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Nas sacadas, ar puro; nas ruas, menos trânsito e acidentes

Foto: Alencar da Rosa

Desde o dia 19 de março, tudo mudou. O Brasil está diferente, o Estado parece outro. As vidas se adaptaram. O movimento nas estradas caiu, os passeios encurtaram – da sala para o quarto, um pulo na cozinha, e por aí vai. Não só isso: com o baixo movimento, até o ar está diferente.

Tudo aquilo que se tinha antes, não nos afeta mais. A corrida interminável dos ponteiros que se encontram; o despertar do relógio às 5 horas; a água correndo no corpo, trazendo novas inspirações; o café forte, companheiro fiel, inseparável, necessário, capaz de motivar e impulsionar; a garotada pulando pronta, alguns amassados, outros só querendo mais cinco minutos de sono.

Sem comércio, escolas e indústria ficou-se só com o essencial, os serviços cruciais para a manutenção da ordem. Com todos em casa, as buzinas e o burburinho perderam o tom e deram espaço ao silêncio ensurdecedor de ruas vazias, menos poluídas, que encontram o canto de pássaros aninhados na copa das mais belas árvores.

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Em 11 dias, poluição reduz pela metade em Santa Cruz

Embora não exista nenhum instituto especializado na coleta de dados e leitura da qualidade do ar na região, as imagens de satélite mostram que o índice de poluentes diluídos no ar que se respira caiu à metade em 11 dias.
O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec-Inpe) monitora desde 2003 o resultado, na atmosfera, de queimadas que ocorrem na América do Sul. O Sistema Brasileiro Regional de Modelagem Atmosférica, cuja sigla em inglês é Brams, produziu as leituras que comprovam que o ar está mais puro sobre Santa Cruz do Sul.

O Brams mede a quantidade de partículas de monóxido de carbono na atmosfera. Para estabelecer a qualidade do ar existe uma escala que quantifica o número de partículas de poluentes por bilhão de moléculas de ar. A medição vai de 100 a 3.000, na qual 100 é o equivalente ao ar puro e limpo e 3.000, ao ar muito poluído.

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A Gazeta do Sul analisou as imagens registradas nos dias 20 e 31 de março. Na primeira amostra, a atividade industrial e comercial ainda estava ativa, com pequenas restrições de mobilidade, como o fechamento de escolas e a proibição de eventos públicos. Naquele dia, a medição de monóxido de carbono na atmosfera sobre o céu de Santa Cruz era de 250 partículas por bilhão (ppb) de moléculas no ar. Passados 11 dias, em 31 de março, a mesma leitura revelava que a qualidade do ar na região estava em 125 ppb, próximo da classificação indicada como “ar puro”, que é de é 100 ppb.

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Para o coração
O pneumologista santa-cruzense Carlos Eurico Pereira explicou que respirar um ar limpo e menos carregado de poluentes faz bem para a saúde geral. A terapia que, no passado, ajudava a curar doentes de pneumonia e da própria gripe espanhola – respirar ar puro – é indicada também para o bom funcionamento de outros órgãos.

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“Existem estudos científicos que comprovam que quando o ar está muito poluído, além de doenças respiratórias, ocorrem infartos e problemas cardíacos”, disse o médico. Pereira salientou que a presença de mais oxigênio contribui de forma positiva para a saúde.

Já no que se refere à saúde dos pulmões, inspirar ar mais puro significa ter menos sintomas de doenças respiratórias. “Para nós, seres humanos, é difícil perceber que o ar está mais limpo e que adoecemos menos, e esta é a medida de avaliação”, exemplificou.

Além de limpar o ar, o período de isolamento social contribuiu para a redução das doenças da época. Nas trocas de temperaturas, comuns no outono, veríamos consultórios e plantões de emergência lotados em tempos de circulação de pessoas liberada, segundo o pneumologista. “Nós temos tido um movimento bem baixo. Apenas pacientes em acompanhamento e consultas de rotina têm vindo ao consultório. Ficar em casa tem reduzido o número de doentes”, complementou Pereira.

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“Achei que só eu tinha percebido que estava melhor”
Para cuidar da saúde da Olívia Maria, a Shih-tzu mini de Marisa Xavier, moradora do Centro de Santa Cruz do Sul, a designer de moda fechou seu estúdio de criação. A “filha de pelos” é cardiopata, precisa de cuidados especiais e, ainda, respirar ar puro todos os dias.

Marisa contou que mora em uma cobertura na Marechal Floriano e que havia percebido a melhora em dois problemas que muito lhe incomodavam: a poluição sonora, trazida pelos carros e pela circulação de gente nas calçadas, tanto de dia quanto de noite, e a qualidade do ar. “Foi a primeira vez que, em um ano e meio que moro neste apartamento, tive uma paz muito grande, podendo respirar melhor. Não tinha me dado conta que poderia ser a qualidade do ar”, disse, surpresa com o resultado da medição.

