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O lado pessoal

Eliceu Werner Scherer, o incansável cidadão

Foto: Lula Helfer

Eu sou mesmo uma pessoa de muita sorte. Lembro que, antes de me transferir para cá, em maio de 1991, alguns amigos, parentes e tal, que hoje, tenho a certeza, muito pouco também, naquela época, conheciam desta maravilhosa cidade, me alertavam, apreensivos: “Bah, tu não vai te adaptar. Eles são muito frios, sisudos, e nada receptivos com os ‘forasteiros’”. Dá medo, né? Baita incentivo!

Bem, de qualquer forma, nada alteraria em mim o orgulho de ser pretendido pela Gazeta e a curiosidade de ver, constatar in loco, a diferença do “alemão” do Vale do Rio Pardo para o “alemão” do Vale do Sinos. E é aí que entra a minha sorte. Quis o destino que os bons ventos colocassem no meu caminho, logo de cara, como uma das primeiras pessoas que conheci por aqui, o músico, radialista e advogado Eliceu Werner Scherer. “Pô”, pensei na época, “se todo o ‘alemão’ que eu conhecer por aqui for legal assim, daqui não saio mais”. E foi o que aconteceu.

Dr. Scherer – que por sua cultura, feitos e erudição tinha tudo para andar com o nariz apontado para as nuvens – é uma das pessoas mais legais que eu conheço. E que, apesar das suas várias atribuições, encontra sempre tempo para uma conversa amiga, agradável, enriquecedora. Essa semana, eu abusei: cheguei no seu escritório, num belíssimo prédio de três andares erguido aqui perto, na Ernesto Alves, um pouco antes das quatro, e só saí quando já era noite. Justifica-se: vou tentar ser breve, mas Eliceu tem muita – mas muita mesmo – história para contar!

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A começar pela do seu nome, “Eliceu”, que ele acredita ter sido um erro do escrivão: “Não conheço mais ninguém que tenha que passar por isso”, diverte-se, com um humor, aliás, que é uma das suas principais características.

Não me lembro, em todos esses anos, de tê-lo visto taciturno. E motivos, por tudo o que faz e já fez, creio que ele até os teve. Os seus 71 anos (“bem vividos!”, costuma acrescentar) se iniciaram de forma dura, na lavoura em Herveiras, então distrito de Santa Cruz, filho único de Leonardo e Elsida Werner Scherer. Seu Leo também foi filho único, mas em compensação o seu pai, avô de Eliceu, teve 17 irmãos. E ele, Eliceu, tem quatro filhos – Betina, Karina, Ricardo e Henrique – frutos de seu sólido casamento com a dona Léia Úrsula, também um amor de pessoa.

Mas a lavoura não era para ele. Filho de agricultor tinha que aprender a fazer conta. E com 12 anos foi mandado pelo pai para a escola Getúlio Vargas, em Sinimbu. Adeus, caminhãozinho de madeira; adeus, carretinha de rolimã no declive do potreiro. Começava ali uma nova vida. Um ano depois, já craque nas contas, por conta e risco Scherer se tocou, sozinho, para a “cidade grande”. Conseguiu quarto em pensão, matriculou-se no Colégio Santa Cruz, onde estudava, pela manhã, e trabalhava, à tarde, e lograva tempo para vender linguiça e fazer a cobrança das mensalidades dos CTGs. Vida dura!

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Os estudos, antes de optar pelo Direito na Faculdades Integradas, incluem ainda o Ginásio e o Clássico no Ernesto Alves. Depois de dois anos de pensão, os pais vieram para a cidade e a família se reuniu novamente. Com 17 anos fez sua estreia em uma rádio, a Santa Cruz, a convite da “lenda” Ernani Aloísio Iser. “Picado pelo mosquito da latinha”, não parou mais. Na Rádio Gazeta ingressou em 1987 e desde então comanda de forma ininterrupta, sempre aos sábados, das 13 às 14 horas, com a professora Maria Luiza Schuster, o programa Folclore e Tradição. Um fenômeno! De longevidade e audiência.

Sempre foi uma pessoa ligada à cultura germânica – é um dos fundadores do Centro Cultural 25 de Julho (foi presidente duas vezes) – e à música. Teve o seu próprio conjunto musical, o Som Maior, onde atuava como acordeonista, e entre as suas memórias, emociona-se quando lembra do pai saindo a cavalo, com a gaita nas costas, para ir animar um baile, uma quermesse. O jovem Scherer parou porque já não estava mais conseguindo conciliar o trabalho com os estudos. Antes de ingressar na advocacia. ele passou por altos cargos em duas companhias de cigarros e fumo, a Sinimbu e a Santa Cruz.

Aprendeu muito e talvez venha daí o seu tino para administrar tudo – inclusive o tempo – com muita competência e objetividade. Abre os braços: “Sempre sonhei grande. Fomos parceiros dos grandes escritórios de São Paulo”. E sorri: “Hoje estou mais contido”. Mais contido depois de ter sido duas vezes presidente do Hospital Ana Nery, da OAB local, de atuar na diretoria de praticamente todos os grandes clubes da cidade, do seu trabalho ainda voluntário junto à comunidade evangélica, maçonaria (chegou a mestre venerável!) e de assistência a 27 famílias carentes na periferia da cidade por meio de um grupo Kardecista, de espiritismo. “Eu acredito que a gente está aqui para fazer o bem. Nós somos responsáveis pelo nosso próximo. E é um trabalho que me dá muito prazer.”

E mesmo assim, apesar de tudo isso, não deixa de ir cotidianamente aos três andares da Ernesto Alves, onde passa até dez horas de seu dia, depois de uma boa caminhada, e que junto com a esposa, os filhos e a netinha Martina, é a mais absoluta razão de sua vida. Sou ou não sou um sujeito de sorte, por ter amigos assim?

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