Alessandra Steffens Bartz
Psicóloga
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Os adolescentes encantam, surpreendem, questionam, afrontam. Talvez essa seja a fase do desenvolvimento mais temida pelos pais, que seguidamente sofrem por antecipação pensando no pior possível. Amedrontadora e revolucionária, essa etapa é uma verdadeira montanha-russa de sentimentos, mudanças no corpo, na voz, na pelagem, o abandono do que pertence à infância, a valorização dos amigos. Então, se estamos alarmados desde a chegada da pandemia, imaginem como estão os adolescentes cujas emoções por natureza sobem, descem, fazem curvas perigosas.
Nossos adolescentes podem estar se sentindo em pandemônio. Não devem sair e socializar, encontrar seus amigos, fazer folia, dar risadas juntos. Queixam-se muito da escola enquanto instituição do aprender, mas agora dariam tudo para retornar à querida sala de aula. Alguns estão debruçados muitas horas sobre atividades escolares e videoaulas. Mas e os adolescentes que já decretavam não gostar de estudar? Lembremos que a escola nem sempre consegue concorrer com outros interesses adolescentes (amigos, namoros, músicas, astros do esporte ou de grupos musicais). E agora? O ensino a distância é uma prática possível, contudo requer maior autonomia e disciplina, ingredientes ainda em desenvolvimento em muitos jovens. Empurrar com a barriga só aumenta o problema, que pode virar uma bola de neve. Socorram os adolescentes!
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Lidar com jovens adolescentes implica saber que eles precisam fazer movimentos de afastamento, para a construção da identidade pessoal, mas apreciam proximidade com respeito. Ou seja, abraços, mas não em público, liberdade vigiada discretamente, bater na porta do seu quarto (o mundo adolescente). E agora podem precisar de supervisão e orientação para as lidas escolares. Aqueles jovens que estão conseguindo vencer o desafio por conta própria merecem elogios e incentivos. Quem está perdido precisa de apoio. Sentem juntos, escutem um ao outro, construam uma rotina escolhendo o melhor momento para as atividades escolares. Se seu adolescente não rende pela manhã, permitam que faça as tarefas em outro horário, mas que as cumpra. Acompanhem o andamento das atividades, conversem sobre os temas de pesquisa. E não deixem de passar os olhos no que foi feito, atentando a detalhes que possam fomentar a validação das ações positivas do jovem.
Apesar de sabermos que temos dois ouvidos e uma boca, adolescentes podem parecer ter duas bocas e meio ouvido. Precisam falar muito sobre o que pensam, sonham, criticam, e nem sempre querem escutar. Defendem ferrenhamente suas causas (alguns levantaram a bandeira da prevenção da Covid-19 servindo de exemplo a adultos pouco conscientes), querem mudar e revolucionar o mundo. Para isso, questionam o que está posto: a ordem, o certo, a religião, a política, a desigualdade social. Pais, ouçam sem alarde e não entrem numa queda de braço. Amanhã ou depois o discurso pode ter mudado em alguns aspectos. E mais adiante talvez tenha se transformado em outra fala. Vamos apreciar e reconhecer que os jovens atualizam a família e a ensinam e ter mais flexibilidade para o novo.
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Além disso, o contato com os amigos, tão importante nessa etapa, precisa ser mantido de outra forma. Adolescentes são mestres em tecnologia e tendem a ser muito criativos, exploradores. Incentivem a encontrar jogos online em grupo, a assistir filmes usando o recurso cada um na sua casa, a usar e abusar das videochamadas e das conversas por mensagem. E preste atenção se seu filho estiver muito calado, triste, dormindo demais (além do esperado para um adolescente), mais recluso em seu canto. Os adolescentes estão estressados e entediados. Alguns, em particular, podem ainda estar depressivos, excessivamente ansiosos, com pensamentos suicidas. Se nós, adultos, estamos precisando buscar forças do fundo do baú, lembremos que adolescentes são vulneráveis, seres em formação, que necessitam ser olhados com atenção.
Aproveitem o conviver por mais tempo com a família para fortalecer a união e o envolvimento de todos em diversas atividades. Desde a aplicação do lema “todos sujam, todos limpam”, até a pipoca para o filme em família, receitas reinventadas por pai e filha, resgate das fotos dos filhos pequenos, montagem de um mural de fotos atuais, ou até mesmo a releitura do jogo de tabuleiro que sobrou da infância perdida. Descubra quais são os interesses de cada filho. Seu adolescente pode ser mais tímido, de poucas palavras ou até pacato. Também pode ser agitado, explosivo, crítico. Cada um se assemelha à sua família… Lembram da história de que pé de laranja não dá limão? Recorde do seu tempo para aguçar a empatia e se colocar no lugar dos jovens. Mas não use seu tempo como modelo. Vivemos em um outro contexto de vida e seu filho quer falar sobre fatos atuais, onde se sinta parte.
Acolham, escutem, apoiem, compreendam; equilibrem afeto e limites. E mais: educar é uma tarefa nobre, que requer informação. Temos muito conhecimento sobre a adolescência e seus desafios disponível em livros, vídeos, sites. Trocas com outros pais são outra boa pedida: apoiam e aliviam. E tenham muita paciência com essa fase linda e intensa, que talvez tire o tapete sob seus pés, não necessariamente para o mal. Pode ser para uma mudança boa, mais adaptativa. Absorva do seu filho adolescente o melhor suco, a força para lutar incansavelmente, a esperança por um mundo melhor, e o ajude a aliviar seu pandemônio.
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