Marisa explicou que procura sair todos os dias para passear com Olívia Maria. Fora isso, ambas ficam em isolamento, acompanham a vida na cidade do alto, respeitando as regras de isolamento social para o controle da pandemia do coronavírus. Segundo a designer, tanto ela quanto a Shih-tzu mini Olívia Maria são “termômetros” da poluição do ar. “Nós temos rinite. Todo o ar que vem com poluição, com aquela poeira preta que às vezes paira no céu, nos provoca problemas de respiração. Por isso estamos tão bem, não é Olívia?”, indagou.

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Depois de saber da medição do ar mais puro, Marisa entendeu porque a piscina do apartamento também está mais limpa. “Até me sinto culpada por estar tão bem em meio a todo este problema. Para mim, esta parada para o isolamento social tem feito muito bem.”

Olívia Maria e sua humana, Marisa: ar puro bom para quem tem problema respiratório

Carros nas ruas
No trânsito, carros, ônibus e caminhões vêm e vão, todos querendo chegar primeiro. Faltam lugares no coletivo, para alguns faltam sorrisos, que se perdem em um emaranhado de braços, mochilas e pernas. Era assim que o dia começava em Santa Cruz do Sul. Mas com todos em casa, a rotina de quem ainda sai às ruas para trabalhar ou buscar alimentos nos supermercados está diferente.

De acordo com o 23º Batalhão de Polícia Militar (23º BPM), os acidentes no perímetro urbano caíram 36% em comparação com o mesmo período do ano passado. Em março de 2020, a Brigada Militar atendeu 99 acidentes; desses, 39 resultaram em lesões corporais e 59 apenas em danos materiais. Uma pessoa morreu. Em 2019, estes números foram maiores – 156 colisões, sendo que 47 resultaram em lesões corporais, 108 tiveram danos materiais e ocorreu uma morte.

O tenente-coronel e comandante do 23º Batalhão, Giovani Paim Moresco, comentou que existem 94.051 veículos registrados em Santa Cruz do Sul, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito. Com o fechamento de escolas, comércio e serviços em geral diminuiu em aproximadamente um terço a circulação de veículos nas ruas da cidade. “A própria comunidade santa-cruzense está atenta à postura dos motoristas ao volante e vem trazendo ao conhecimento das autoridades o cometimento de infrações de trânsito, como, por exemplo, o uso do celular ao volante”, ressaltou. “Isso resulta no aumento da fiscalização, fazendo com que os motoristas fiquem atentos ao trânsito, contribuindo também para a diminuição dos acidentes.”

O comandante ainda reforçou que, mesmo com as restrições da saúde, a polícia continua com seu efetivo nas ruas. “A Brigada Militar mantém o viés forte de suas ações de polícia ostensiva voltada à segurança pública, preservando a ordem pública, a tranquilidade e a paz social”, destacou.

Tráfego de veículos nas estradas reduziu 36% desde que começou o isolamento social

Menos acidentes, menos mortos e pedágios parados

Se no perímetro urbano o movimento diminuiu, nas estradas a queda foi ainda maior. Conforme relatos de policiais do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), a redução no tráfego foi gradual desde o início da manhã do primeiro fim de semana de decreto, em 22 de março. Naquela ocasião, o trânsito que ainda havia era de caminhões e carros de passeio, que chegou a ser intenso pela manhã, mas ao longo da tarde ficou abaixo da média para o dia. Dali em diante, só caiu. Atualmente, são vistos nas rodovias caminhões para o escoamento da safra e o abastecimento de supermercados, ônibus com capacidade reduzida e raros carros.

Em comparativo com os índices de acidentabilidade do CRBM neste mesmo período do ano passado, nove acidentes haviam sido registrados ao longo das rodovias de abrangência da entidade, que vai de Barros Cassal a Vale Verde e de Venâncio Aires a Candelária. De acordo com os índices, 17 veículos se envolveram em colisões, 11 pessoas ficaram feridas e três morreram.

Em março de 2020, o número caiu mais da metade. Foram quatro acidentes, sendo um antes do decreto, em 16 de março. Conforme dados do monitoramento do Comando Rodoviário, oito veículos estiveram envolvidos e três pessoas ficaram feridas. Não foi registrada nenhuma morte.

O pouco trânsito que tem resguardado vidas é o mesmo que afeta os pedágios. A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), que administra as cancelas na região, mantém em seu site um acompanhamento em tempo real do tráfego. No dia 22 de março, o pedágio em Venâncio Aires, no quilômetro 86 da RSC–287, registrava dois veículos por minuto. Já no quilômetro 131, em Candelária, era de apenas um automóvel por minuto.

Na tarde dessa sexta-feira, em Candelária, só um veículo por minuto passava nos dois sentidos. Em Venâncio Aires, a média era de dois no sentido Santa Cruz do Sul–Tabaí e de apenas um para quem vinha ao Vale do Rio Pardo.

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