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Quebra de padrões

Dia da Mulher: libertas dos rótulos

Crescendo em uma sociedade patriarcal, as mulheres são colocadas sob inúmeras pressões estéticas e comportamentais. Existe lá fora um modelo de mulher perfeita, que não leva em consideração a pluralidade de aparências, sentimentos e sensações de seres que podem ser tão diferentes. Na era das redes sociais, fotos editadas, com filtros, e a imagem de vidas perfeitas implicam novas pressões. Fugir do padrão não é fácil, exige um longo processo de autoconhecimento e descobertas. Mas aquelas que conseguem escapar às amarras destes rótulos carregam o poder de ser e se sentir mais elas mesmas. Cinco lindas mulheres, muito diferentes entre si e que se libertaram de padrões contam um pouco sobre o que aprenderam.

Thaís

Uma mulher negra, grande, com cabelos cacheados e muito samba no pé, Thaís Severo encantou como rainha do Carnaval de Rio Pardo. A jovem de 23 anos, que trabalha na área da segurança privada, conta que sua relação com a autoestima não era tão boa há alguns anos. “Eu não me aceitava do jeito que era, por ser gordinha. Fui trabalhando isso comigo mesma e hoje me sinto mais empoderada, mais bonita, e não sinto vergonha do meu corpo. A gente vai se cuidando com mais carinho”, conta. O processo, que iniciou com uma mudança nas roupas, evitando usar peças largas, resultou em uma nova rotina de cuidados também com os cachos. “Eu amo o meu cabelo”, declara. Depois de se arrumar mais, logo ela passou a se sentir melhor, e isto fez toda a diferença.

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Durante o Carnaval de 2020, Thaís não foi apenas uma embaixadora da festa: sentiu-se uma representante das mulheres da vida real. “Muitas mulheres me pararam e me agradeceram por ter a coragem de tentar quebrar padrões. Fico muito feliz pela repercussão que teve.” E assim, a jovem que nunca antes havia se sentido representada pelas cortes do Carnaval, por não ver mulheres como ela na avenida, tornou-se o exemplo de beleza e confiança de que tantas outras precisavam.

Iza

A arte na pele chama a atenção imediatamente para quem conhece Iza Velozo, de 31 anos. Gerente de um estúdio de tatuagem, ela já tem mais de 20 desenhos pelo corpo. O número exato ela não sabe, mas lembra que a primeira foi aos 19 anos. Cada um dos desenhos representa um momento marcante em sua vida. “Faço para mim, para me sentir bem com elas. Escolhi elas por algum significado, e foram importantes.” Apesar de ter crescido em uma família que era até contra a arte, para o filho Marvin, de 9 anos, as tatuagens são muito naturais. “Ele não vê com outros olhos, não tem preconceitos”, conta. Mesmo inserida no mundo das tatuagens, ela acaba quebrando padrões, já que muitas pessoas consideram que apenas desenhos pequenos e delicados são “femininos”.

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Apesar de achar que Santa Cruz é uma cidade com pessoas fechadas, em suas viagens ela se deparou com o preconceito. No ano passado, na África do Sul, e anteriormente na Europa, Iza notou olhares diferentes. “O preconceito existe e precisamos falar sobre isso, mas no momento em que tu olhas para o outro lado vês o que estão falando de bom, consegues abrir a cabeça das pessoas.” Em situações em que pensou que poderia ser julgada por conta das tattoos, ela acabou se surpreendendo ao descobrir que as pessoas a achavam ainda mais bonita por ostentar suas tatuagens.

Carina

Há quatro anos atrás, Carina Thumé Soares teve uma mudança radical de look. O cabelo curto não era sua escolha, e sim uma consequência do tratamento contra o câncer de mama. “Para mim foi indiferente quando eu soube que ia perder o cabelo. Quando usava a peruca, parecia que não era eu.” A bancária de 39 anos sentiu-se tão bem com o cabelo curto que decidiu torná-lo parte de sua rotina, ressignificando aquilo que poderia ser um lembrete de sua luta contra a doença, mas se tornou um novo começo. A decisão veio acompanhada de comentários do tipo “quando vai deixar o cabelo crescer de novo?”. Entre as mulheres, muitas elogiavam o corte e demonstravam desejo de ter o cabelo curto, mas não o faziam “porque o companheiro não ia gostar.”

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Outra consequência do tratamento foi a necessidade de se afastar por um tempo de uma de suas maiores paixões: a atividade física. “É como se fosse parte de mim, desde os 18 anos é vital. Acho que me sinto mais bonita hoje do que com 20 anos.” Ela conta que se alimenta bem e faz exercícios para uma qualidade de vida, para se sentir mais forte e bem, longe de se sentir uma escrava da academia. Por lá ela já enfrentou comentários negativos, de que mulheres não podem ter muitos músculos, ou braços grandes, mas para ela estas críticas não fazem o menor sentido.

