semestre deste ano”, confirmou o empresário.
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A retomada do consumo e da indústria deverão ajudar também a dar um novo gás ao setor entre o fim do primeiro semestre e o início da segunda metade do ano que vem. “A ampliação das vendas vem junto da confiança no consumo. Para isso, teremos que enfrentar o desemprego e proporcionar as condições para este crescimento”, destacou Müller.
Setor imobiliário é considerado como essencial
Se a alimentação torna-se um consumo essencial às pessoas, independente da situação econômica e financeira de crise ou de crescimento, a área da habitação igualmente é um setor essencial. O empresário santa-cruzense Roque Dick explica que com ou sem pandemia, todos precisam continuar morando. “Mais do que nunca necessita-se de um lugar seguro, de uma casa, para que as pessoas possam fazer o isolamento e se protegerem contra este vírus”, ressaltou.
Dick, que atua no segmento de imóveis nas áreas de locação e venda, explica, também, que mesmo com a incerteza do mercado quem investe
em imóvel sempre faz um bom negócio. “Este é um bom momento para o investidor. Inevitavelmente um ou outro imóvel pode até baixar de
preço e a compra para moradia ou investimento é recomendada”, disse.
Mesmo que os hábitos de consumo mudem após a pandemia, o empresário conta que no segmento imobiliário, diferente do comércio de bens e serviços, as tendências são mais demoradas. Uma nova onda de consumo, por exemplo, impacta com um espaço maior de tempo, permitindo ao empreendedor do ramo a possibilidade de adequação de produtos e serviços para atender ao desejo do cliente.
O empresário conta que em tempos de crise, o empreendedor precisa mentalizar a palavra, retirando a letra “s” da grafia. “Este é o momento de criar, de continuar investindo na manutenção dos serviços, na qualificação dos profissionais, pois isto tudo faz parte da estratégia de mercado.”
Pandemia irá prorrogar safra na indústria
O tabaco é a principal commoditie da região. Exportado em folha, processado ou transformado em cigarro, o produto é um dos grandes pilares da economia. No primeiro trimestre do ano, a exportação do tabaco seguia dentro da normalidade.
O presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), Iro Schünke, revela que nos primeiros três meses do ano o total exportado da Região Sul alcançou o patamar de 103.309 toneladas, que, convertidas em moeda, somaram US$ 336,1 milhões embarcados para fora do Brasil. “Este valor é mais baixo do que o do primeiro trimestre do ano passado. Porém, em 2019 houve um embarque maior, com parte da comercialização do ano anterior”, analisou o empresário.
Schünke explica que a expectativa é que a atividade mantenha-se dentro do patamar esperado para o ano. “A parada, que não foi igual em todas as empresas, mas representou uma pausa de duas semanas, poderá, no nosso setor, representar um aumento no tempo da safra. Porém, acreditamos que não teremos maiores problemas com a venda do tabaco.
”Segundo o presidente do Sinditabaco, a época em que se acentuam as negociações do tabaco está entre o fim do inverno e o início da primavera. Entre os meses de agosto e setembro é que ocorre a maior mobilização internacional do setor.
“Se não existirem problemas relacionados à logística, quanto à disponibilidade de navios e contêineres, não deveremos ter problemas que possam comprometer a atividade econômica do setor”, projetou Shünke. Isolada a pandemia, a economia do tabaco deve seguir dentro do que se esperava antes da chegada da Covid-19.
Varejo reduziu 19% durante o isolamento
De acordo com a Secretaria Estadual de Fazenda, entre 16 de março – dia em que começaram as primeiras medidas de isolamento social – e 24 de abril, o volume de notas fiscais eletrônicas emitidas ao consumidor no Rio Grande do Sul caiu 19% nas vendas médias diárias do varejo, na comparação como mesmo período do ano passado.
A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (FecomércioRS), Patrícia Palermo, conta que enquanto alguns segmentos registraram uma queda significativa, como comércio de vestuário e calçados, que reduziu em mais de 70% o faturamento, produtos de higiene, alimentação e medicamentos equilibraram a conta, com aumento nas vendas. “A gente precisa considerar que nesta crise uma parte significativa das empresas pequenas lutará para sobreviver. Os que retornarem, voltarão muito frágeis, com imensas dificuldades”, ponderou.
Patrícia explica que é dever do segmento pensar alternativas que primem pela preservação da vida, mas que deem condições de viabilizar a volta do consumo para movimentar a economia. “A Fecomércio-RS não tem medido esforços para criar alternativas que conciliem a preservação da vida e a manutenção dos empregos. A gente acredita que quando tudo ganhar mais ritmo, não teremos uma situação igual ao início do mês de março, voltaremos diferentes. Precisamos fazer com que todos sintam-se seguros para retornar ao trabalho, para a volta ao consumo”, revelou a economista. Segundo ela, o Estado não pode perder a esperança na vida e na possibilidade de continuar em suas atividades de trabalho e consumo, sem medo.
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