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Djulia

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Cantora, soberana, empreendedora, mãe, esposa, maquiadora e influenciadora digital, Djulia Simon Mello é muitas mulheres em uma. Em 2014 ela se considerava uma mulher bonita, quando participou do Concurso de Soberanas da Oktoberfest, mas foi só no ano seguinte que venceu e se tornou a rainha da Festa da Alegria. De lá pra cá vieram o casamento, a primeira gestação, da filha Isabelle, e alguns meses depois a gravidez do filho Davi. Mesmo com a alegria de estar com os filhos, não se sentia bem. “Estava 15 quilos acima do meu peso, achava que poderia até ter uma depressão porque estava com a autoestima muito baixa.”

Mesmo retomando a rotina aliada à maternidade, ela percebeu que estava mais fragilizada, mais triste, e não gostava do que via no espelho. Com apoio do marido, Djulia buscou parceria com vários profissionais para uma mudança de vida. Compartilhando sua nova fase com seus mais de 13 mil seguidores no Instagram, ela se comprometeu a se cuidar e atingiu seus objetivos. “Sempre fui muito carinhosa, mas com esse aumento da minha autoestima consigo ter muito mais disposição para cuidar da minha família”, conta. Hoje, ela se adaptou a uma rotina corrida, mas não imagina ficar sem os treinos e cuidados com o corpo.

Sandra Richter

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“Eu me cuido, mas não que eu vá mudar meus hábitos para mudar minha aparência”, conta Sandra Richter, professora do Departamento de Ciências e Humanidades e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisc. Aos 65 anos, ela vê que o cuidado consigo mesma sempre foi importante, mas não era seu foco. “Há o cuidado em gostar do que se faz e gostar de estar com outras pessoas. Eu sempre tinha coisas mais interessantes para me dedicar do que a minha aparência.” Com 26 anos, quando os cabelos começaram a ficar brancos, ela não pensou em pintar e abraçou a nova aparência. Seus valores foram passados para os filhos, que aprenderam com a mãe como estar sempre em uma infância, mantendo a inquietação e a curiosidade, independente da idade, sem envelhecer cedo demais. “É muito interessante envelhecer achando que vale a pena”, explica.

“Envelhecer exige muita coragem; tu passas a te conhecer. Em vez de resistir, vá com o fluxo, porque a vida é boa. As pessoas são muito pressionadas pelas imagens que são impostas.” Para a professora, o contato com os alunos de todas as idades ao longo de sua carreira, desde as crianças do ensino fundamental aos doutorandos, pode ter sido uma das razões para que ela veja a vida sob este viés, por ter aprendido, também, com eles.

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Autoestima
“Conhecer nossos sentimentos, nossos medos, nossas vergonhas e nossas potencialidades e saber lidar com tudo isso eleva nossa autoestima, aumenta nossa autoconfiança e nos empodera para sermos nós mesmas”, diz a coach Nadiane Nardi. Para ela, é fundamental que as mulheres se vejam como são para a aceitação e, principalmente, para o desenvolvimento da liderança no âmbito profissional. “Viemos de um mundo culturalmente machista e repressor e em menos de 100 anos conquistamos muitas coisas, mas ainda sentimos resquícios dessa cultura.”

A autoestima é a base para empreender, buscar melhores relacionamentos e ser uma boa mãe, de acordo com a coach de empreendedores Daiane Nascimento. “A gente vem de uma cultura em que o homem é o provedor, mas isso vem se quebrando a passos lentos. O empreender não precisa ser igual; eu defendo o empreendedorismo que a mulher quer, o que é importante para ela.” Para a profissional, ter o próprio negócio permite a elas um maior equilíbrio entre a vida profissional e o tempo livre.

Já para o cabeleireiro Chris Pasqualotto, a missão é ajudar as mulheres a encontrar a autoestima e desenvolver o próprio estilo, com corte e cor ideais, além de orientações para ter um cabelo mais saudável. “Quando decidi me tornar cabeleireiro, eu percebia na época o quanto mulheres passavam por frustrações quando iam em salões de beleza. Mesmo estando de visual novo, elas não se encontravam, parecia que se sentiam com uma outra identidade.” Conforme Chris, o uso excessivo de química, coloração e a exposição a ferramentas de calor, como secadores e chapinha, são combinações agressivas aos fios, mas um diagnóstico correto pode levar a uma solução. A ajuda pode vir da alimentação, uso de produtos corretos e o trabalho de um profissional de confiança.

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